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Edmund Hillary é lembrado pelos montanhistas brasileiros pelos trabalhos sociais

Redação Webventure/ Montanhismo

Cadeia de montanhas do Himalaia (foto: Irivan Burda)
Cadeia de montanhas do Himalaia (foto: Irivan Burda)

Faleceu na última quinta-feira (10), Sir Edmund Hillary, primeiro homem a chegar ao cume do Monte Everest, a maior montanha do mundo. O feito aconteceu no dia 29 de maio de 1953, em uma expedição patrocinada pela coroa britânica.

A conquista foi tão importante para a época que rendeu o título de “Sir” da coroa inglesa, para o neozelandês, na época com 34 anos. Com jeito simples e humilde, Hillary não gostava dos títulos que recebeu durante a vida e não se achava merecedor desse tipo de reconhecimento. Seu retrato estampa as notas de cinco dólares da Nova Zelândia.

Em 2007, Hillary sofreu uma queda no Nepal, país que nunca abandonou após a conquista do Everest. Um dos maiores legados deixado pelo montanhista é o companheirismo que teve para com os sherpas, povo que habita a região da base do Everest.

Confira a seguir o relato de Silvério Nery, presidente da Federação de Montanhismo do Estado de São Paulo (Femesp), Helena Coelho, que já realizou diversas expedições ao Everest, e Rodrigo Raineri, um dos mais experientes montanhistas do Brasil, que voltará à montanha mais alta do mundo neste ano.

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    Abaixo, Silvério Nery, presidente da Federação de Montanhismo do Estado de São Paulo (Femesp), elogia a conquista de Edmund Hillary e fala do trabalho social desenvolvido pelo montanhista com o povo sherpa.

    Foi uma vida plena. Ele fez tudo o que tinha para fazer. É uma pessoa que deve ter morrido sem arrependimento, sem ter deixado nada para trás. É um cara que merece todas as homenagens e já estava com uma idade avançada, 88 anos.

    Foi uma vida plena, ele conseguiu fazer muita coisa. Não só a questão da conquista, mas depois ele “adotou” os sherpas, ficou muito tempo vivendo entre eles, incentivou-os a organizarem-se como comunidade, manter a sustentabilidade e a questão de ecologicamente correto. Ele já fazia isso na década de 50/60, incentivando-os a cuidarem de si mesmo.

    Ele trabalhava junto com eles, fazia mutirões, construía casas, hospitais, pontes. A pista do aeroporto de Luclka, foi ele quem incentivou a construir, conseguiu ajuda financeira internacional para tudo isso. Acho que isso é até mais interessante do que a conquista.

    Mistério – Ele era um alpinista de ponta para a época. A questão de ter chegado primeiro ou junto com Tenzing Norgay é um mistério até hoje, porque os dois morreram e ninguém vai saber.

    Não sei se é tão importante o fato de quem chegou primeiro. Possivelmente os dois chegaram muito próximos um do outro. Os sherpas têm uma facilidade adicional, já que são previamente aclimatados, têm um ar extra.

    Os boatos vêm em cima disso, mas ninguém nunca soube o que realmente aconteceu. Mas os dois ficaram amigos. Nunca houve um problema entre eles. Continuaram amigos e o Hillary ia ao Nepal e visitava o Tenzing. Não foi um problema para eles.

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    A montanhista Helena Coelho, que já esteve mais de oito vezes no Everest, lamenta a perda de Hillary e fala da ética no montanhismo, tão defendida pelo neozelandês.

    Ele tem essa coisa do pioneirismo, por ter sido o primeiro no Everest. Mas a importância dele é porque ele continuou na região, com o trabalho social, na área de saúde, educação, através da fundação Hillary, e não só nisso, mas nas condições de vida com aquilo que ele ajudou a fazer, como pontes, energia elétrica, etc.

    Foi um cara que manteve uma presença na região, e isso foi muito importante.

    Agora, com todas essas questões do Everest, que está se tornando ponto turístico, várias pessoas querem chegar ao cume mesmo sem ser montanhistas, ele também estava comentando isso da ética na montanha.

    Muitas vezes a pessoa só vê o cume e não se interessa pelas pessoas que estão ao lado. São capazes de passar por cima de uma pessoa que não está bem na subida para poder chegar ao cume. E ele estava contra isso. É uma perda significativa.

    A conquista é um marco e ele não parou por aí. Ele continuou tendo uma presença no Everest. Todas as melhorias naquela região têm a ver com ele.

    Ele não só chegou ao ponto geográfico mais alto do planeta, mas sim, teve uma participação na vida daquela população.

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    Rodrigo Raineri, que esteve no Everest pela última vez em 2006, comenta a morte de Hillary e fala de outras notórias conquistas.

    O Edmund Hillary foi um exemplo de conquistador e explorador. Naquela época, os pólos já haviam sido conquistados e o Everest era o “terceiro pólo”, o ponto onde o homem gostaria de chegar. Depois foi a Lua, em 1969.

    Hillary foi mais uma peça da história das grandes conquistas, uma pessoa que estava no lugar certo, na hora certa. Estava bem preparado e conseguiu entrar em uma expedição britânica. O sherpa Tenzing Norgay, que o acompanhava, também teve sua importância, já que no ano anterior ele tinha chegado ao acampamento mais alto do colo sul.

    No dia anterior à conquista de Hillary, uma dupla tinha saído do acampamento a 8.500 e foram até o cume sul, voltaram dizendo que era impossível chegar. E, no dia seguinte, foram Hillary e Tenzing e completaram a expedição.

    Acho que é isso que engrandece a conquista. O fato de uma dupla ter ido no dia anterior e falado ‘não dá’, os caras foram no dia seguinte e fizeram, isso enaltece bastante o feito dos dois. Para a época, foi uma baita conquista.

    Legal lembrar do Hillary, mas não da para esquecer outras grandes conquistas no Himalaia, como o Monte Anapurna que, até hoje, é uma montanha pouco escalada devido à sua complexidade.

    Depois da conquista do Everest, Hillary fez um trabalho social muito bonito no Nepal. Construiu e captou recursos para fazer escolas e hospitais, levar um pouco mais de qualidade de vida para à população sherpa. O Hillary trabalhou bastante a parte social na face sul do Everest.

    Sem oxigênio – Virou um ícone mundial pela conquista dele, mas é interessante lembrar que os primeiros a escalar o Everest sem oxigênio, que dependendo do ponto de vista é considerado escalada ‘de verdade’, foram Reinhold Messner e Peter Habeler, em 8 de maio de 1978, 25 anos após a conquista de Hillary.

    Também foi um marco no montanhismo mundial, já os cientistas diziam que era impossível alguém chegar ao cume sem oxigênio.

    De uma maneira geral, a contribuição de Hillary para o montanhismo foi muito boa e também para a população do Nepal.

    É talvez o estilo de vida que muitas pessoas gostariam de ter: fazer grandes conquistas, viver bem e morrer velhinho.

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    O montanhista Silvério Nery, conta como Edmund Hillary e o sherpa Tenzing Norgay chegaram ao cume do Monte Everest, a montanha mais alta do mundo com 8.848 metros. Confira o relato:

    A conquista foi importante e diferente. Na época foi uma espécie de ponto de honra da Inglaterra, eles precisavam fazer isso. Era algo como uma afirmação nacional, tinham que conquistar o Everest de qualquer jeito.

    O interessante é que até 1951, o Clube Alpino Inglês, tinha algumas expedições leves, de pouco equipamento, estilo alpino. Eric Shipton liderou uma expedição ao Everest em 1951, onde fizeram o reconhecimento da rota. Foi a primeira vez que houve uma expedição pelo lado nepalês, pois até então o Nepal era fechado para estrangeiros. Todas as tentativas anteriores tinham sido feitas no lado chinês, pelo Tibet.

    Hillary estava presente na expedição de Shipton, em 51. Foi a expedição que primeiro subiu a cascata de gelo e foi ali que perceberam que dava para fazer a conquista por aquele local.

    Quando foi para fazer a subida definitiva, o governo inglês teve total influência, assim como as tropas militares daquele país. Só que eles descartaram o estilo que o Eric Shipton defendia, pois eles queriam ter certeza que chegariam ao cume. Em 1952, os suíços quase chegaram, e em 1953 era a coroação da Elisabeth II, então tinham que conquistar de qualquer jeito.

    No comando da expedição estava James Hunt, ex-militar, que fez o esquema para conquistar. Levaram muita gente e muitos carregadores.

    O Shipton foi esquecido, ficou chateado, e veio para a América do Sul, escalar na Patagônia. Abriu o caminho, mas não completou, pois tinha um estilo polêmico.

    Foi a última grande exploração no sentido clássico, que levam várias pessoas, animais. O último grande épico da humanidade.

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    Este texto foi escrito por: Thiago Padovanni

    Last modified: janeiro 11, 2008

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