Na hora do almoço todo mundo vai para a cozinha (foto: Arquivo Outward Bound)
O videogame mais moderno? A boneca que parece gente? Alguns pais deixaram de lado essas tradicionais opções de presente para oferecer aos filhos uma experiência ímpar. Eles descobriram que a natureza pode ser uma sala de aula surpreendente e cheia de aventuras também para os menores. Algumas empresas e organizações já trabalham com este público no país – e com sucesso.
Uma delas é a Outward Bound, organização não-governamental criada em 1941, na Inglaterra, e que neste ano começou a atuar no Brasil com crianças e adultos. Além de ensinar, ela permite que os pequenos coloquem em prática o que aprendem. Por trás do contato com a natureza, atividades físicas como caminhadas e técnicas de acampamento, por exemplo, esta ONG tem o objetivo de incentivar o que muita gente acha impossível numa criança ou adolescente: o poder de escolha, a responsabilidade, a liderança. E, de quebra, estimular o trabalho em equipe.
A grande surpresa é que o curso é uma criação das crianças, diz o coordenador de programas, Fábio Raimo de Oliveira. A gente dá segurança, critérios, estabelece o universo em que as coisas podem acontecer e elas é que fazem as escolhas e trabalham duro.
A identificação, assim, é facilitada, já que a sociedade geralmente trata os pequenos como se não pudessem dar um passo sozinhos ou decidir o que fazer. Trabalhando com a faixa de 14 a 17 anos, a Outward Bound inicia seus programas com a fase de aprendizado e, nos dias seguintes, os participantes realizam o bom e velho se virar, sempre supervisionados pelos instrutores.
Cozinhar, armar as barracas, ajudar um companheiro em dificuldade e até mesmo superar o medo do escuro ou de dormir longe dos pais são lições valiosas retiradas da experiência. É interessante ver como eles superam limites porque a primeira reação, quando se encontram no acampamento ou outra atividade outdoor, é: eu não sei fazer isso. Com o tempo, eles se surpreendem com sua própria capacidade, conta Fábio.
A educação de crianças em natureza também é um dos aspectos do trabalho da Uggi, chamada por escolas para levar seus alunos de 11 a 17 anos a experiências em paraísos como a Chapada Diamantina (BA) e até a Patagônia, no extremo da América.
Acreditando no potencial deste público, a empresa está desenvolvendo um jeito inovador de ensinar os jovens a programar e realizar suas próprias viagens, com o Terra Australis. Na filosofia do projeto, a criança e o adolescente estão abertos à experimentação de uma maneira muito mais sensível que o adulto e são profundamente merecedores da oportunidade de aprender a fazer coisas impensáveis para um ser urbano.
Se os filhos ainda não podem participar de programas sozinhos, muitos pais não vêm problemas em viajar junto com eles. A idéia é boa, se tomados cuidados importantes como não descuidar dos pequenos é fácil se perder num ambiente tão aberto e planejar atividades simples mas que distraiam e divirtam as crianças, como caminhadas curtas em trilhas bem demarcadas e conhecidas.
Quando se descobre este tipo de atividade logo cedo, provavelmente se vai querer levar os filhos pelo mesmo caminho, no futuro. A Outward Bound Brasil tem um conselho formado por pessoas que já tiveram este tipo de vivência na infância, alguns até passaram por um curso na OB de algum outro país, e eles incentivam os filhos a fazerem o mesmo, ressalta Fábio.
O grupo a que ele se refere inclui nomes como o do cineasta David Schurmann, da Família Schurmann, que fez curso de eduçação ao ar livre na Austrália e, desde os 10 anos, viajou o mundo pelo mar em companhia dos pais e dos irmãos. Bom exemplo? Então talvez seja tempo de reconsiderar o melhor presente para este ou o próximo Dia das Crianças.
Este texto foi escrito por: Luciana de Oliveira
Last modified: outubro 12, 2001