Chegada das motos de competição e carros da Expedition (categoria de passeio) à Praia do Cassino. (foto: Luciana de Oliveira / www.webventure.com.br)
Eram cinco e meia da tarde quando as primeiras motos começaram a chegar à Praia do Cassino, no Rio Grande (RS), destino da primeira etapa do Rally Rota Sul. O tradicional sol da cidade praieira deu lugar a uma garoa fina e céu cinzento de Sexta-feira Santa. Tudo combinando com as enormes dificuldades encontradas na etapa. Por causa delas, o dia hoje “não tem hora para terminar” e não há previsão para a chegada de todos os veículos nem a divulgação dos resultados.
A areia, predominante na primeira especial, foi a responsável pelo que um piloto resumiu como uma “etapa pauleira”. A organização já havia avisado que este primeiro dia era a marca-registrada do Rally Rota Sul. “Vocês vão ter uma idéia do que é um rali em deserto”, prometia Marcos Ermírio de Moraes, diretor da Dunas Race, empresa organizadora deste evento e também do Rally dos Sertões, onde todo ano há a “especial da areia”.
Mar de carros – “Lembrou bem a Especial 10 Anos, do Sertões 2002”, disse o piloto Marcelo Ackel, o Zebra, chegando à cidade com seu protótipo – durante muito tempo esse foi o único carro de competição a cruzar o pórtico da chegada em Cassino. Pudera. Zebra desistiu de cumprir a etapa. “Preferi retornar e poupar o carro para largar amanhã”, explicou o veterano. Faz sentido: ele quis dizer que muita gente poderá não ter condições de seguir no rali. “Assustou. Tem muita gente que ficou para trás e eu não imagino a que horas vá chegar”, disse, lembrando o que aconteceu no Sertões do ano passado, na Especial 10 Anos.
“Na primeira especial de hoje, a gente olhava do alto e via um mar de carros, só o teto aparecendo, e fazendo sinal para ninguém passar por cima”, descreve Zebra. O piloto lembra que entre as vítimas do dia estão os ponteiros: “o Édio Füchter estourou o motor, o Franco Giaffone – que largou em primeiro – também teve o motor estourado, o Tedesco bateu, o Guiga (Guilherme Spinelli) atolou… tá todo mundo lá para trás”.
Sem GPS – No caso de Juca Bala, primeiro a largar nas Motos, o vilão foi o GPS, instrumento de navegação essencial na primeira especial de hoje. “O meu GPS simplesmente apagou e aí eu tive de esperar os concorrentes que vinham atrás para seguirmos em comboio.
Nem quem conseguiu terminar as duas especiais ficou livre de problemas. “Depois que eu acabei as duas, entrei na balsa para chegar aqui e quando saí dela não consegui mais fazer a moto pegar. Acabou o combustível”, contou André Ribeiro. Ele apareceu em Cassino rebocado pelo irmão Guilherme. “Foi uma prova muito bem desenvolvida, dura. Bastante areia, dunas… uma delícia!”.
Quanto pior, melhor – Para muitos, é assim mesmo: quanto pior, melhor. “A gente em cima da moto está tão feliz que, por mais difícil que seja, o prazer é imenso. Foi um dia longo, bem cansativo, chuva, frio, muita navegação. Mas, graças a Deus, chegamos. Só falta saber o que aconteceu com um dos nossos parceiros de equipe, o Dimas (Mattos). Tive notícia de que ele quebrou no final da segunda especial.”, resumiu Flávio Carvalho, o Iguana. O macacão branco que ele e sua equipe escolheram para encarar a lama do rali continuava imaculado: “É que a chuva lavou!”.
Marcos Moraes, posicionado no pórtico da chegada para receber os pilotos, disse que o objetivo da primeira etapa era esse mesmo: muita dificuldade aos competidores. “Conseguimos fazer uma etapa no mesmo nível do Sertões. Pena que tivemos de cancelar os últimos 30 km da especial, em que eles repetiriam o mesmo trecho de navegação da primeira”, avaliou. A alteração foi feita ontem, quando a Dunas soube que o novo administrador do Ibama no local, que assumiu o cargo na semana passada, havia negado a autorização dada por seu antecessor para que o rali passasse naquele trecho.
O que vem pela frente – Para amanhã, na segunda etapa do Rota Sul, Marcos adianta que o rali passa a ser mais parecido com as etapas tradicionais do Sertões, com estradas sinuosas, em topo de serra, estrada de cascalho. E a navegação por GPS não será mais tão importante, vai ser mais pelo road book. “A preocupação será não errar nas muitas curvas falsas que existirão por ali”, alerta.
Este texto foi escrito por: Luciana de Oliveira / Webventure
Last modified: abril 18, 2003