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Eletricidade: entre a natureza e a tomada

Em 1879, ainda nos tempos do Império de Dom Pedro II, a cidade do Rio de Janeiro se encantou com a primeira “exibição” de uma poderosa energia que iluminou o trecho da estrada de ferro da Central do Brasil. Na cidade de Campos (RJ) em 1883, foi criado o primeiro serviço público de iluminação elétrica da América do Sul, uma maravilha que parecia mágica aos olhos dos moradores do local. O que eles pensariam se pudessem ver esta mesma energia fazendo funcionar televisores, geladeiras, videocassetes, fornos microondas e, até, grandes fábricas?

Estamos acostumados com o conforto desta força, que ilumina as nossas ruas, as nossas casas, faz o banho ficar bem quentinho, além de nos possibilitar conversar com um amigo no computador e assistir a um filme na TV ao mesmo tempo. Não pensamos nela, em como ela é gerada, de onde ela vem, mas aproveitamos, praticamente o tempo todo, as vantagens que ela é capaz de nos oferecer. Para nós, como para os nossos antepassados, a relação com ela é mágica, quase misteriosa.

De repente, porém, começamos a ver nos noticiários matérias sobre as suas fontes e descobrimos que, por incrível que possa parecer, mesmo movendo o que há de mais moderno, ela provém de recursos naturais, que precisam ser renovados e corretamente utilizados. Passamos, meio à contra gosto, a economizar e a sentir como ela nos faz falta.

Neste Aventura Brasil entenda como a energia elétrica é gerada, o que tudo isso tem a ver com proteção ao meio ambiente, o impacto provocado por usinas hidro e termelétricas, outras opções de geração de energia e o seu papel, como cidadão, para ajudar neste processo. Mais do que evitar o apagão, saiba como agir para preservar os recursos naturais do país em que você vive. Confira, a partir de agora, uma viagem energética!

Ouvimos muito falar em energia. A que é gerada dentro do nosso organismo e nos faz levantar todos os dias, as energias positivas que, alguns acreditam, são criadas pelo nosso pensamento, energia eólica, energia solar, energia elétrica. Seja lá qual for, ela serve para produzir um trabalho, possibilitar sua execução, desenvolver uma força. No caso da elétrica, com a qual temos mais contato, trata-se da força necessária para que uma máquina, (como os nossos aparelhos domésticos), possa funcionar.

Ela não surge, porém, de uma outra máquina . É gerada através de fontes naturais renováveis, como a força das águas e dos ventos, sol e biomassa, e não renováveis, que são os combustíveis fósseis como o petróleo. Esses recursos dependem da manipulação do homem para gerar a força que move e ilumina as grandes cidades.

A manipulação, que faz acontecer este verdadeiro fenômeno eletromagnético, acontece através da colocação de grandes bobinas de fio que giram, submetidas a um campo magnético e com um núcleo de ferro em seu interior (e vice-versa). Este girar fará com que apareça, nas extremidades desta bobina, uma carga de elétrons. É esta a carga utilizada por nós ao colocarmos o plugue dos nossos aparelhos na tomada.

No Brasil, a maior parte da energia é gerada através de usinas hidrelétricas, que utilizam a força das águas para fazer girar as grandes bobinas. Há também, em quantidade muito menor, as termelétricas (responsáveis por 4% do produzido), usinas que se utilizam de gás natural (ou outros combustíveis fósseis) calor para a geração de energia. Apenas 2% da energia do país é gerada atravez de usinas nucleares . As usinas nucleares são termelétricas que usam material radioativo, sendo que o calor é gerado através da fissão nuclear.

Crie na crise – Com a falta de chuvas e de cuidados corretos na utilização das hidrelétricas, estamos em um momento crítico, em que a energia gerada não consegue corresponder às necessidades do seu público consumidor. O positivo desta crise, que pode causar grandes prejuízos para o país, é a atenção que passa a ser dada à maneira como a energia é gerada. É preciso pensar que, para que possamos ter o nosso conforto diário, grandes áreas são alagadas, árvores mortas. Por mais que se tomem cuidados, como o de retirar os animais da área utilizada, o impacto ambiental é grande.

Economizar acaba sendo, portanto, uma ação de proteção ambiental. Quanto menos energia precisar ser gerada, menor será a necessidade de áreas alagadas. Além disso, precisarão ser utilizadas também menos usinas termelétricas, verdadeiras vilãs no processo de superaquecimento do planeta.

Grandes áreas são alagadas para a construção de barragens que ajudarão na produção da energia que move a maioria das máquinas com as quais lidamos diariamente, além de permitir que não dependamos do fogo para fugirmos do escuro. O impacto para o meio ambiente, portanto, é grande e praticamente inevitável.

No caso das hidrelétricas, muitas áreas, em várias regiões do país, já tiveram de ser inundadas, causando um prejuízo irreversível. Na usina hidrelétrica da Serra da Mesa, em Goiás, por exemplo, foram encontradas mais de 156 cavernas, contendo um importante material paleontológico, verdadeiro documento sobre as transformações naturais ocorridas na região. Oitenta destas cavernas foram exploradas e delas foram retirados os vestígios considerados mais importantes. O restante foi inundado sem ser sequer explorado.

Além dissp, segundo um estudo publicado pela revista inglesa New Scientist em junho de 2000, boa parte dos gases do efeito estufa são criados pela matéria orgânica inundada em reservatórios e pelo apodrecimento de florestas submersas. Este seria mais um fator de impacto das hidrelétricas. Segundo a publicação, os reservatórios de Balbina, no Brasil, e Petit-Saut, na Guiana Francesa, seriam os grandes produtores desses gases.

Esquentando a Terra – Com a crise de energia e a ameaça do chamado “apagão”, algumas medidas do governo estão sendo divulgadas como alternativas seguras e eficientes para a geração de energia. Uma delas incentiva a criação de termelétricas no país. É necessário, porém, que você, antes de comemorar a nova solução, entenda os estragos que este tipo de geração de energia pode causar no equilíbrio ambiental do planeta onde você mora.

Segundo especialistas, a queima do gás natural, responsável pela geração de eletricidade na maioria das usinas termelétricas, bem como de outros tipos de combústível como piche, aumenta a quantidade de carbono lançado na atmosfera. O Brasil hoje lança, anualmente, aproximadamente 4,5 milhões de toneladas de carbono . Com o número de novas termelétricas previstas para entrar em atividade até 2003, o país passará a lançar aproximadamente 16 milhões, contribuindo para o agravamento do efeito estufa . Além disso, este tipo de gás dá origem ao ácido nítrico, que alimenta as chuvas ácidas.

É errado, portanto, pensar que a energia que você utiliza não causa nenhum dano à natureza e que, exatamente por isso, pode ser usada sem critério e com desperdício. Acredite: economizar pode evitar catástrofes muito maiores do que o próprio apagão.

A geração de energia no Brasil é feita em sua grande maioria por hidrelétricas devido principalmente ao potencial geográfico dos nossos rios. Porém, apesar de ser um tipo de geração dos mais baratos e eficientes, as hidrelétricas acabam por causar um grande impacto ambiental. Além disso, problemas como a falta de chuva podem afetar a geração dessa energia. As termelétricas aparecem então como uma solução. Porém, embora causem menos impacto, são também poluentes e prejudiciais ao meio ambiente.

Haveria, então, alguma alternativa para a geração de energia que provocasse menos impacto ambiental do que as que utilizamos? Sim. Cientistas em vários lugares do planeta e, inclusive, no Brasil, desenvolveram métodos para formas de produção energética de mínimo impacto.

Cana, sol e ar – As três formas alternativas de geração de energia, apontadas como as melhores para o meio ambiente e, atualmente, vistas como as mais viáveis, são as geradas através da energia dos ventos, solar e de biomassa (queima de óleos vegetais, cascas de cereais, lixo, bagaço de cana, etc.).

O vento é imensa fonte de energia natural, a partir da qual é possível produzir grandes quantidades de energia elétrica. Há, hoje, mais de 20.000 turbinas eólicas (movidas a vento) de grande porte em operação no mundo, com uma capacidade instalada de 5.500 MW. De acordo com a Agência Internacional de Energia, a capacidade mundial de turbinas eólicas instaladas alcançará 10.000 MW até o ano 2000. Na Europa, espera-se gerar 10% de toda eletricidade a partir do vento, até o ano 2030.

No Brasil, apenas a região Nordeste conta com potencial eólico. Neste tipo de usina, grandes pás, como em um moinho, giram com a força do vento. O impacto ambiental é mínimo e os gastos também.

Lá vem o sol – O país que registra a maior incidência solar do mundo, ainda não aproveita todo o potencial da energia gerada pelo astro rei. Para termos uma idéia dessa grandeza, tão pouco valorizada no Brasil, o sol irradia anualmente o equivalente a 10.000 vezes a energia consumida pela população mundial neste mesmo período. A energia solar é incomparável a qualquer outro sistema de energia convencional por tratar-se de uma fonte 100% natural, ecológica, gratuita, inesgotável e que não agride o meio ambiente. A captação é feita por aparelhos , já utilizados em alguns locais para o aquecimento de água, por exemplo.

Apesar das vantagens para o meio ambiente, não há nenhum grande investimento no país para a captação e utilização em maior escala da energia solar. O que temos, neste momento em que o racionamento de energia começa a tomar forma, é o incentivo àqueles que optarem pela energia solar, pelo menos para substituição ao chuveiro elétrico.

Energia do bagaço A geração pelo processo de biomassa, embora seja mais agressivo ao meio ambiente que o solar e eólico, ainda apresenta-se como uma boa alternativa às hidrelétricas e termelétricas. A queima de materiais, como o bagaço da cana de açúcar, laranja, cascas de cereais, etc., pode gerar uma quantidade de energia considerável e, ainda, ajudar na utilização de componentes orgânicos que muito provavelmente seriam queimados a céu aberto, causando também poluição atmosférica. Temos, portanto, a resolução de dois problemas com o simples uso da tecnologia. Os resíduos usados como combustível passam por um processo de gaseificação, em um gerador específico.

Uma prova de que este tipo de geração de energia é viável é a forma como ele é utilizado na Finlândia. Lá, A biomassa, por sua vez, atende pouco menos de 20% do consumo global de energia no país, com participação especial no setor industrial e principalmente no segmento de papel e celulose. É essa mesma quantidade de energia que precisamos economizar para que não exista o racionamento no Brasil.

Mesmo por aqui, já há projetos e estudos para a utilização da biomassa . O Ministério de Ciência e Tecnologia, por exemplo, promoveu a plantação de 150 mil hectares de palma para a cultura de dendê, em assentamentos do Incra na Amazônia. Atualmente, estão sendo executados projetos nos Estados de Pará, Amapá e Amazonas para a produção de biomassa energética.

O plantio em larga escala da palma africana (dendezeiro) e a utilização do óleo de dendê em programas de substituição de energia é mais uma alternativa para minimizar o déficit energético do país.

Antes de chegar à sua tomada e fazer funcionar a sua geladeira e a sua televisão, a energia precisa ser gerada. A natureza está diretamente ligada a esse processo e acaba, inclusive, sendo prejudicada por ele. Por isso, economizar, fazendo o uso mais consciente da eletricidade é, antes de tudo uma ação de ajuda à manutenção do meio ambiente.

Algumas ações simples podem ajudar muito: demorar menos tempo no chuveiro, apagar as lâmpadas que não estiverem no ambiente onde você está, não deixar a TV ligada quando a sala estiver vazia.

Além de, assim, permitir que as próximas gerações possam aproveitar do mesmo conforto, também ajudará a evitar verdadeiras tragédias ambientais. “É de responsabilidade de todos nós a preservação do meio ambiente do planeta em que vivemos”, explica Fábio Feldman,secretário executivo do Fórum de Mudanças Climáticas, presidente do Instituto Pro-Sustentabilidade (IPSUS), já foi deputado federal e secretário do Meio Ambiente do Estado de São Paulo na gestão de Mário Covas.

Para Feldman, atual crise de energia é positiva por um lado, já que acaba com a relação mágica que temos com a eletricidade. “Estamos acostumados a ter, sem precisarmos nos preocupar com a maneira como acontece todo o processo e, principalmente, o estrago que ele provoca”. Agora que você já sabe de tudo isso, não perca tempo e comece a agir!

Este texto foi escrito por: Debora de Cassia

Last modified: junho 14, 2001

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