Eliseu na Pedra da Abelha (foto: Arquivo Pessoal/ Eliseu Frechou)
No texto abaixo o montanhista brasileiro Eliseu Frechou conta sobre as maravilhas de Caçapava do Sul, no Rio Grande de Sul. O montanhista traz detalhas sobre as melhores montanhas e vias da região, assim como dicas para a subida.
Desde a primeira vez que conheci Caçapava do Sul (RS) e fui apresentado à escalada em conglomerado tive a certeza de que estava em um lugar muito especial. Primeiro pela camaradagem e atendimento dos montanhistas locais, que fazem questão de lhe acompanhar e apresentar tudo o que conhecem, e depois pela possibilidade de escalar em uma rocha tão rara no Brasil (só conheço points de conglomerado no Rio Grande do Sul e na Chapada Diamantina (BA)), o Conglomerado Gaúcho.
O Conglomerado é uma rocha formada por seixos que parecem terem sido tirados de rio e juntados numa argamassa de arenito. Quando o arenito é duro, os seixos ficam bastante resistentes, mas em outros pedaços, onde o arenito esfarela, os seixos saem com o simples toque, o que obriga ao escalador testar todos os seixos antes de usá-los para sua progressão. Esta situação de constante quebra de agarras torna necessário o uso de capacete, tanto para o guia quanto para o segundo.
O acesso à Caçapava do Sul, partindo de Porto Alegre (aproximadamente 4 horas de viagem), é bastante simples: primeiro pela BR-290 e depois pela BR-392. Já em Caçapava, como a Pedra do Segredo é um ponto turístico da cidade, existem muitas placas sinalizando a direção do conjunto rochoso. Para escalar na área do Pico do Segredo e Leão a melhor opção é ficar no Camping Galpão de Pedra, cujo dono, o gaúcho Manoel Teixeira, irá lhe fornecer todas as informações necessárias, além de colocá-lo em contato com os escaladores locais. O Camping tem uma grande área para montagem de barracas, quatro banheiros e cantina, tudo mantido perfeitamente limpo e em ordem.
O Leão – Partindo do Galpão, a montanha mais próxima é o Leão, onde está uma das rotas mais clássicas da região, a Silêncio dos Inocentes 6° A1 e mais meia dúzia de rotas que valem a pena serem escaladas, com graus variando entre 4° até 7°. Elas são geralmente bem protegidas por grampos P, que nas rotas mais recentes são, além de longos, colados, o que devido à fragilidade da rocha é uma necessidade.
O Leão tem ainda uma via ferrata, a qual o montanhista pode usar para subir ao topo sem uso de nenhum equipamento de segurança. Ainda próximo ao Leão existem outras pedras menores que proporcionam escaladas interessantes, como o Navio e uma porção de boulders.
O Sorvete e o ET são montanhas um pouco mais distantes, mas que não devem deixar de ser visitadas. A via Normal do Sorvete é curta, muito fácil e interessante, até mesmo pela caminhada de 40 minutos pela mata característica daquela Serra. A probabilidade de se encontrar algum animal é alta. Tatus, siriemas, veados-campeiros e gatos do mato habitam este lugar. Todavia, a primeira vez é importante ir com algum escalador local, pois não é difícil se perder no caminho para estas montanhas.
A Pedra do Segredo também é bastante procurada, pois tem as vias mais longas, como Viagem, Retardada e Sem Medo de Ser Feliz, todas com mais de 100m de extensão e bem próximas do estacionamento. A Pedra do Índio tem uma rota bastante interessante, Indian Summer, conquistada com proteção mais clássica que a maioria das outras do local.
A rota Normal da Pedra da Abelha é considerada a via de escalada mais antiga do Rio Grande do Sul, conquistada por Edgar Kittelmann na década de 50. Hoje esta via foi reformada e é um marco do montanhismo neste estado.
Desenvolvimento – Nos últimos anos a escalada esportiva tem se desenvolvido bastante nessas paredes, trabalho de montanhistas como Thiago Balen, Guilherme Zavaschi e Uberê Machado. Diversas vias de grau elevado (acima de 8°) foram abertas nos últimos quatro anos. E a tendência é que surjam novas propostas, principalmente nas paredes negativas da Pedra da Abelha e da Baleia, onde existem vários setores negativos.
Existem dois encontros anuais de escaladores em Caçapava do Sul. Consulte o calendário de eventos da Associação Gaúcha de Montanhismo AGM no site www.agmontanhismo.org para manter-se informados das atividades na região.
Este texto foi escrito por: Eliseu Frechou