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Em entrevista exclusiva, comandante do Telefonica Blue conta como manter a calma na última posição

Redação Webventure/ Vela

Barco é vice-líder na classificação geral (foto: Rick Tomlinson/ Volvo Ocean Race)
Barco é vice-líder na classificação geral (foto: Rick Tomlinson/ Volvo Ocean Race)

Após cinco meses competindo nesta edição da Volvo Ocean Race, Bouwe Bekking, comandante do Telefonica Blue, lida com uma situação instável a bordo do barco espanhol. Ele sai de uma vitória ao fim da 4ª etapa, em Qingdao, na China, para começar a 5ª e maior etapa da história da regata (com 23 mil quilômetros até o Rio de Janeiro) com 19 horas de atraso com relação aos outros barcos após uma quebra na quilha ocorrida no momento da largada. Depois do conserto, ele levou sua tripulação à liderança da regata e agora vê seu barco quase 800 milhas, cerca de 1.400 quilômetros, atrás do líder, na última posição. Esta é a vantagem recorde de liderança nesta edição da volta ao mundo.

“Foram ‘nozes difíceis de quebrar’, até porque estávamos empolgados em começar a regata. Você tem que reiniciar a sua mente completamente quando tem esse tipo de má sorte. Começamos imediatamente em uma grande brisa, e isso normalmente toma um pouco de tempo até a adaptação”, disse o comandante ao Webventure, enquanto o barco veleja no extremo sul do oceano, na aproximação do Cabo Horn, no Chile.

O holandês, que faz sua 6ª regata de volta ao mundo, totalizando mais de cinco anos no mar, viu a perda da liderança dando-se por dois motivos. O primeiro foi a escolha do Ericsson 3, o líder, por optar por velejar ao norte após a passagem pelo Portão de Pontuação, já que uma zona de baixa pressão facilitou o aumento de velocidade deles e a aproximação do fim da meta. O segundo motivo foi a quebra do estai de proa do barco.

Outro golpe de sorte – “Quando vi a quebra pensei ‘Oh, droga, por que nós?’, mas rapidamente vimos que tivemos sorte em não perder o mastro. Subimos o ‘mastro da fortuna’ (mastro de emergência com peças remanescentes), mas não aumentamos a velocidade para não comprometer a segurança do barco e da tripulação. Continuamos a velejar, mas com a área de vela reduzida”, contou ele sobre a quebra.

O comandante optou por não parar para efetuar reparos, já que isso os colocaria muito atrás dos outros barcos e não era necessário, porém ele diz que irá checar a previsão do tempo para os próximos dias antes de dar sua palavra final, já que eles poderão enfrentar ventos de até 50 nós (90 km/h) no Cabo Horn.

O Telefonica Blue venceu duas das quatro etapas da edição 2008/09 da Volvo Ocean Race e é o vice-líder na classificação geral da regata. Apesar dos problemas que enfrenta, consegue manter-se na ponta da disputa e alcança bons resultados nas regatas in-port que realizou, conquistando a vitória na primeira delas, em Alicante, na Espanha, antes da largada.

“Temos todos os bons ingredientes. Um barco rápido, uma tripulação rápida, e sem esquecer da fantástica equipe em terra”, elogia Bekking. “Enquanto estamos no mar, não podemos ter contato com a equipe em terra, mas antes de partirmos para as etapas, alguns ‘experts’ nos advertem dos possíveis caminhos”, contou.

Sobre os atrasos, quebras e perdas de liderança, ele afirma que não teve problemas com a tripulação diante de tais situações. “Todos são profissionais aqui dentro e sabem lidar com esses entraves. Mas algumas palavras trocadas com eles, os ajuda individualmente”, explicou o comandante. “Eu acho que sou bom em deixá-los cientes de que não é culpa deles, e que tenho plena confiança em todos. Desde que a Volvo se tornou pública, temos que fazer o nosso melhor, deixar o espectador sabendo de tudo o que acontece e mostrar como lidar com isso”, completou o holandês, dizendo que algumas equipes não assumem certos problemas que têm publicamente.

A opção do chefe – Durante a 4ª etapa da Volvo, em que ele venceu, Bekking abriu vantagem em relação aos outros barcos graças a sua opção de velejar em meio a tempestades e ventos fortes, com ondas de até dez metros que “lavaram” os barcos por completo.

“Claro que aquela foi a minha escolha, mas não foi perigosa ou louca. Nos meus velhos anos de escola náutica, uma das primeiras lições que aprendi é que se você quer sobreviver, em 9 de 10 vezes, é melhor se afastar da terra, onde as condições do mar ficam melhores e no caso de algo der errado, você não é levado para terra”, explicou Bouwe Bekking.

Ele afirma que uma das questões primordiais para manter o barco sem quebras e a equipe sem problemas é saber regredir em certos momentos. “E até se dirigir pela rota ‘errada’, como fizemos, pois sabíamos que a tempestade poderia ser forte e o barco tinha um potencial grande de chance de quebra”.

O holandês não pensa que a pior parte da regata terá passado com a chegada ao Rio de Janeiro, nas próximas semanas. “Toda perna é difícil, e esta é a única característica dessa regata. A corrida só acaba quando termina”.

Mas nem só de quebras e problemas é composto este desafio de dar a volta ao mundo em 69 mil quilômetros. “Conversamos muito no convés quando as coisas estão calmas. Outra coisa boa é que lá você pode dormir sem bater em nada”, contou animado. “Nesta etapa, vi um dos lugares mais bonitos, que foram as Ilhas Fiji. Depois de 14 dias no mar, velejamos bem no meio daquele paraíso. Foi difícil não poder ir para a ilha e passear por lá. Palmeiras, água cristalina, praias brancas, o que mais você iria querer da vida?”, finalizou Bouwe Bekking, já bem longe do visual da paradisíaca ilha e se aproximando de um dos locais mais temidos e com as piores condições climáticas do planeta, o Cabo Horn.

Este texto foi escrito por: Lilian El Maerrawi

Last modified: março 12, 2009

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