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Embalados com conquistas no Pan do México, atletas da canoagem sonham com o Pan do Rio 2007

Redação Webventure/ Rafting e canoagem

Gilvan Ribeiro é a promessa da seleção de canoagem (foto: Arquivo pessoal/ Sebástian Cuattrin)
Gilvan Ribeiro é a promessa da seleção de canoagem (foto: Arquivo pessoal/ Sebástian Cuattrin)

Uma chuva de medalhas e conquistas inéditas. O Pan-americano de canoagem realizado no México, nos dias 15 e 16 de setembro, trouxe várias conquistas para o país. Foram 18 medalhas, sendo seis de ouro. Os principais destaques foram Gilvan Ribeiro, de apenas 17 anos, que conquistou dois ouros, e a seleção feminina também com dois ouros. As brasileias nunca haviam conquistado medalhas em pan-americanos.

O Pan do México serviu também como preparação para os Jogos do Pan-americanos do Rio de Janeiro em 2007. A conquista das medalhas refletiu o investimento que a Confederação Brasileira de Canoagem, juntamente com o COB, tem feito no esporte. “Os investimentos nos propiciaram boas condições para treinar e os caiaques mais modernos do mundo”, afirma Sebástian Cuattrin, principal nome brasileiro na canoagem, com vários títulos.

“A canoagem é pouco difundida. Mas hoje evoluiu bastante, tanto que a seleção feminina conseguiu esses resultados. Mostra a seriedade do trabalho e a dedicação da equipe. Foi em um barco de equipe o melhor resultado, e é o principal barco que estamos treinando para o ano que vem”, afirma Ariela Pinto, representando do K4 feminino.

Pan do México – Os resultados do Pan-americano de Canoagem do México foram excelentes, com 18 medalhas. Mas se fossem os Jogos Pan-americanos do Rio, essas medalhas seriam apenas quatro. Isso porque, no México, são disputadas mais provas do que as do ano que vem. “No Pan do México foram mais provas, mas temos um histórico em Jogos Pan-americanos. Em Winnipeg conquistamos cinco medalhas, em Santo Domingo cinco de novo, só mudou a qualidade delas, para melhor”, explica João Tomasini, presidente da Confederação Brasileira de Canoagem.

“O campeonato Pan-americano de canoagem foi muito importante para vermos como estamos em relação às outras equipes da América, e poder ter uma noção de como vai ser o Pan-americano do Rio”, afirma Cuattrin.

Nos Jogos Pan-americanos de 2007, serão disputados, no feminino, o K1, K2 e K4 500 metros (caiaque). No masculino são 12 provas no total. No caiaque são K1, K2 e K4 1000 metros e K1 e K2 500 metros. Na canoa são C1 e C2 500m e 1000m.

“Nossa meta é manter o nível do caiaque e trazer a canoa e o feminino para esse nível também. O feminino não teve medalhas (no México) que eram pan-americanas, mas mostrou que pode chegar lá. Ficou em quarto lugar no K4, o que nos dá condições de saber que está no caminho”, explica Tomasini.

Desde 1995, os atletas da seleção de canoagem treinam juntos. A iniciativa inédita no país propiciou uma melhora significativa no esporte e tem a aprovação dos atletas. “É o sistema mais apropriado para conseguir resultados a curto prazo”, afirma Cuattrin. No Brasil, apenas as seleções de canoagem e ginástica artística treinam no sistema de seleção permanente.

A seleção masculina se concentra em São Bernardo do Campo, no ABC paulista. Os treinos acontecem na Associação dos Funcionários Públicos da cidade, nas águas da Represa Billings. A seleção feminina está a quase mil quilômetros de distância, na cidade de Caxias do Sul (RS).

João Tomasini explica que não foram apenas os investimentos que propiciam o crescimento do esporte, mas as parcerias firmadas pela Confederação. “Não estamos sozinhos nesse trabalho. Em Caxias do Sul temos a Universidade Caxias do Sul e a Prefeitura Municipal. Em São Bernardo do Campo, contamos com Governo do Estado e a Prefeitura nos ajudando no desenvolvimento”.

As atletas da seleção femininas têm o estudo universitário custeado pela Universidade de Caxias do Sul, a ajuda de custa e pagamento do técnico feita pela Confederação de Canoagem e alimentação e hospedagem fornecidas por parceiros.

Já a masculina, tem transporte e alimentação cedidos pelo Governo do Estado e a moradia pela Prefeitura de São Bernardo. A ajuda de custo vem da Confederação. “É uma colcha de retalho de apoio. Por isso que estão aparecendo esses resultados”, afirma Tomasini.

Seletivas – Os atletas que irão participar dos Jogos Pan-americanos do Rio 2007 ainda não estão totalmente definidos. Todos os anos é feita uma seletiva onde se define os atletas da seleção permanente. “Define-se o grupo de 14 atletas no caiaque masculina, 10 na canoa masculina e nove no caiaque feminino. Desse grupo sai a equipe que vai para o Pan”, afirma Tomasini.

As seletivas organizadas pela Confederação de Canoagem acontecem no final de 2006, nas respectivas cidades que treinam as seleções: Caxias do Sul para o feminino e São Bernardo do Campo para o masculino. “Como é um esporte de rendimento, tem que colocar na água o que é melhor para o Brasil. Será definido quando estiver chegando mais perto”, afirma Cuattrin, referindo-se a composição dos barcos para o Pan do Rio.

No feminino, são cinco vagas para a categoria sênior e quatro para a categoria júnior. No masculino são sete vagas, tanto para a canoa quanto para o caiaque. “Os atletas que foram para o Pan do México não participam”, explica Tomasini.

Nos Jogos Pan-americanos Rio 2007, a modalidade canoagem que será disputada é a velocidade, com caiaques para o masculino e feminino e canoa para o feminino. O local da prova é o Centro de Remo da Lagoa, a 25 minutos da Vila Pan-americana e com capacidade para 3000 pessoas de público.

A modalidade é praticada em rios ou lagos de águas calmas com nove raias demarcadas. No Pan, haverá duas distâncias em disputa, 500 e 1000 metros.

No caiaque, os competidores ficam sentados com um remo de duas pás. Já na canoa, o atleta se posiciona de joelhos e usa um remo com apenas uma pá. No Pan, o esporte é dividido em:

  • K1 – Caiaque para uma pessoa com comprimento máximo de 5,20 m e peso mínimo de 12 kg.
  • K2 – Caiaque para duas pessoas com comprimento máximo de 6,50 m e peso mínimo de 18 kg.
  • K4 – Caiaque para quatro pessoas com comprimento máximo de 11 m e peso mínimo de 30 kg.

  • C1 – Canoa para uma pessoa com comprimento máximo de 5,20 m e peso mínimo de 16 kg.
  • C2 – Canoa para duas pessoas com comprimento máximo de 6,50 m e peso mínimo de 20 kg.
  • C4 – Canoa para quatro pessoas com comprimento máximo de 11 m e peso mínimo de 50 kg.

    Argentino de origem, brasileiro de coração. O canoísta Sebástian Cuattrin acumula títulos que botam inveja em muita gente. Ele começou a treinar em 1988 na cidade mineira de Governador Valadares e é um colecionador de medalhas. Dentre os muitos títulos, Cuattrin é 17 vezes campeão pan-americano de canoagem, 22 vezes campeão sul-americano, 103 vezes campeão brasileiro, tem 18 medalhas em Jogos Pan-americanos, além de quatro Olimpíadas e um oitavo lugar na final olímpica.

    Experiente, Cuattrin integra a seleção permanente de canoagem desde o início, em 1995. Na época, a seleção treinava em Londrina (PR) mas, desde 2005, está em São Bernardo do Campo (SP). A adaptação à cidade foi tão boa que a esposa de Cuattrin, Regina Reis Cuattrin, abriu a clinica Croe, de fisioterapia. Além de atender pacientes de um grande hospital da cidade, Regina é a fisioterapeuta da seleção masculina.

    No mês que vem, a seleção participa do Sul-americano de canoagem, que será disputado em Mar Del Plata, na Argentina. “A gente vai para o Sul-americano sonhando com o Pan”, declara Cuattrin.

    Início – Cuattrin começou no esporte na cidade mineira de Governador Valadares, onde morava com a família às margens do Rio Doce. “Via o pessoal remar, achei interessante. Já tinha passado por uma série de outros esportes. Cai na canoagem, tomei gosto. Muito mais pelo prazer se superar a força da natureza, no caso o rio”, afirma. Aos 33 anos, o atleta dedica-se totalmente ao esporte e aos treinos. “Sou pago pra isso”, brinca. Os treinamentos são em torno de cinco a seis horas por dia.

    O conceito de seleção permanente é elogiado por Cuattrin: “como a canoagem não é um esporte tão difundido no país, as poucas estrelas que temos têm que treiner juntas, para o nível ir crescendo. Quando se está treinando sozinho, o referencial é o relógio, o tempo. Quando se treina num grupo, anda todo mundo colocado e cada treino acaba se tornando uma competição. Isso ajuda o nível a crescer”, explica. “Tempos juniores que faziam tempos baixíssimos e hoje fazem tempos parecidos com os nossos. Houve o crescimento pois eles estão treinando junto com a gente, vendo a gente todo dia, brigando com a gente a cada dia. Isso é muito importante”, completa.

    ”Sonho muito com o ouro. É a única medalha que me falta em Jogos Pan-Americanos e eu estou sonhando com o ouro faz tempo”, afirma o atleta. A preparação começa a ser intensa a partir de agora, visando unicamente os Jogos Pan-americanos. O Pan do México serviu para os atletas e comissão técnica verem o nível das outras equipes e corrigirem os erros.

    “A expectativa é boa. A equipe é nova, cheia de garotada, mas uma garotada que está crescendo muito rápido, mostrando sua qualidade e fazendo com que os tempos melhorem a cada dia”, disse Cuattrin. Nos últimos dois Jogos (Winnipeg e Santo Domingo), a canoagem conquistou cinco medalhas e a perspectiva para esse ano é que esse número aumente. “Em casa, temos quase que obrigação de melhorar isso”, afirma.

    Ariela Pinto, 24 anos, dez de canoagem. “Na verdade nem sabia como era a canoagem, como se praticava o esporte. Aconteceu. Entrei no Projeto Esporte Talento, do Instituto Ayrton Senna, na USP, e desde a primeira competição eu me apaixonei. Desde lá não consegui parar”, afirma a atleta que nasceu em Osasco (SP).

    Desde 2000 Ariela faz parte da seleção brasileira. Quatro anos depois mudou para em Caxias do Sul, com as meninas da seleção permanente. Apesar de morar longe de casa há seis anos, ainda sente muita falta da família. “É bastante tempo, mas não consigo me acostumar, é sempre difícil. Essa parte é a mais complicada: ficar longe da família”, afirma. Há quase três meses Ariela não visitava a família por conta de competições internacionais e treinos intensivos.

    A atleta está no segundo ano do curso de Educação Física e divide os estudos com os treinos na seleção. Para ela, o local ajuda a se concentrar no esporte. “Gosto de ir ao cinema, sair com as companheiras, visitar a família quando pode. Às vezes saio a noite, mas é difícil. Caxias do Sul é mais para treinar. Me concentro mais no treinamento”, explica.

    Meta: Rio 2007 – Os Jogos Pan-americanos são o grande sonho da atleta e a possibilidade da primeira medalha do caiaque feminino na competição. “O Pan do México foi para ver realmente como a gente está. Agora vai apertar um pouco, pois a medalha que esperávamos na prova dos 500 metros, que é a prova dos Jogos Pan-americanos, não conseguimos. Vimos onde está o erro e agora o treino vai ser ainda mais pesado do que a gente estava fazendo”, explica.

    A atleta rema hoje no K2 e no K4, mas ainda não é certo que essas serão as provas que competirá no Rio em 2007. Animada com o desempenho da equipe, Ariela sonha com o pódio. “Com certeza estarei no pódio”, afirma, entusiasmada.

    Aos 16 anos, Naiane Pereira começa a remar por curiosidade na cidade de Santa Maria (RS), onde nasceu. Com amigos, decidiu experimentar como era o esporte, e não parou mais. “A gente via os barquinhos andando na barragem. Fui ver como era e logo na primeira semana já competi e me envolvi com o esporte. Acho canoagem um esporte muito bonito pelo contato com a natureza. Eu amo fazer canoagem”, afirma a atleta.

    Desde 2004 na seleção, a atleta de 23 anos mora em Caxias do Sul (RS) junto com a seleção permanente. As conquistas no México foram uma grande alegria para a atleta. “Foi uma emoção enorme. Estar lá no degrau mais alto do pódio e escutar o hino nacional brasileiro, tem que segurar muito para não chorar”, recorda. “Eu acreditava. Tem que acreditar, estamos trabalhando para buscar o melhor resultado. Eu acreditava que era possível, era só dar o melhor, me concentrar na minha melhor remada, no nosso melhor ritmo e fazer o que fazemos nos treinos, tentar se superar”, relata a atleta.

    Apesar das conquistas e do forte treinamento, Naiane não esquece a família e afirma que o mais difícil é estar longe de casa. “Quando se está bem longe, na Europa, México, a distância parece que aumenta mais a saudades. Mesmo em Caxias é bem angustiante”, afirma. Sem muito tempo para o lazer, por conta dos treinos e estudos, a atleta usa as horas vagas para estar com amigos e família, além de navegar na internet e escutar música.

    De olho no Pan – No segundo ano da faculdade de Educação Física, a atleta só tem olhos para os Jogos Pan-americanos. “Ano que vem é concentração total”, afirma. “Desde 2004, temos como meta buscar medalhas no Pan-americano e fazer história na canoagem feminina. Uma medalha é inédita e estamos treinando forte, participando de competições para adquirir experiência, ver os adversários que vamos ter. Buscar melhorar ainda mais os tempos. Quanto mais baixos o tempo, melhor nosso desempenho em 2007. E melhorar tecnicamente, pois fisicamente todas estamos bem, segundo nosso técnico (risos)”, completa.

    Segundo a atleta, a maior aposta do Brasil para o Pan é o K4, onde se tem obtido bons resultados. “Todo ano é feito um ranking nacional e eu, graças a Deus, tenho me mantido em primeiro lugar. Até 2007 vou lutar para estar no Pan e espero trazer bons resultados. Pretendo estar no K4 e no K1”, completa a atleta.

    Com apenas 17 anos, Gilvan Ribeiro se destaca entre os grandes, conquistou duas medalhas de ouro no Pan-americano de Canoagem no México. E o garoto não se deixa intimidar pela pouca idade: “antes de ir para o México participei do campeonato sênior, que reúne os melhores atletas do mundo, e de maneira alguma me senti intimidado. O resultado não veio, mas eu dei o meu máximo. No Mundial, a medalha também não veio, mas foi um resultado bom também. Remei no K4 com a equipe brasileira sênior, que é o profissional do Brasil. Isso está vindo normal para mim e estou sabendo aproveitar bem”, afirma.

    A promessa brasileira da canoagem não pretende remar nos Jogos Pan-americanos do Rio em 2007. Na mesma época acontece o Campeonato Mundial da categoria Júnior, na República Tcheca. “A principio não vou para o Pan, a não ser que acontece alguma coisa”, afirma Gilvan.

    Na seleção brasileira há um ano e meio, Ribeiro começou a remar com 12 anos, sem nunca ter tido nenhum contato com a canoagem. “Teve um projeto na escola para os alunos conhecerem, só por lazer. Fui, gostei e comecei a me destacar. O treinador me convidou para participar da equipe de Santa Maria, participei de campeonatos nacionais”, comenta o atleta.

    Estudos e treino – “Não dá pra dizer que estudo como uma pessoa normal. Mas dá para conciliar os dois juntos, com certeza” afirma. Cursando o terceiro ano do ensino médio, o atleta mora em São Bernardo do Campo, a mais de 1200 quilômetros da família. “Tenho vários amigos em Santa Maria e o principal é a família que dá o maior apoio. [Morar longe] dificulta um pouco, mas é um obstáculo que tem que ser superado para conquistar medalhas”, afirma.

    As conquistas no México foram um incentivo a mais para o atleta, que relata: “para mim foi muito importante. Duas medalhas num campeonato onde todos os países estavam com a equipe ‘A’. Está demonstrando que o treinamento está sendo bem realizado e está dando certo”.

    Este texto foi escrito por: Thiago Padovanni

    Last modified: setembro 22, 2006

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    Redação Webventure
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