Palestra de Notmatização (foto: Daniel Costa/ www.webventure.com.br)
O Clube Universitário de Montanhismo e Excursionismo de São Carlos levou cinco anos para realizar o segundo encontro de montanhismo na cidade. E o tempo foi merecido. Nos dias 26 e 27 de maio alguns dos principais nomes do esporte estiveram presentes na Universidade Federal de São Carlos (Ufscar) para apresentar experiências e discutir temas polêmicos.
O sábado foi destinado às palestras, o escalador e colunista do Webventure Eliseu Frechou abriu os trabalhos com uma explanação sobre os principais locais para escalada no Brasil. Eliseu também faz vídeos de escalada, viagem e montanhismo, e produziu uma série de vídeos com o melhor na escalada brasileira do Ceará até Rio Grande do Sul. Locais como Quixadá (CE), Rio de Janeiro, Serra do Cipó (MG), Pedra do Baú e Florianópolis (SC) estiveram na apresentação. Veja esses e outros picos no Onde Praticar do Webventure.
Logo em seguida o empresário, canionista, espeleólogo, fotógrafo e artista plástico Carlos Zaith passou 30 imagens de aventura e natureza e comentou um pouco sobre a técnica de cada uma delas. Gosto do contraste de claro e escuro, de escurecer um pouco minhas imagens. Mas cada caso precisa ser bem planejado para que a foto saia bonita, explicou. Entre as imagens, algumas com técnicas curiosas. Dentro de cavernas, Zaith chegou a fazer uma foto com dois minutos de exposição, e nesse tempo disparou mais de 50 flashes para iluminar o salão inteiro.
Extremo Sul – em 2003, uma expedição brasileira, argentina e chilena, comandada pelo montanhista Nelson Barreta, tentou subir o Monte Sarmiento, na Terra do Fogo. A investida foi documentada por uma equipe de cinema, que resultou no longa Extremo Sul. Mau tempo e desentendimentos entre a equipe de montanhistas, apoio e cinema levaram a expedição ao fracasso, mas o filme saiu, com uma fotografia digna de prêmio, assim como trilha sonora e montagem.
Barreta esteve presente no encontro e conversou com os presentes sobre detalhes da expedição e bastidores da filmagem. Voltaria para o Sarmiento, mas sem uma equipe de cinema, confessou. Minha maior decepção foi quando vi a versão final do filme. Só lá fiquei sabendo de vários problemas que durante a expedição não soube. Fiquei me perguntando depois porque eu não falei com os escaladores da forma que os produtores do filme falaram, lamentou.
Mesmo assim, foi um aprendizado. Não tem como não extrair lições. O meu comportamento mudou, e isso sempre foi difícil. Algumas pessoas precisam de um detalhe para ver que estão erradas, eu precisei gastar R$ 3 milhões e três viagens para a Patagônia para aprender que preciso ser uma pessoa melhor, desabafou o montanhista. O filme ficou muito bom, merece parabéns à pessoa que fez a montagem das cenas e também gostei da trilha sonora, finalizou Barreta.
O sábado teve ainda uma palestra da Humberto Medaglia, especialista em técnicas verticais (responsável pela montagem da atividade no Ecomotion/Pro), empresário e membro da comissão de estudos para as normas do Programa Aventura Segura, da Abeta em parceria com o Ministério do Meio Ambiente e o Instituto de Hospitalidade.
Humberto adiantou que diversas normas já estão prontas, e o processo de votação e consulta terminou (na véspera do evento, dia 25). Inclusive a de Competências Mínimas para contudores de Montanhismo e Técnicas Verticais, uma das mais polêmicas. Segundo ele, a Escalada Guiada ficou fora da regulamentação. Não conseguimos um consenso com as federações e associações do esporte, comentou. Mas pretendo voltar a discussão, precisamos separar esporte de turismo, afirmou Medaglia.
Ele também adiantou que as normas brasileiras estão em análise internacional para virarem modelo no mundo todo, na forma de ISO. Pesquisamos diversas normas de várias partes do mundo, da Nova Zelândia até o Chile. Acredito que as nossas são as mais completas, disse.
Encerramento – O sábado terminou com Rodrigo Raineri e diversas explicações e curiosidades sobre Alta Montanha. O montanhsita falou sobre as expedições para o Aconcágua (pela via normal, Face Sul, e Invernal), além das duas expedições para o Everest. Impossível não mencionar Vitor Negrete, em um momento que emocionou os presentes. Em homenagem, uma das faces da caída dágua que foi transformada em parede de escalada da Ufscar leva o nome de Vitor a partir do encontro.
No domingo, a programação teve de ser alterada por causa do mau tempo. As oficinas aconteceram dentro das salas de aula. Na de orientação, os alunos foram para baixo da chuva andar pela faculdade munidos de bússola na mão. Humberto Medaglia falou sobre canionismo e Clever Chinaglia e Luiz Anelli explicaram sobre espeleologia e técnicas verticais. O dia ainda teve técnicas básicas de escalada esportiva e Auto-resgate em escalada.
Um festival de boulder estava programado, mas a chuva atrapalhou. Mesmo assim, os membros do CUME terminaram o dia com escalada na caixa dágua.
Este texto foi escrito por: Daniel Costa