Empresário paulista desiste do Everest para não perder o pé - Webventure

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Empresário paulista desiste do Everest para não perder o pé

Redação Webventure/ Montanhismo

O alpinista Cid Ferrari teve que voltar ao Brasil nesta segunda-feira (2) e se despedir do Everest por conta de um problema de saúde. Enquanto se preparava para o terceiro ciclo de aclimatação, sentiu dores no seu pé esquerdo e acabou indo para o hospital em Kathmandu. O diagnóstico foi oclusão total da artéria tibial posterior esquerda.

Ele relatou com exclusividade ao Webventure que sentiu as primeiras dores no dia 15 de abril, quando estava treinando técnicas de gelo na cascata Khumbu. “Resolvi ir ao médico porque estava com muita dor e também para me precaver antes da terceira aclimatação. Temia perder o pé e ao mesmo tempo a dor só crescia”.
Quem é Cid Ferrari?

Cid e sua equipe com que se preparava para a escalada Foto: Arquivo pessoaç Cid e sua equipe com que se preparava para a escalada Foto: Arquivo pessoaç

Chegando ao hospital, ele tomou remédios para deixar o sangue fluído e duas injeções na barriga a cada 12 horas. De acordo com o boletim médico, ele não poderia mais continuar escalando, pois poderia ter “consequências severas e potencialmente catastróficas no diagnóstico”. “A resposta do médico foi taxativa: are you crazy? Se você voltar perde o pé. Confesso que chorei muito. De repente surge um vazio e um cansaço enorme”, desabafa em seu comunicado oficial (leia abaixo na íntegra).

O resgate foi bem sucedido e Cid se mostrou bastante satisfeito em relação ao seguro utilizado, o Global Rescue. “Um helicóptero me buscou com um paramédico que me acompanhou o tempo todo. Da base fomos para Kathmandu, já tinha uma ambulância e fomos direto ao hospital. Lá ele me acompanhou o tempo todo, cuidou de todos os detalhes e me visitou três vezes”. Uma das exigências do médico é de que a volta fosse feita em classe executiva para manter o pé o mais plano possível.

Provavelmente o tempo que você fica no ar rarefeito, a altitude e as baixas temperaturas são muito esforço para um pé combalido Foto: Arquivo pessoal Provavelmente o tempo que você fica no ar rarefeito, a altitude e as baixas temperaturas são muito esforço para um pé combalido Foto: Arquivo pessoal

Durante sua preparação para o Everest, Cid afirma não ter sentido nada, nem mesmo quando escalou outras montanhas. “Por isso achei que estava credenciado para o Everest. O problema é que, por exemplo, o Aconcágua é alto, tem 6.962 metros e é frio, mas é por uns poucos dias. No Everest são praticamente 45 dias. É muito tempo de sofrimento e exposição”, explica.

Quanto ao futuro, vai se dedicar primeiro a sua recuperação, mas já fala nas próximas empreitadas. “A aventura está no meu DNA. Gostaria muito de ir ao pólo norte e sul”, adianta.

Leia abaixo o comunicado oficial do Cid Ferrari na íntegra

Amigos.
No Everest a noite é tão vasto o silencio. É tão despovoado! Tenta-se em vão trabalhar para não ouvi-lo, pensar depressa para disfarçá-lo. Inventar algum programa no ar rarefeito, frágil ponto que nos liga subitamente as tarefas do dia seguinte. Silêncio este apenas quebrado pelo desesperado choro das distantes avalanches. Nem sempre tão distantes.

Em 2011 tentei o Everest, mas tive um problema sério vascular no meu pé esquerdo. Das três arteriais eu perdi uma e a outra ficou problemática. Motivo nunca descoberto quis assim o destino. Graças as excelentes médicos Marcos Najm e Andre Estenssoro e duas cirurgias consegui uma ótima recuperação. Voltei gradualmente às montanhas galgando novos cumes como o Aconcágua, na Argentina.

Me senti fortalecido e confiante para tentar junto com o Carlos Santalena em 2014 uma nova empreitada. Novamente o acaso do destino se fez presente, desta vez numa terrível tragédia. Uma enorme avalanche foi fatal para três membros da nossa equipe. Postergamos para este ano, 2016. O nosso processo de aclimatação estava ótimo. Completamos os dois ciclos de preparação ao cume. Só faltava um.

O Carlos é um líder nato, jovem e confiante, com a energia de um trator. Contamos também com a nossa parceira dura na queda Thais Pegoraro. Extremamente resiliente! Não poderia estar acompanhado de melhores pessoas.

Infelizmente no início deste terceiro ciclo que ao término credencia para o ataque ao cume, o meu pé esquerdo enlouquecido levantou o braço e deu sinais limítrofes. Percebi que não conseguiria forjar a dor o qual se iniciou. Precisava a uma opinião profissional. Voltei para Katmandu e a resposta do médico foi taxativa: eu poderia perder o pé. Confesso que chorei muito. De repente surge um vazio e um cansaço enorme. Tanto desgaste em vão.

O resgate foi bem sucedido e Cid se mostrou bastante satisfeito em relação ao seguro utilizado, o Global Rescue Foto: Arquivo pessoal O resgate foi bem sucedido e Cid se mostrou bastante satisfeito em relação ao seguro utilizado, o Global Rescue Foto: Arquivo pessoal

Provavelmente o tempo que você fica no ar rarefeito, a altitude e as baixas temperaturas são muito esforço para um pé combalido. Não quero fazer sensacionalismo. Apenas relatar a verdade. Passei uma noite no hospital, ao lado de um francês destruído pela diarreia e no dia seguinte, os médicos me liberaram para voltar a São Paulo, tomando algumas medicações.

Passo agora a fazer parte da grande torcida para que os grandes amigos Carlos e Thais e os brothers Cristiano Muller e Rosier alcancem o cume! Agradeço a todas as mídias, aos meus amigos, família, enfim a todos. A Ju, Gero, Guigo, Cica e Teca.

Este texto foi escrito por: Webventure

Last modified: fevereiro 25, 2017

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Redação Webventure
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