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Empresários do segmento de esportes e turismo de aventura discutem o mercado na Adventure Fair

Direto da Adventure Fair – O mercado de aventura foi o tema na noite de ontem de um debate no dia do trade da Adventure Sports Fair, feira de esportes e turismo de aventura que acontece até 27 de agosto na Bienal do Ibirapuera, em São Paulo (SP).

No estande do Adventure Congress, que pela primeira vez em oito edições desceu do terceiro andar do prédio da Bienal e ficou no Piso 1, no espaço da revista Go Outside, reuniram-se empresários expoentes do setor de produtos e serviços destinados a esportes de aventura.

O mediador foi Fernando Solano, jornalista da Rádio Eldorado, que recebeu Said Aiach Neto, do Ecomotion Outdoor Sports Marketing, Sérgio de Sá “Zolino”, do Adventure Camp, José Pupo, da Canoar, Justo Alcazar, da Half Dome e Alexandre Barbone, da Kailash, para falar do surgimento do mercado, tendências, oportunidades e aventura no dia a dia.

O debate, que durou pouco mais de uma hora, ficou centrado nas organizações de corrida de aventura e no papel do organizador e do atleta nas competições. Muitos organizadores de eventos e esportistas estavam presentes no pequeno auditório lotado e as perguntas partiram deles para os convidados.

Papel das inscrições – Na primeira pergunta, sobre qual o papel das inscrições nas provas, o organizador do Adventure Camp Zolino explicou que o valor das inscrições representa pouco no orçamento do evento e que ele admira quem realiza eventos de esportes de aventura sem patrocínio ou apoio de empresas.

Dentre os expectadores da palestra estava André Iervolino, atleta de corrida de aventura e organizador do Gaia Adventure, uma corrida de aventura solo, curta, que é realizada desde o ano passado sem patrocínios.

“A verdade é que para o atleta uma competição com mais investimentos tem maior infra-estrutura e proporciona mais retorno ao competidor, e isso se reverte em conforto, divulgação na mídia, e melhor atendimento do atleta”, explicou Zolino.

Já Said, organizador do Ecomotion/Pro, a mais importante corrida de brasileira e uma das maiores do mundo, acrescentou que Zolino tem o recorde de inscritos em prova e que as inscrições não representam nem 15% do valor gasto na organização da mesma. “No Ecomotion/Pro por exemplo são 250 pessoas envolvidas na organização do evento”. Said completa dizendo que, na sua opinião, com a verba das inscrições não há como dar sustentabilidade para o evento e nem a segurança necessária para realização do mesmo.

Ainda no tema das organizações de corrida de aventura, o empresário Justo da loja Half Dome, uma das pioneiras no segmento, lembrou do falecido Mario Lopez que foi quem começou com as provas curtas de corrida de aventura, em 1999 e 2000, que serviam como preparação para a Expedição Mata Atlântica de 99, no Petar. Ele realizou cerca de três provas em uma época que poucas pessoas no circuito de aventura sabiam o que era as corridas multiesportivas. Questionado sobre a segurança nas provas, Justo disse que o risco na maior parte da vem da falta de experiência dos atletas.

Os participantes deste encontro quiseram também saber se existe alguma entidade empresarial que congregue as empresas fabricantes e de serviço, se estão organizadas no setor e se existe essa organização para os organizadores de eventos. Também foi mencionado o fato de a ABETA (Associação Brasileira das Empresas de Turismo de Aventura) ao lado da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) estar criando normas para o setor de turismo e se haveria um tipo de regulamentação parecida nos esportes.

Quem começou a responder foi Alexandre, gerente de marketing da Kailash, que explicou aos presentes que está sendo criada uma associação de empresários, que tem tido encontros há dois meses. Zolino também disse que a Associação Paulista de Corrida de Aventura, que foi criada há exato um ano, na Adventure Fair do ano passado, é outro importante do setor, mas o esporte sempre foi complicado de se definir porque tem muitas modalidades e isso o torna mais complexo para ser gerenciado numa associação.

Outro ponto abordado nessa questão é que o esporte de aventura como um todo é novo, tem menos de 20 anos. “Normalmente, uma entidade do setor é criada quando alguém se aposenta, deixa de praticar o esporte como competição e passa a gerenciar, mas como esses esportes são novos, ainda mais no Brasil, esse perfil ainda não existe. O Rafael Campos (capitão da equipe Mitsubishi Francis Hydratta Quasar Lontra) é o presidente da APCA, mas veja, ele está competindo no Mundial de Corrida de Aventura”, citou Alexandre, dando como exemplo de que são ainda os próprios atletas, que tem muitos compromissos, ou mesmo empresários com agenda cheia que tem de organizador o setor. “Isso é uma tarefa bem complicada”.

A palavra adventure não significa apenas aventura na língua inglesa. Adventure é hoje a definição de um mercado de equipamentos, acessórios e vestuário, com estilo e vida próprios, que sofrem as mesmas influências do mundo da moda, mas com tendências próprias. A busca de matérias-primas de alta qualidade de tecnologia, as cores vibrantes, o design arrojado e as especificidades dos produtos, fazem de mochilas, barracas de acampar, tênis e botas, roupas e outras famílias de produtos um produto {a parte das prateleiras de lojas também do segmento.

O desafio deste mundo adventure é transpor as barreiras do técnico e seguir para o consumo casual, do dia a dia, para que uma bolsa ou calça técnica entre no cotidiano de uma pessoa que tem empatia com a linha aventura, o adventurewear, algo como foi a surfwear no passado e que hoje representa um mercado consolidado e lucrativo de pessoas que consomem artigos que remetem ao esporte surf, mas que não são praticantes deste esporte.

Para falar do mercado de consumo, Zé Pupo, dono da Canoar Rafting e Expedições, uma das maiores operadoras de rafting do país, respondeu sobre o crescimento e estabelecimento do segmento de “adventure” se dá não pelo esporte, mas pelo turismo de aventura.

Pupo mencionou que o publico hoje das corridas de aventura gira em torno de 3 mil pessoas e que a Canoar recebe anualmente 200 mil pessoas para descidas de rios em todo o país. “O mercado cresceu com as primeiras empresas de aventura e teve um boom no início do ano 2000, que resultou na abertura de outras empresas de rafting por exemplo, com ex-guias de rafting. A entrada de empresários de poder que investem na área foi pequena e as empresas ficaram concentradas em ex-praticantes e ex-atletas, que foram os pioneiros do setor. No Brasil, ser empresário é muito difícil; a tarefa é árdua e precisa de equipamento e investimento”. Zé lembra que expôs na feira nos primeiros anos e depois saiu, assim como Justo da Half Dome.

Outros empresários e marcas não estiveram presentes esse ano expondo na Adventure Sports Fair, o que caracteriza um amadurecimento do mercado e uma nova avaliação dos empresários quanto à representatividade da feira no mercado.

O jornalista Fernando Solano da Radio Eldorado, que há anos cobre eventos esportivos nacionais e internacionais, respondeu a uma pergunta da platéia explicando que o interesse da mídia na cobertura depende do atrativo do evento e do diferencial dele diante dos outros assuntos.

Explicou também que as corridas de aventura não tem mesmo o apelo que tinham antes, porque agora há um número maior de organizações. Mas que a Rádio Eldorado tem o cuidado de noticiar somente as provas que têm credibilidade junto ao meio.

Também falou que a cobertura depende do profissional de mídia envolvido: “O repórter tem de estar preparado para uma cobertura com sensibilidade, para contar histórias e pequenas notícias que acontecem durante uma cobertura, principalmente nas provas de corrida de aventura, que são longas. Já estive em vários eventos e acredito que se o jornalista não conseguir criar este diferencial a cobertura sempre será a mesma, sem graça e repetida. Acabei de voltar do Rally dos Sertões e nunca um rali é igual ao outro.”

Já Zé Pupo criticou a cobertura da imprensa, mostrando que são nas pequenas histórias, nas polêmicas durante a competição de corrida de aventura, que as corridas podem ganhar mais destaque e conseqüentemente atrair mais leitores e interessados no assunto.

Este texto foi escrito por: Cristina Degani