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Enfim, o dia chegou…

Redação Webventure/ Vela

Estava esperando para comentar uma regata como essa deste fim de semana há tempos. Finalmente agora tenho a chance. Quem teve a oportunidade de acompanhar de perto, bóia a bóia sabe do que eu estou falando. Para os que não puderam, uma pena, foi emoção do início ao fim, muitas ultrapassagens, lindas manobras – outras nem tanto – velas rasgadas, erros e acertos táticos e injustiças naturais do esporte.

Retrospectiva

Na “terra do canguru” o sábado amanheceu prometendo ventos de 10 a 15 nós. O Team ABN Amro ficou um pouco apreensivo pois, com ventos mais fracos do que 18 nós, os barcos desenhados por Juan K. são visivelmente mais lentos. Mas a atenção por lá não estava voltada aos líderes da competição, e sim para o Brasil 1, que correu contra o tempo durante mais de uma semana para ter o barco em ordem nessa manhã.

Um pouco antes de o dia clarear, Torben e sua tripulação perceberam que dois stays estavam com o tamanho errado; a possibilidade de quebra do mastro novo seria eminente se algo acontecesse com esses brandais. Entretanto, depois de tanto esforço e correria, seria frustrante não participar da regata in-port. Os brasileiros foram para a água com um acordo a bordo: se o vento soprasse muito forte, eles retornariam a terra. E assim, zarparam.

Eolo, Deus dos ventos na mitologia grega, proporcionou condições perfeitas ao Brasil 1; como se fosse um prêmio pelo esforço e trabalho. Logo na largada tudo parecia bem para o barco azul e branco, assumiram a dianteira logo após o tiro inicial pois o ABN Amro 2, adiantado, foi obrigado a voltar para a linha, assim como o Ericsson que mais próxima a comissão de regatas perdeu um tempo enorme ao ter que fazer a volta.

A flotilha apostou no bordo da direita, motivo pelo qual a opção de largar próximo a CR. Já o ABN Amro 2 e o Brasil 1 tinham como plano um bordo mais para a esquerda. Com a volta do ABN Amro 2 à linha, o caminho ficou livre para o time brasileiro, que montou a primeira marca em primeiro, mas seguido de perto pelo ABN Amro 1 e o movistar. Ericsson muito atrás “levava a lanterna”.

A partir daí foi nítida toda a diferença que um pau de spinakker faz em um barco. Os espanhóis do movistar vieram pouco a pouco tirando a diferença que tinham do ABN Amro 1, pois conseguiam andar na mesma velocidade, porém 5 graus mais arribado. Isto causou desespero no ABN Amro 1, mas, ao mesmo tempo, um certo conformismo já que não havia o que ser feito.

Na bóia de sotavento, Brasil 1 com boa dianteira erra na manobra, a tripulação deixa a buja muito solta e ela se enrola no stay de proa, e tendo talas, o trabalho foi grande para conseguir encher a vela sem quebrar o material. Essa faina custou a liderança. Os espanhóis embalados pularam na frente, só que não fizeram um bom contravento, e por aí seguiu a regata, ultrapassagens constantes…

O Brasil 1, sempre muito consistente, manobrando bem e usando uma buja ao invés de genoa como os demais, conseguiu re-assumir a ponta e abrir. Naquela hora parecia que a luta ficaria pelo segundo lugar. ABN Amro 1, muito rápido no contravento mas lento no popa, tentava “se segurar”. movistar alternava bordos bons e ruins, assim como o Piratas do Caribe que chegaram a estar em segundo.

Quando a vitória parecia certa para Torben, seu barco o deixou na mão mais uma vez; problemas com a adriça do spinakker. Sem a vela no alto foi triste assistir todo aquele esforço dos últimos dias indo por água abaixo… Os adversários foram passando e a ele sobrou a quinta posição.

Brilhante regata quem fez foi o Ericsson, com John Kostecki na tática. Depois de queimar a largada e um primeiro contravento sofrível, que o colocou em último lugar na primeira bóia, com calma a tripulação sueca se recuperou. Brigaram de forma incrível por um lugar no pódio, mas no fim terminaram em quarto lugar.

Depois dessa regata é hora da crítica especializada parar de creditar o sucesso do ABN Amro 1 ao projeto do barco. Ficou claro, evidente e nítido que a vitória não teve nada a ver com velocidade na água, e sim com treinamento, preparação do barco e tática.

O “tamanco preto”, como é chamado o ABN Amro 1 nas varandas dos clubes Brasil, afora era o mais lento nos ventos folgados, não conseguia arribar sem o pau de spinakker. Mas, com manobras perfeitas e uma tática impecável regida pela lenda viva do iatismo Australiano, o campeão da America’s cup John Bertrand, o ABN Amro 1 mostrou que é favorito sim e mais líder do que nunca. Esta realidade dever ser creditada, na verdade, a muito trabalho e esforço de quem trabalha dentro e fora do barco.

Finalizo esse texto feliz por saber que estou trabalhando com um time altamente profissional. Provou isso na água.

Infelizmente, não tenho como negar a tristeza de ver todo aquele esforço do Brasil 1 “cair por terra”. Foi no mínimo injusto.. Um problema no mastro novo o tirou do pódio. Isso não representa apenas alguns pontos a menos, ou ausência de uma medalha no peito daqueles atletas tarimbados, mas sim um banho de água na fria em uma tripulação que tem feito de tudo para não desanimar. Mando meu voto de força.

Parabéns ABN Amro 1!

Até mais,

André

Este texto foi escrito por: André Mirsky

Last modified: fevereiro 4, 2006

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