Com equipamentos acoplados ao capacete os câmera flyers registram as peripércias dos pára-quedistas (foto: Circus Free Fly)
O trabalho do câmera flyer consiste em registrar as manobras realizadas pelos pára-quedistas quando estão no ar, desde a saída do avião até a finalização da performance. É necessário realizar um “check list” antes de embarcar e, principalmente, antes de sair da aeronave: câmera em ordem, foco, luminosidade pré-ajustados, baterias reservas nos bolsos, lente e cabeçote limpos, fita digital com o tempo livre necessário para as gravações, capacete bem ajustado para evitar trepidações.
Antes de sair do avião também há necessidade de conferir se a câmera foi ligada e a gravação acionada, através da lâmpada piloto. Qualquer falha pode significar a pontuação mínima no salto (zero). Tudo funcionando certinho, o cameraflyer tem então que manter um bom enquadramento, distância apropriada de acordo com cada manobra, posicionamento em relação ao Sol… E participar ativamente do salto. Este item, a interação entre atleta e câmera flyer, está ganhando cada vez mais importância.
A imagem pode ter um caráter passivo, onde o telespectador tem uma visão contemplativa, ou caráter ativo, fazendo com que o telespectador se sinta voando e participando da prova. Em uma competição, ao pousar, o câmera não pode, em hipótese alguma, rever a filmagem até passá-la aos juízes.
Dicas e dificuldades – Para ser um câmera flyer é necessário, em primeiro lugar, o domínio do vôo, para mudar de ângulo ou manter a proximidade do objeto filmado. Em transições, como por exemplo da posição de cabeça para baixo para a posição de vôo em pé, o câmera deve girar tendo a lente como centro do giro. A lente é o centro do vôo, e nunca deverá aparecer em cena um braço ou uma perna, exceto quando for intencional para a performance, como um aceno.
Uma das maiores dificuldades no processo de filmagem é manter a proximidade quando uma performance envolve mudanças radicais de velocidade. Há um salto nosso em treinamento, por exemplo, em que, após uma manobra que acontece a 350 km/h, segue-se outra que, devido à posição dos corpos em relação ao vento relativo, reduz a velocidade a 180 Km/h, para, 1 segundo depois, acelerar novamente para 350 km/h! Se eu não antecipar a manobra, eu me afastarei irreversivelmente do grupo.
Outra grande dificuldade é afastar-se rapidamente para manter o enquadramento quando os atletas se distanciam. Se um deles sair do quadro, perdem-se muitos pontos.
O goleiro dos céus – A responsabilidade do câmera flyer durante uma competição de pára-quedismo é semelhante a de todos os integrantes do time. As decisões têm de ser tomadas rapidamente. Aproximações e afastamentos, posição do sol, antecipação de velocidades… Lembra um pouco a responsabilidade de um goleiro! Se ele falha, o resultado é desastroso! Gosto de saltar, em campeonatos, com duas câmeras, pois sempre estamos sujeitos a ter uma pane de funcionamento delas.
Além disso, existe a questão do sincronismo e da interação da equipe. Na maior parte do tempo, os atletas nem sabem onde o câmera está, exceto em algumas manobras interativas, onde em determinado momento ele deve aparecer em determinado lugar. Mas existe uma orientação espacial previamente combinada, uma linha de vôo preestabelecida que facilitará meu posicionamento. Este é um assunto importante durante a análise de cada salto.
(*) Cid Manicardi é o câmera flyer da equipe Circus Free Fly de pára-quedismo, vice-campeã brasileira da modalidade free fly e décima colocada no último Campeonato Mundial.
Este texto foi escrito por: Cid Manicardi, especial para o Webventure