Cume próximo (foto: Ed Padilha)
O empresário e montanhista Edemilson Padilha escalou o Cerro Torre na temporada passada e conta aqui alguns detalhes de sua conquista. Para saber de toda a aventura, leia seu relato no Minha Aventura.
Webventure – Descreva para os internautas qual o local exato, distância percorrida ao campo base, altitude alcançada e o equipamento levado. Quantos quilos vocês carregaram?
Edemilson – El Chaltén, na entrada do Parque Los Glaciares, na Província de Santa Cruz, Argentina. Estive por 30 dias no Camping Madsen, em El Chaltén. Deste povoado saem as trilhas para chegar aos acampamentos avançados das montanhas, que chamamos de bivaques. Nestes locais dormimos geralmente em covas de gelo ou covas de pedra, sem barraca. Para se chegar nos bivaques (acampamentos avançados), gastávamos em média 8 horas. Dos bivaques até as montanhas, umas duas horas.
Não há montanhas de grande altitude na região, ou seja, não é praticado montanhismo de alta montanha. Pratica-se a modalidade chamada Escalada Alpina. As paredes das montanhas é que são gigantes, como é o caso do Cerro Torre, com 1400 metros de granito e gelo. Sobre os equipamentos levei uma variedade muito grande, pois necessitamos de material para escalada em gelo, para escalada em rocha em livre e em artificial, sacos de dormir, fogareiro, muitas roupas e muitos outros acessórios.
Além disso ainda tínhamos que carregar comida para 5 ou 6 dias cada vez que atacávamos as montanhas. A mochila pesava geralmente mais de 20 quilos.
Webventure – Quais eram seus companheiros?
Edemilson – Gabriel Otero, argentino e Isaac Cortes, catalão.
Webventure – Quais as dificuldades técnicas desta escalada?
Edemilson – Nas vias que escalamos, encontramos trechos de escalada livre em rocha, graduados em até 7c (graduação brasileira), escalada artificial A3 e gelo com inclinação de 70º. Porém, a maior dificuldade não era a técnica e sim a instabilidade climática. São poucos dias de tempo bom em toda uma temporada de escalada. E quando acontece do tempo estar bom, há que aproveitar. Se você não está na parede quando surge uma brecha de tempo bom, pode ser que a próxima demore muitos dias. E a previsão do tempo não é muito precisa na região. E quando ocorre do tempo virar durante a escalada, os rapéis tornam-se infernais.
Webventure – Como foi essa conquista para você?
Edemilson – Fiquei muito emocionado. Desde que iniciei no mundo do montanhismo ouço e leio histórias sobre a região e, principalmente, sobre o Cerro Torre. Esta montanha é a mais mítica e desejada do alpinismo mundial. Devido à sua imponência e à história de sua conquista, que foi marcada por tragédias e por muita controvérsia.
Webventure – Qual a via – ou as vias – utilizadas? Teve alguma manobra excedente? Conte para a gente.
Edemilson – Em detalhes:
Agulha Guillaumet – Via Espolon Brenner (500m, 5º, 6b)
Cerro El Mocho Via Salvaterra Cavallaro (400m, 6º, 7b)
Torre de La Media Luna – Via Rubio y Azul (400m, 6º, 7c)
Cerro Torre – Via do Compressor (1100m, 6c, A3-fixo, 70º)
Webventure – O que fica para vc após esta brilhante escalada?
Edemilson – Acredito que chegar ao cume do Cerro Torre é fruto da dedicação de muitos anos em que venho treinando, escalando vias difíceis, escalando rápido e conquistando muitas vias. Para mim fica a imagem de uma montanha mágica que marca o início de uma nova fase em minha vida; sinto-me mais maduro após esta escalada e com a energia renovada para me dedicar ainda mais.
Webventure – Como podemos contextualizar esta conquista no cenário nacional e até internacional?
Edemilson – Tornei-me o terceiro brasileiro a atingir o cume do Torre. Fazia 13 anos que nenhum brasileiro atingia o seu cume. Os outros escaladores brasileiros que escalaram o Cerro Torre antes de mim foram Luiz Makoto Ishibe, em 1990 e Alexandre Portela, em 1992. Acredito que esta escalada seja muito positiva no âmbito internacional, pois estavam na região alguns escaladores do mundo inteiro e tomaram conhecimento que um escalador do Brasil, um país que não tem montanhas de gelo, pisou no cume do Cerro Torre. E , inclusive, escalando mais rápido que as outras equipes que estavam na montanha.
Este texto foi escrito por: Cristina Degani