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Equipe de Waldemar Niclevicz é a primeira das Américas a escalar a cachoeira de Salto Angel


Waldemar Niclevicz era o líder da expedição (foto: ARquivo pessoal/ Site Waldemar Niclevicz)

Depois de passar por momentos dramáticos na escalada da maior cachoeira do mundo, a Salto Angel (979 metros), Waldemar Niclevicz finalmente conseguiu completar a subida e fazer história no montanhismo das Américas. Ao lado de Edmilson Padilha, Valdesir Machado, Serginho Tartari, Chiquinho Hartmann e Orlei Junior, a equipe brasileira se tornou a primeira dos continentes americanos a alcançar o cume da cachoeira venezuelana.

“Nós conseguimos concluir a subida sem maiores problemas. Deu tudo certo. Uma escalada impressionante, muito bonita, mas ao mesmo tempo exigente e delicada, já que a pedra é muito decomposta. E, no geral, exigiu muito de todos. Nós tivemos um desgaste psicológico muito forte em toda a subida”, contou Niclevicz.

Ainda em traslado para o retorno ao Brasil, o montanhista explicou um pouco sobre os difíceis momentos que passou no dia nove de fevereiro. Ao alcançar a metade superior do Auyantepuy, não haveria outra opção a não ser chegar ao topo da parede. Para tanto, precisariam de uma autorização das autoridades ambientais locais para dar continuidade a expedição, algo que, por alguns momentos, deixou a equipe aflita.

“Ficamos apreensivos no começo, em que eles pediram para nos apresentarmos. Mas eu falei com o pessoal do parque pelo rádio e eles nos receberam muito bem, de uma forma amigável. Eles queriam apenas que nós relatássemos o que estávamos fazendo lá. Depois, ainda falamos com a diretora do local e ela foi super simpática e nos explicou que a apresentação nada mais era do que um processo normal do parque”, explicou.

Celebridades – Depois de superar o problema da autorização para a escalada, a aventura de Niclevicz tornou-se uma das mais divertidas da carreira do escalador. Segundo Waldemar, após obterem o apoio local, a expedição dos brasileiros virou uma atração a parte no Parque.

“Todos vibraram com a nossa ascensão porque é algo raro. Foi apenas a quarta vez na história que foi feita a escalada pela cachoeira. Então nós viramos atração. Todos os dias vinham helicópteros, aviões e dezenas de turistas. Vários grupos iam até lá e nos elogiavam, ainda mais por sermos a primeira equipe das Américas que enfrentou o Salto Angel. Eles têm um sentimento muito forte de latinos e hermanos”, disse o brasileiro.

Além do apoio dos visitantes, outro ponto foi destacado por Niclevicz em sua jornada: a beleza do local. Em um dos lugares mais paradisíacos da Venezuela, o escalador contou que as paisagens eram de tirar o fôlego, o que deu um charme a mais à aventura no Tepuy de maior superfície da região, cerca de 700 quilômetros quadrados.

“É uma floresta quase intocada, que lembra a nossa Floresta Atlântica, mas é uma floresta equatorial. Os rios também são belíssimos, mas o encanto maior foi pelo Salto Angel, porque ele estava na cachoeira, com muitos arco-íris, chamando a nossa atenção e dando uma magia ainda maior ao nosso desafio”, afirmou.

Apesar da escalada de Niclevicz e dos outros brasileiros não ter sido uma das maiores de seus currículos, as dificuldades encontradas pelos montanhistas foram várias. Ao todo, a subida exigiu 17 dias de escalada, sendo 13 dias pendurados e os outros quatro usados para fixar as cordas nos primeiros 400 metros da parede.

“A parede é super desafiadora. Uma parede de mil metros de altura extremamente complicada e muito mais difícil do que o El Capitan (Parque de Yosemite, Califórnia, EUA 910 metros), onde a rocha é muito mais sólida. Era difícil porque nós carregamos parede acima 220 litros de água e cerca de 500 quilos de comida e equipamentos. Foram três acampamentos suspensos ao todo. Então era muito trabalhoso puxar os haul bags e mudar de acampamento, se instalar na parede”, contou.

Em 13 dias suspensos, os brasileiros precisaram utilizar sua experiência para superar as dificuldades psicológicas da aventura. A escalada foi quase toda em negativo, em uma rocha muito difícil de se proteger, já que grande parte dela era muito precária e não permitia uma segurança absoluta, o que aumentava o desgaste dos escaladores.

“Depois que nós entramos na parede, descer era praticamente impossível, porque era tudo extremamente vertical. Então, o difícil ficou pela condição da rocha, que era um arenito sólido, mas com pouquíssimas possibilidades de proteção confiáveis. Havia locais que não era possível colocar nada. Havia também muitos blocos gigantescos soltos. Tudo que você tocava era instável. A impressão era de que você estava escalando sobre cascas de rochas”, explicou.

União e conquista – O fator fundamental apresentado por Niclevicz para a conclusão do desafio foi a união da equipe. Experientes e acostumados uns com os outros por já terem participado juntos em outras expedições, os brasileiros compartilharam seus conhecimentos para concluir a subida com toda a segurança possível.

“Uma coisa que foi fundamental para o sucesso da expedição foi a união da equipe. O desempenho do time e relacionamento entre nós foi fantástico. Havia muita disciplina. Estávamos muito focados na escalada em si e em superar esse desafio. Havia uma sinergia no grupo para que isso acontecesse e era quase inevitável conseguirmos alcançar o topo”, afirmou.

No fim da expedição, ainda, o cooperativismo foi ainda mais fundamental, já que precisaram abrir um novo caminho para chegar ao topo da parede. Essa parte, no entanto, trouxe aos brasileiros uma recompensa enorme, já que agora escreveram seus nomes em uma nova linha da enorme subida.

“Nós abrimos uma variante no final, porque, a princípio, parecia impossível a saída. Nós tentamos a rota espanhola e depois, logo no início, abortamos a saída inglesa/ francesa. Então nós achamos uma linha muito linda, abrimos um diedro brasileiro de 60 metros maravilhoso. Então acabou ficando a variante brasileira que, com certeza, será usada se alguém repetir porque foi uma opção muito inteligente encontrada por nós”, finalizou Waldemar.

Este texto foi escrito por: Caio Martins