20.01.2000 A maior preocupação já passou. A equipe Hollywood Troller superou a temida etapa de hoje, 14a. da prova, entre Khofra (Líbia) e Dakhla(Egito), total de 852 km dos quais 789Km de especial – a mais longa do rali – e segue firme, com os quatro carros, rumo ao Cairo. É que o piloto Reinaldo Varella reassumiu o volante de seu Troller T5 e está seguindo a caravana com o objetivo de cumprir a missão de chegar ao Cairo com os quatro Troller.
Na classificação geral da Novatos, Arnoldo Jr./Galdino Gabriel continuam em 4o. lugar, seguido por Cacá Clauset/Amyr Klink, que caíram uma posição, estão em 6o. Roberto Macedo/Marcos Ermírio aceleraram forte e tiveram o melhor desempenho da equipe, subindo da 13a. para a 12a. colocação. A liderança da categoria continua com a dupla italiana Gomiero/Picchiottino (Nissan).
Entre os ponteiros, os Schlesser Megane Renault fizeram sua segunda dobradinha do Rallye, desta vez com o espanhol Servia 4 segundos na frente do “chefe” Schlesser e Peterhansel/Cottret (Mega Desert), em terceiro. Só um problema pode agora tirar a segunda vitória consecutiva do francês na prova, que aumentou para 13 minutos a sua liderança sobre o protótipo Mega de Stephane Peterhansel/Cottret. Mesmo assim Schlesser insiste que nada está decidido e que 13 minutos não são nada no deserto.
Fadigatti passa bem
Foi uma longa noite no acampamento de Khofra, mas hoje pela manhã o navegador Alberto Fadigatti, que quebrou duas vértebras após decolar numa duna a 100 km/h na etapa de ontem, sentia-se bem melhor. Ele seguiu de Khofra (Líbia) para Dakhla (Egito), onde a caravana do rali chega hoje. De Dakhla, onde ficou muito feliz em encontrar nossa equipe de comunicação, ele seguiu com mais 3 acidentados em outro avião médico, às 16 horas locais, para o Cairo, onde terá melhores condições de atendimento médico.
Em contato pelo celular Iridium, Fadiga, como é chamado carinhosamente pela equipe, veterano de provas de rali no Brasil, com 30 anos de experiência, já demonstrava sinais de melhora. Contava piadas e brincava com os médicos, que não queriam deixá-lo falar ao telefone: Preciso falar ao telefone, pois sou um grande campeão no Brasil e eles querem me ouvir, argumentava. Ele e Reinaldo Varella são os atuais campeões brasileiros de rali. Fadiga queixou-se ainda de dores nas costas, mas os médicos garantem que é normal. Mesmo enfermo, Fadigatti não parava de pensar no rali.
Nossa, foi um dia difícil, mas são nessas horas que dá um alívio poder contar com nosso patrocinador, o Bradesco Seguros. Fiquei feliz que meu companheiro, o Varella, não abandonou o compromisso de chegar ao Cairo, pois acima de tudo, minha grande satisfação é que os 4 carros cheguem lá, como planejamos desde o início. Eu vou de maca e o Varella vai de carro, brincou.
Varella segue com o carro rumo ao Cairo
Reinaldo Varella, companheiro de Fadigatti, também recuperou-se do susto e hoje reassumiu o volante de seu Troller T5 com o objetivo de conduzi-lo até o Cairo. Ele está seguindo a caravana, atrás dos caminhões de apoio da equipe em companhia de Jorge Nieckele, chefe de equipe. Vamos chegar com os quatro carros no Cairo, como era nosso objetivo desde o início da prova. Estou fora da classificação, mas rali é assim mesmo. O importante é que o Fadiga está bem e em sua homenagem vou chegar lá com nosso Troller, disse Varella.
Direto do deserto
Palavra do Cacá
Está tudo ótimo e estamos andando num ritmo tranqüilo, para chegar sem problemas. Hoje na largada fiz um papelão, atolei ! A luz do painel indicava que a tração 4×4 estava acionada, só que eu estava 4×2. O pior é que fotografaram … O único problema que tivemos hoje foi que uma pedra estourou a mangueira do rodoar sistema que infla e desinfla os pneus e esvaziou um pneu. Demoramos uns 7 minutos para detectar o problema mas não perdemos muito tempo com isso. No mais, nossos três carros estão em ordem. Estávamos apreensivos com a etapa de hoje, por ser a mais longa, quase 800 km. Acredito que o mais difícil já foi. Mas sei que isso não quer dizer nada, hoje mesmo um carro capotou de bobeira, como o Varella ontem. Estamos chegando.
O que esperar de amanhã – Etapa 15 – 21.01.00
A caravana do Dakar acampa por duas noites seguidas no oásis de Dakhla. Um oásis que soube conservar o seu charme com o passar dos anos, com suas vilas tradicionais e as paisagens surpreendentes. Espremido entre um grande platô montanhoso que serve de vizinho e por altas dunas de areia que se movimentam constantemente, Dakhla soube conservar a sua personalidade.
É uma etapa que permite aos concorrentes se reagruparem. Passa pelas dunas gigantes do oeste egípcio e alterna a travessia dos ergs, as grandes dunas e os maciços rochosos.
A segunda parte da especial (na verdade um “circuito oval” disputado no
sentido horário) a descida em direção a Dakhla novamente é traçada entre os vales das
dunas de mármore branco. O momento culminante do dia se situa a 20Km da chegada: uma vertiginosa descida de uma falésia permite aos veículos “surfarem” por uma distância de 2 km em uma encosta arenosa impossível de ser escalada.
Classificação geral Novatos:
Comentário do Piquet
Quanto mais passam as etapas deste Paris Dakar Cairo, mais me dá vontade de estar por lá. Uma prova assim que combina estratégia com velocidade pura, com soluções mecânicas e com expediente é um palco perfeito para quem tem as corridas no sangue. Uma prova moderníssima de uma lado com satélites, comunicação e apoio aéreo, mas uma prova tradicionalíssima por outro lado com romantismo, companheirismo e desafio inesperados. A caravana toda se torna uma grande família e provoca entre todos presentes “uma sensação de sossego, de aconchego, só comparáveis ao do peregrino que, ao atravessar o deserto, se ergue no seu dromedário e avista a longa fila da caravana marchando, cheia de lumes e de armas”. Como não poderia ter dito melhor, há 100 anos atrás, Eça de Queiroz em A Cidade e as Serras.
Egito
Heródoto, o antigo historiador e viajante grego, certa vez descreveu o Egito como sendo o “presente do Nilo”. Desde muito antes do nascimento de Cristo os viajantes foram atraídos pelas imagens das pirâmides, da Esfinge, da antiga cidade de Luxor e pelo Nilo.. Os Faraós, os Gregos, os Romanos, os Árabes, os Turcos e os Ingleses todos reinaram no Egito e o país de hoje é uma amálgama de todos esses legados mais a influência do Islã e do século XX.
Vilarejos de casas de pau a pique convivem com ruínas faraônicas, cercadas por arranha-céus de vidro e metal. Os Beduínos vivem em tendas feitas com couro de cabra e os fazendeiros trabalham a terra com os mesmos utensílios de seus antepassados. Trajes locais dividem as ruas com calças jeans e tênis modernos. Carros disputam espaço com carroças e em nenhum lugar esses contrastes estão mais presentes do que na capital, Cairo.
Mais de 90% do País são desertos o que faz com que 99% da população habite apenas 3% da área total, justamente as férteis regiões do vale e do delta do Nilo. Rio ao qual está intrinsicamente ligado a história do país e quem tem sido a sua fonte de vida econômica, política, social e religiosa desde que a área foi ocupada pela primeira
vez.há aproximadamente 5000 anos atrás.
Mais de 50 faraós, 30 dinastias e 2700 anos se passaram até que Alexandre , o Grande inaugurou um longo período de domínio estrangeiro. Apesar de todo o legado dos tempos dos faraós – pirâmides (a primeira foi construída no século 27 AC), templos, pedra da Roseta, sistemas públicos de esgoto e arte – ainda há muito o que
aprender sobre o período. Talvez assim se possa entender melhor a força cultural e a fatalista atitude da população local, nascidas ambas de milhares de anos de invasões.
A Comida
A mesa egípcia reflete a história do País. Os cozinheiros locais usando os ingredientes disponíveis modificaram as tradições Gregas, Turcas, Libanesas, Palestinas e Sírias, para acomodar orçamento, costumes e gostos egípcios. Os pratos normalmente são
simples, feitos com frutas e vegetais naturais e condimentados com temperos diversos. No sul e no deserto a tendência aponta na direção da cozinha da África do Norte, um pouco mais temperada do que a cozinha do norte do país. Cada pequena cidade se orgulha de suas pequenas diferenças históricas em preparar os mesmos pratos. É uma cozinha cosmopolita, como a própria história.
Este texto foi escrito por: Meg Cotrim
Last modified: janeiro 20, 2000