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Equipe Selva volta ao Brasil e conta sobre o Desafio de Los Volcanes


Equipe terminou na 4ª colocação (foto: Thiago Padovanni/ www.webventure.com.br)

A equipe Selva NSK Kailash acaba de voltar de uma das provas mais difíceis que já participou, mas traz na bagagem um resultado inédito para eles e para o Brasil. A equipe conquistou o quarto lugar no Desafio de Los Volcanes, prova que cruzou a Cordilheira dos Andes, da Argentina até o Chile.

Carlos Eduardo, o Caco, Erasmo Cardoso, o Chiquito, Rosângela Hoeppner e o capitão Marcio Campos completaram o percurso de 550 quilômetros em 5 dias, 9h34. Nesse período, eles dormiram apenas 11h25 e só pararam pela primeira vez após 30 horas de prova.

Segundo a organização e os próprios atletas, essa foi a edição mais dura da prova. Apenas quatro equipes completaram o desafio sem cortes, incluindo a Selva. As altitudes variaram de 900 a 2850 metros e a sensação térmica foi de -20ºC a 35ºC.

A prova teve 14 PCs, um número considerado baixo. No Ecomotion/Pro do Rio de Janeiro, em 2006, a distância foi a mesma mas teve quase o dobro de PCs, 26 no total. “Quanto mais tempo fica sem apoio, pior. É mais sofrimento”, destacou Marcio. Com o baixo número de PCs, as equipes ficam muito tempo sem encontrar seus apoios e têm de carregar consigo todos os equipamentos, além de comida e água. A organização fornece um carro e uma pessoa para fazer o apoio para todas as equipes.

A equipe gastou, entre inscrição, hospedagem, transporte e alimentação um total de R$ 16.148,00. Um dos grandes problemas nos aeroportos e rodoviárias foi o excesso de peso, afinal, eles levaram 240 quilos de equipamentos.

Trechos desconhecidos – No primeiro trecho de bike, a equipe tinha uma diferença de apenas quatro minutos para o líder. Mas quando chegaram ao próximo PC, essa diferença era de mais de 50 minutos e eles haviam sido superados por diversas equipes sem terem sido ultrapassados por ninguém. “Os argentinos conhecem muito bem a região, é o quintal da casa deles. Eles conhecem caminhos que não estão nos mapas e não podíamos arriscar em seguir algo que não estava traçado”, comentou Caco.

A organização entrega para as equipes diversos tipos de mapas, inclusive guias turísticos. Nenhum deles segue qualquer padrão e são em escalas totalmente diferentes. Até mapas em preto e branco a equipe recebeu. “Para quem reclama dos mapas nas provas do Brasil, quando peguei os mapas de lá senti uma saudades das provas daqui”, comentou Marcio.

Um dos itens obrigatórios que cada atleta tem que carregar consigo é uma seringa com adrenalina. No briefing antes da prova, a equipe médica explicou como usar e disse que era essencial em casos extremos, já que a prova passou por regiões inóspitas e não se sabe o tempo que a equipe médica demoraria para fazer o resgate.

Logo no início da prova, antes das 12 primeiras horas, Marcio fez com que todos parassem pois ele estava cansado e com muito sono. Apesar da negativa da equipe, os outros três acabaram parando também. Enquanto Marcio e Chiquito dormiram por cerca de 15 minutos, os outros dois ficaram fazendo polichinelo. “As equipes passavam pela gente e não entendiam porque tinham dois dormindo e dois fazendo polichinelo no meio da neve, naquele frio”, comenta Caco.

A organização exigia que todas as equipes parassem por, no mínimo, 15 horas. No PC 11, quase no final da disputa, foi onde a equipe mais dormiu. Ao todo, foram seis horas seguidas. “Foi muito bom. Deu para zerar todo mundo”, afirmou Caco.

No último trecho, a equipe ficou mais de oito horas sem comida e água. Mal sabiam eles que, na chegada, a Rose abriria sua mochila que estava recheada de chocolate e barras de cereais.

Recompensa final – “Como fomos militares (Marcio e Caco), temos esse negócio de determinação e de cumprir a missão sempre. Mas o fator principal foi a integração da equipe. Um se apoiava no outro e a equipe fluiu. Tivemos muitas dificuldades, mas superamos todas”, destacou Marcio. O atleta ficou muito feliz com a quantidade de e-mails e ligações que eles receberam antes e depois da prova, com pessoas torcendo e apoiando até o final.

Caco destacou os principais pontos que fez a equipe terminar a prova: “visão, determinação, alegria, excelente equipe de apoio, navegação sem erros e a torcida”. Mas o atleta também sofreu, principalmente nas técnicas verticais. “Quase chorei na primeira ascensão, de 70 metros. Foi muito difícil”, comentou.

Rose, que tem 45 anos, participou de seu sexto Volcanes. “Para mim, essa prova é um desafio”. A atleta mora em Ribeirão Preto, interior de São Paulo e não tem as condições adequadas de treinamento. “Não tem nada igual na minha região”. Para a canoagem, por exemplo, ela treina em uma piscina, mas sem o caiaque. “O prazer de passar na linha de chegada supera tudo isso.”

Para esse ano, a equipe quer participar das principais provas nacionais, como o Brasil Wild, Chauás e Ecomotion/Pro, além de duas internacionais. “Temos que fazer uma outra prova de aventura que é arrumar patrocínios para irmos para essas competições”, brinca Marcio.

Este texto foi escrito por: Thiago Padovanni