Foto: Pixabay

Equipe Troller Dakar nasceu nos Sertões 99

Redação Webventure/ Offroad

A história da equipe Troller Dakar começou no final do Rally Internacional dos Sertões 1999, em julho, quando comentei com o Mario Araripe, proprietário da Troller, que o “jipinho” poderia andar muito bem no rali Paris-Dakar, já que com motor original de 115 cv ganha até dos Pajero Evolution com 280 cv na areia – piso predominante no Dakar. Essa vantagem se deve ao fato de ele ser mais leve e porque a sua distribuição de peso é perfeita, sendo que cada roda fica responsável por 25% do peso total do carro.

A idéia foi em frente e pedi uma licença da revista Quatro Rodas para tocar o projeto. Como necessitava de ajuda, convidei o Alberto Fadigatti, um dos mais experientes profissionais de rali do Brasil. Assim, eu e o “Fadiga”, começamos a montar o esqueleto da equipe.

Montando o time

Primeiramente, convidei o Amyr Klink para ser meu navegador, afinal, quem melhor do que ele para se achar no meio de um deserto? O Reinaldo Varella foi um nome natural para ser o piloto do Fadiga, velhos companheiros que são de outros ralis e outras vitórias.

Para quem pensa que navegar no mar é muito diferente do que na terra, se engana. Os equipamentos, GPS (posicionamento por satélite), bússola e mapa se aplicam nas duas modalidades. O que muda é o meio, de aquoso para terrestre. Segundo Amyr, “as dunas são as ondas do deserto”. Essas eram as duas duplas que iriam para o rali a principio.

Com a grande repercussão na mídia e para garantir o sucesso da empreitada, decidimos incluir mais dois jipes no projeto. Um será pilotado por Roberto Macedo e navegado por Marcos Ermírio de Moraes e o outro, pilotado por Arnoldo Junior e navegado por Galdino Gabriel. Agora sim o time definitivo estava formado. O Nélson Piquet, grande admirador da marca foi convidado a pilotar um dos Troller, mas preferiu ajudar a equipe de outra maneira: encarregando-se dos contatos com os pilotos e equipes de destaque no exterior, além de dar consultoria na parte técnica.

Caminhões de apoio espanhois

Como necessitávamos do maior número possível de informações, pegamos um avião em agosto com destino a Europa. Viajamos eu, Fadiga, Varella e o preparador de motor argentino Arthuro Peperment (que depois foi substituído pelo Roberto Salles de Fortaleza). Percorremos Portugal, Espanha e França em busca de informações. Conversamos com muita gente que já fez a prova e começamos a conhecer um pouco mais de como é participar do maior rali do mundo. Ao contrário do que eu esperávamos, fomos bem atendidos, todos foram muito solícitos e dividiram seus conhecimentos conosco. Terminamos a viagem com um contrato fechado com o Epsilon Team, equipe espanhola que fará o apoio da nossa equipe com três caminhões Mercedes-Benz, sendo, dois 4×4 e um 6×6. Estes caminhões irão percorrer a trilha como competidores, parando para ajudar quando for preciso. Além do piloto e navegador, cada caminhão terá ainda um mecânico brasileiro. Deixamos o passo mais importante da viagem para o último dia: as inscrições junto a TSO (Thierry Sabine Organization), organizadora do Dakar 2000.

Pronto, agora não tem mais volta. Retornamos ao Brasil felizes e apreensivos com o futuro. O tempo até a prova é curto e temos muitas coisas para fazer. Uma delas é fechar um bom patrocínio. Por enquanto já temos fechados a BF Goodrich (fabricante de pneus do grupo Michelin), Varig Cargo e Banco do Brasil, além de um ótimo contato com a Hollywood, que casa perfeitamente com essa situação de no limits.

Os carros estão sendo preparados em Fortaleza, na fábrica da Troller, pelo Paulo Roberto Salles, o Beto (chefe dos mecânicos), e Jorge Nieckele (chefe de equipe). Esses carros irão utilizar motores cedidos pelo departamento de engenharia da Ford, um V6 4.0 com cerca de 200 cv de potência e 35,0 kgfm de torque. A parte mecânica sofrerá algumas adaptações para resistir às dificuldades da prova. Os eixos, a própria fabricante Dana está fazendo os reforços; os amortecedores são da marca Ohlins, franceses, e figuram como os melhores do mundo para essa finalidade; a parte elétrica está sendo montada pela TCA, líder mundial em chicotes para carros; as rodas estão sendo produzidas pela Mangels, com uma liga um pouco mais resistente, e assim por diante.

Nunca houve um carro de rali no Brasil com esse esmero na preparação. Os equipamentos internos levam a marca Sparco, homologados pela FIA. Ou seja, estamos falando de quatro verdadeiros carros de rali, que têm como principal finalidade, serem resistentes para completar os 10 000 km da prova e chegar ao Cairo, aos pés das piramides do Egito, em grande estilo.

Jean-Louis Schlesser: um apoio de peso

Uma outra viagem de conhecimento foi feita por mim e pelo Beto para a Argentina, onde estava sendo disputado o Rali dos Pampas. Como esta prova faz parte do calendário mundial, o francês Jean-Louis Schlesser, vencedor do Dakar em 99, estava presente com seu buggy Mégane. O Piquet, através do Lua, conseguiu marcar um encontro com ele. E lá estávamos nós tirando o máximo de informações daquele que foi o grande vencedor da edição passada. Schlesser é uma pessoa muito amigável, gostou muito do nosso projeto e ajudou no que foi preciso. Tiramos muitas fotos dos detalhes de preparação de seu buggy, para ter uma referência aqui no Brasil.

Com isso, aumentamos ainda mais a robustez do Troller, e o “jipinho”, com aparência de bravo, já está quase pronto para enfrentar as areias do Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses, local escolhido para os treinos aqui no Brasil.

Ficha técnica do modelo Troller T5

Motor:

Ford V6, 4.0 litros, gasolina, dianteiro, longitudinal, injeção eletrônica multipoint (o mesmo que equipa a picape Ranger).

Diâmetro e curso: 100,42 x 84,4 mm

Cilindrada: 4.011 cm3

Potência: 200cv a 5.200 rpm

Torque: 36.1 kgfm a 2.850 rpm

Suspensão:

Dianteira: eixo rígido, amortecedores duplo Ohllins pressurizado

Traseira: eixo rígido, amortecedores duplo Ohllins pressurizado

Tração:

4×4 integral

Freios:

Dianteiro: disco ventilado

Traseiro: tambor

Rodas

Mangels aro 15 x 7

Pneus

BF Goodrich Baja 33 x 10,5 aro 15

Câmbio

Manual 5 marchas com engrenagens retas

Dimensões

Comprimento: 3m98

Largura: 1m85

Altura: 1m82

Peso: 1 650 kg

Tanque: 380 litros

Este texto foi escrito por: Cacá Clauset

Last modified: outubro 7, 1999

[fbcomments]
Redação Webventure
Redação Webventure