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Escalada e montanhismo: do indivíduo aos clubes e federações

No início eramos todos amadores, e a escalada era de certa forma uma contra-cultura frente aos costumes, valores e ideais da sociedade.

“Quando comecei a escalar montanhas, em meados dos anos 70, passei a integrar uma reduzida confraria de pessoas consideradas exóticas pela maioria da população, que saíam muito cedo de casa nos finais de semana, mochila às costas, para percorrer trilhas e vias de escalada escassamente visitadas. O montanhismo era então domínio exclusivo de amadores, o que lhe valia, inclusive, o apelido de “esporte diferente” por inexistir competição direta entre os seus praticantes.” (André Ilha do texto Leis de mais, aventura de menos)

Se voltarmos no tempo até a década de 60, no vale de Yosemite (EUA) se formava uma comunidade que não se identificava com os valores sociais da época, que não se enquadrava na norma, e via naquela lugar o seu Nirvana, o lugar perfeito para se isolar, para realizar sonhos de liberdade, para expressar sua individualidade.

“Lá embaixo, havia apenas dez pessoas que sabiam que estávamos aqui em cima. Mesmo se fossemos bem sucedidos na empreitada, não haveria multidões buscando heróis, nenhuma reportagem de jornal. Felizmente a escalada norte-americana não havia progredido ainda para este estado lamentável” (Yvon Chouinard, sobre o Muir Wall, 1966)

“Em 1963, pessoas como Robbins, Chouinard, Pratt, Beck e eu já havíamos habitado o vale por meses seguidos. Sentíamos que pertencíamos àquele lugar; era nosso lar espiritual. Longe das cidades e das responsabilidades, vivíamos de forma simples, em paz com nós mesmos e com o mundo. Pensávamos que a escalada nos tornava pessoas melhores, e talvez nos tornava mesmo. Humildes frente aquelas paredes, precisávamos olhar profundamente dentro de nós mesmos para descobrir o que nos fazia estalar. Aprendemos a encarar o medo, e anos depois todos iríamos concordar que encarar o perigo naquelas encostas, lutando para manter equanimidade, nos ajudou a superar tempos difíceis depois. Ganhamos confiança, nos sentimos bem com nós mesmos. Resumindo, a escalada era boa para a alma, era uma influência acalmante na nossa natureza tempestiva. Com ceretza, era um modo de vida.” (Steve Roper, do livro Camp 4, 1994).

Existe um espírito de liberdade na alma do escalador, e isso se manifesta as vezes como uma forma de individualismo extremo, rebeldia, ou até mesmo arrogância, mas não como uma exaltação do ego… seria mais um grito de liberdade.

“Sinto que meu inimigo é qualquer um que, tendo poder para isso, restringiria a liberdade individual… não consigo imaginar um esporte a não ser a escalada que ofereça uma expressão tão plena da individualidade.” (Chuck Pratt, 1965)

É preciso compreender como funciona o espírito de um escalador… sempre em busca do indefinível, do desconhecido, daquilo que está além das aparências…

“A luz do sol brilhava ao longo das costas da lagartixa como água. Cada vez que eu tentava alcançá-la, ela disparava, rápida como um peixe, rocha acima, nadando sobre saliências e através da sombra fresca de pequenas fendas. Eu tinha seis ou sete anos. Eu sempre gostara de olhar pequenos animais, mas a lagartixa absolutamente me hipnotizava. Agora, ela serpenteava fora de alcance. Eu toquei a rocha, desejando que minhas mãos e pés pudessem aderir às lacas de granito como os da pequena criatura, e então, sem pensar, eu comecei a escalar atrás dela, cada vez mais alto na parede. De vez em quando a lagartixa parava, como que para me atrair.

Meu pé escorregou um pouco em um trecho solto e eu olhei para baixo. No terreno abaixo de mim, tudo havia se tornado menor. Não havia ninguém por perto. Eu comecei a tremer. A lagartixa sumira. Uma sombra pareceu passar sobre o dia claro. Lentamente eu relaxei o aperto forte de minha mão na agarra acima e movi meus dedos trêmulos para a que se encontrava abaixo. E então a outra mão, e um pé, retornando no lance. O mesmo terreno que eu havia passado, hipnotizado pelos movimentos fáceis da lagartixa, havia se tornado mais íngreme, as agarras mais difíceis de se achar.

Quando os meus pés atingiram o chão, eu tropecei para trás, estranhando o mundo horizontal. Minha ansiedade passou e eu imaginei a lagartixa, alto na parede, olhando para baixo para mim, seu corpo esguio rápido como um piscar de olhos.

Por anos a lembrança daquela beleza e daquele medo fermentaram em mim até que eu percebi que não era por causa da lagartixa. Eu queria capturar algo ainda mais indefinível: eu queria encontrar os limites de minha própria imaginação.” (Jim Bridwell, sobre sua primeira escalada, no Rio de Janeiro, anos 50)

É preciso entender que distrações e trivialidades são obstáculos no caminho do escalador, rumo a algo que nem ele mesmo sabe definir, e que sem o risco, não há caminho…

“Quanto mais improvável a situação, e maiores as demandas sobre o escalador, mais intensamente o sangue irá fluir depois, ao dissipar toda aquela tensão. A possibilidade do perigo serve meramente para afiar sua atenção e controle. E talvez seja essa a razão por trás de todo esporte de risco. Você deliberadamente eleva o grau de esforço e concentração um patamar acima, para clarear a mente de toda trivialidade. É um modelo, em escala menor, da própria vida, mas com uma diferença: diferentemente da rotina do dia a dia, onde erros normalmente podem ser revertidos, e algum compromisso alcançado, suas ações, por mais breve que sejam, são mortalmente sérias.” (A. Alvarez The Savage God: A Study of Suicide, citado no livro No Ar Rarefeito, de Jon Krakauer)

“Ao lidar com a natureza em seus próprios termos, estes esportistas estão dispostos a aceitar eventuais fracassos e a correr o risco de acidentes graves, até mesmo fatais, pois é precisamente na incerteza e no risco (minimizados por técnicas e equipamentos cada vez mais sofisticados) que reside a aventura esta faceta indômita da psiquê humana que as facilidades da vida moderna procuram eliminar, mas que permanece como uma necessidade primordial para tantos de nós.” (André Ilha, do texto Leis de mais, aventura de menos)

“Somente na medida em que o ser humano se expõe repetidamente às aniquilações do mundo, que surgirá nele aquilo que é indestrutível. Nisso repousa a dignidade do ousar”. (Karlfriend Graf von Durckheim)

“Se não entrar no jogo que se desdobra em vida, perderei a mesma num suicídio da minha espécie.
Protejo com fogo meu jogo de vida. Quando a existência de mim e do mundo ficam insustentáveis pela razao, então me solto e sigo uma verdade latente. Será que reconheceria a verdade se esta se comprovasse? Estou me fazendo. Eu me faço até chegar ao caroço.”
(Clarice Lispector, em Água Viva)

É preciso também entender a essência da beleza que o escalador enxerga…

“Meus cabelos brancos dizem que era o mesmo amor que me levava, então, montanha acima, mochila às costas, olhar atento, sem perder sequer uma nuvem, ou um nevoeiro, um fio d’água, uma gotinha de orvalho numa folha… Oh! Maravilhas!
Será porque eu estou velho agora, é que me ajoelho e agradeço aos Céus, de os meus olhos se terem extasiado com tanta beleza?
Companheiros, velhos e novos companheiros, aceitem um conselho amigo: – Não percam um momento! Fujam, fujam sempre que puderem, desse amontoado de cimento, que quase não nos deixa ver o azul do céu. Fujam para as montanhas! Amem esses picos, gozem esses momentos felizes… Deixem que seus olhares se percam no infinito!

E o sol nas montanhas? Que espetáculo criado pelo homem pode comparar-se a um amanhecer ou um crepúsculo divisado a mais de mil metros de altura?
Oh! Rapazes, não percam, não percam!
Fujam, fujam, procurem o aconchego da Mãe-Natureza, porque vocês verão, quando chegarem à minha idade, quando as pernas não os deixarem correr morro acima, quando reclamarem o pouco peso que colocamos às costas, que não sentirão o frio da solidão. Verão que o mesmo amor antigo que me levou ao encontro da Mãe-Natureza, cresceu, cresceu muito! Que vocês estão acompanhados das peripécias de cada uma das excursões que fizeram.

Com que delícia vocês lembrarão o farnel repartido, a ajuda que foi dada ao companheiro, a cantoria desafinada…
Volto a dizer-lhes: 30 anos se passaram, mas eu me lembro, com muita alegria, mesmo com amor, de cada investida que fizemos para galgar aquele penhasco; o momento final da conquista, o abraço emocionado, aquele sorriso do Toselli… Mas no fundo, no fundo mesmo, o momento exato em que descortinei toda a serra, cada pico, o rio, soberbo mesmo, aquele Infinito e a suprema harmonia de todas as coisas juntas que nos cercavam.

Rapazes, não percam horas iguais a essas, horas preciosas, que a vida passa…
Olhem só: 30 anos se passaram, hein!
(Almy Ulisséa em uma carta escrita em 1971 para o seu amigo, Antônio Ivo Pereira, relembrando os 30 anos da conquista da Agulha do Diabo, da qual ele (Almy) foi um dos autores. A carta foi reproduzida no boletim de julho de 1981 do CEB, ano de sua morte)

Hoje em dia as pessoas estão fugindo para as montanhas… mas para muitos, não com o mesmo espírito de Ulisséa. A racionalização excessiva vem tomando conta da humanidade, a “macdonaldização”… a busca por resultados, por eficiência, a objetificação, a competição, a fama, os 15 segundos de adrenalina…

“Então, você tem sede de aventura! Talvez você sonha em visitar os sete continentes, ou ficar de pé no topo de uma montanha alta. A maioria de nós nunca se atreve a agir em cima de seus sonhos e raramente os compartilha ou admite possuir grandes necessidades interiores.

Adventure Consultants especializa em organizar e guiar aventuras escalando montanhas. Hábeis nas praticalidades de transformar sonhos em realidade, trbalhamos com você para atingir a sua meta. Não iremos carregá-lo montanha acima você terá que trabalhar duro mas garantimos maximizar a segurança e sucesso da sua aventura.

Para aqueles que tem coragem de encarar seus sonhos, a experiência oferece algo especial, além do que palavras podem descrever. Nós convidamos você a escalar a sua montanha conosco.”
(panfleto da empresa Adventure Consultants, do livro No Ar Rarefeito, de Jon Krakauer)

O turismo de aventura é uma realidade, e os ambientes de montanha, antes muito pouco conhecidos pela população em geral, foram colocados em evidência. Seguiu-se a profissionalização, a oportunidade de novos negócios, a disputa por espaços, o aumento exponencial de acidentes (e sua divulgação sensacionalista), o impacto ambiental, a banalização, o guia obrigatório, braceletes de identificação, leis regulamentadoras…

“Algumas leis recém-aprovadas e projetos ainda em tramitação, ao darem aos esportes tratamento idêntico ao conferido ao turismo de aventura, acabaram criando, para os primeiros, uma camisa-de-força que descaracteriza a sua própria essência, por pretenderem submeter uma atividade lúdica e amadora a normas, registros e regulamentos tacanhos, penalizando aqueles que apenas desejam desfrutar, em seus momentos de lazer, e na companhia de amigos, a sensação única de liberdade que somente uma trilha, um paredão rochoso, uma corredeira ou um vôo de parapente podem proporcionar inclusive assumindo os riscos inerentes a essa escolha. Daí defendermos que a premissa inicial para atuais e futuras regulamentações da prática esportiva em ambientes naturais seja que elas devem estar voltadas, exclusivamente, para a sua exploração comercial, em outras palavras, para o turismo de aventura, deixando que cada esporte amador defina, através de suas entidades representativas clubes, federações e confederações , sua própria forma de funcionamento, de acordo com suas peculiaridades, história e tradições.” (André Ilha, do texto Leis de mais, aventura de menos)

Urge que as autoridades ligadas às áreas de meio ambiente, esporte e turismo avancem juntas na compreensão de que existem duas espécies completamente distintas de usuários das unidades de conservação. A primeira, bem mais numerosa, é a do turista convencional que, atraído pelas belas imagens destas áreas naturais, deseja conhecê-las de forma rápida e dirigida e que se valerá dos serviços postos à sua disposição por guias locais ou por operadoras de turismo para maximizar os resultados de sua visita. Já a outra, muito menor, é constituída por pessoas que buscam uma experiência mais intensa no convívio com a natureza, envolvendo descoberta, desafio, auto-superação; pessoas dispostas a suportar a frustração de eventuais fracassos, mas que por outro lado desfrutam as recompensas interiores conquistadas por sua habilidade, técnica e perseverança, sem assistência externa. Isto tudo, claro, dentro da estrita observância da legislação ambiental e assumindo plenamente os riscos inerentes a estas atividades, o que implica isentar por completo os gestores de tais unidades, mediante termo próprio, na eventualidade de um acidente. (André Ilha, do texto Um esporte ameaçado)

Novos praticantes se iniciam na escalada, muitos movidos pela tendência do momento, ignorando as tradições, a história, a ética, o comprometimento… muitos começam no ginásio, e desconhecendo a realidade externa, acreditam que aquele ambiente controlado deveria ser o padrão para qualquer situação… segurança máxima, risco zero, controle absoluto…

“Antes de tudo gostaria de lembrar que em qualquer atividade existem regras, ética, respeito. E assim pensando, devemos nos organizar… isso já foi dito e relembrado muitas vezes… se estivéssemos mexendo com máquinas seria fácil… mas o ser humano gosta de contestar… expor sua opinião, mesmo que sem fundamentos concretos… mas a escalada é uma atividade que afeta o meio natural e o mínimo impacto faz parte da nossa ética! Por isso nao chapeletamos fendas, respeitamos as regras de conquista como a colocação das proteções fixas em locais corretos e pensados, nao palitar a via… o que mais me assusta hoje é uma furadeira em maõs erradas… muito fácil retrogrampear uma via hoje… existe uma escada na vida do montanhista… porque em qualquer atividade você tem que subir degraus… e estes te ajudaram a pensar sobre a própria evolução do esporte… escalar nao é so botar pra cima… ou no caso da
retrogrampeação botar pra baixo! Não sou contra retrogrampear… mas muitas vezes ela é desnecessária e covarde… apenas satisfazendo o ego do retroconquistador! Estão esqueçendo o espírito da escalada… estão banalizando o esporte… escalada nao é futebol, nao é basquete… é uma pratica diferente… é perigoso.. precisa de técnicas e equipamentos, além de leitura e muito treinamento! Saber os limites, saber que pode ou não… e se você pode vai lá… tenta… mas se não… espere até chegar ao degrau que lhe permitirá fazer o que pretende! Espero que os colegas escaladores coloquem a mão na consciência e reflitam que o que está em jogo não são nossos egos… e sim o meio ambiente.” (Tiago, da lista da FEMEMG)

“Vivemos hoje no montanhismo um fenômeno de popularização onde o esporte está muito atrelado aos valores de outros esportes, muito fundamentado nas competições e na cultura social. A escalada esportiva, modalidade do montanhismo que talvez traga um ambiente semelhante a esses outros esportes, tem sido a fonte da propagação do montanhismo ultimamente, assim como dos novos valores assimilados. É facilmente compreensível que o processo de conscientização do praticante esteja fundamentado e concentrado na cultura atualmente em voga na sociedade, relacionada a competição e ao consumo.” (Matheus, da lista da FEMEMG)

A atividade, esporte, modo de vida, seja qual for o nome… cresceu demais, e vai crescer muito mais… frente a isso, como preservar os valores, os ideais, a história, como passar isso às novas gerações? Como garantir que isso não se perderá, como garantir que num futuro próximo teremos livre acesso as áreas de escalada, às montanhas, e teremos nosso modo de vida, nossos direitos como montanhistas respeitados e compreendidos pela sociedade em geral, pela direção de parques e similares? Antes éramos invisíveis, e as montanhas pouco frequentadas, hoje temos que conviver e compartilhar o mesmo espaço… regras se fazem necessárias, e nesse quadro, ou nos submetemos à regras criadas por políticos que desconhecem completamente nosso meio, e por empresários que vêem na montanha uma oportunidade de negócio, ou criamos a nossa própria auto-regulamentação, e a fazemos valer… Podemos escolher entre obediência ou esclarecimento… Como podemos nos fortalecer? Usando os mesmos mecanismos daqueles que desconhecem nossa existência e ocupam nosso espaço a partir de seus próprios interesses ou receios.

“Em 2006 a FEMERJ elaborou um documento com algumas das nossas reinvidicações e tendo em vista a possibilidade de ser uma ação nacional, passou a liderança para a CBME. Desta forma a carta foi subscrita por 42 (quarenta e duas) associações de montanhismo do Brasil. Como resultado, o Ibama organizou no mesmo ano o I Encontro de Parques de Montanha, realizado no PNSO (Parque Nacional da Serra dos Órgãos).

Nesse encontro, com a presença de gestores de parques de todo o Brasil, do Ibama, do Ministério do Meio Ambiente, etc, foi possível mostrarmos o quanto o montanhismo é organizado, que freqüentamos as áreas dos parques muitas décadas antes de serem parques… o quanto estamos autoregulamentados, etc… e tenham certeza que eles ficaram muito bem impressionados, pois eles não imaginavam que esse “bando de malucos” tivessem esse nível de organização, e com essa e outras ações, os órgãos públicos estão vendo que existimos… que somos organizados e melhor… quando o assunto for montanhismo… que eles devem procurar as entidades de montanhismo para ajudá-los no assunto. (Bernardo Collares, presidente da FEMERJ, em e-mail às listas na internet)

Os clubes são a tradição, a história, o ethos* do montanhismo, as federações são a barricada…

“As vezes as pessoas perguntam o que elas individualmente vão ganhar com uma federação. Tento explicar que a federação não existe para agradar os interesses individuais separadamente, mas sim o interesse de todos. E quando todos ganham, o indivíduo, por consequência, também ganha. Uma das funções básicas de uma federação é representar os montanhistas perante a sociedade e órgãos oficiais e não oficiais.
No nosso esporte temos várias correntes de pensamento, e temos todos o tipo de “certezas”. Com esse movimento de união, as pessoas estão percebendo que o trabalho coletivo é mais eficaz que o individual, e que, muitas vezes, é necessário fazermos concessões, cedermos um pouco aqui e ali, para, desta forma, todos caminharem juntos. O exercício da democracia não é tão fácil, mas é gratificante e certamente produzirá, para as gerações atuais e futuras de montanhistas, frutos da melhor qualidade.” (Bernardo Collares, do artigo O Montanhismo Brasileiro e o papel das Federações, revista Headwall, edição 2, março/abril 2002)

*A palavra ethos significava para os gregos antigos a morada do homem, isto é, a natureza, uma vez processada mediante a atividade humana sob a forma de cultura, faz com que a regularidade própria aos fenômenos naturais seja transposta para a dimensão dos costumes de uma determinada sociedade. Em lugar da ordenação observável no ciclo natural das coisas, a cultura promove a sua própria ordenação ao estabelecer normas e regras de conduta que devem ser observadas por cada um de seus membros. Sendo assim, os gregos compreendiam que o homem habita o ethos enquanto a expressão normativa da sua própria natureza. Embora constitua uma criação humana, tal expressão normativa pode ser simplesmente observada, como no caso das ações por hábito, ou refletida a partir de um distanciamento consciente. Nesse caso, adentramos o terreno da ética enquanto discurso racional sobre o ethos. (Educação & Sociedade – Vol.22, no.76 – Campinas, Out. 2001)

Este texto foi escrito por: Filippo Croso