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Escalada no Everest – e sem cilindro de oxigênio

Redação Webventure/ Montanhismo

Helena e Paulo perderam três barracas por causa do vento. (foto: Helena Coelho)
Helena e Paulo perderam três barracas por causa do vento. (foto: Helena Coelho)

A alpinista Helena Coelho acaba de retornar do Everest e traz um relato completo de sua escalada ao lado do marido Paulo e da difícil temporada 2002, marcada por muito frio e vento no lado do Tibet.

Já fizemos algumas tentativas de escalar o Monte Everest sem utilizar cilindros de oxigênio. Ainda não fomos ao cume. Neste ano, a temporada foi bastante desfavorável; daquelas que, quando termina, você ainda se pergunta se pra escalar o fator sorte é importante ou não. E, pior, você chega a conclusão de que sim, um pouco de sorte não faria mal a nós.

Estou falando de escalar – sem utilizar cilindros de oxigênio – pela face norte do Everest, ou seja do lado do Tibet. Coisa bem diferente é do lado do Nepal, onde parece tratar-se de outra montanha; só para um exemplo, num dia que subiram três do lado do Tibet – com oxigênio, claro – do lado do Nepal subia uma fila com 15, também com oxigênio.

Sem utilizar cilindros de oxigênio, do lado do Tibet, durante a temporada inteira, apenas um ou dois alpinistas conseguiram chegar ao cume. Foi uma estação de mau tempo no geral, com apenas dois dias de bom tempo (16 e 17 de maio) e mais um bastante chorado no dia 24, que era para ser, pela previsão suíça – a melhor previsão que havia por lá neste ano – no dia 25 e acabou se antecipando.

Primeira janela – Os dias 16 e 17, estavam, apesar da janela de bom tempo, muito ventosos, dificultando a subida da maioria dos escaladores que tentavam subir sem oxigênio suplementar. No geral, não foram além de 8.300m de altitude. Mesmo as expedições comerciais, cujos clientes utilizavam oxigênio, não tiveram muito sucesso. A suíça, por exemplo, com 16 clientes, colocou apenas 6 no topo.

Nesta primeira janela, fomos para o acampamento a 7.900m com a idéia de subirmos para 8.300m e, na seqüência do dia, fazer o ataque ao cume. Infelizmente, não foi possível. Quando chegamos a 7.900m, tivemos o desprazer de ver que o vento havia destruído duas das nossas barracas (instaladas anteriormente no trabalho de aclimatação) – a dos 7.900m e a que era para ser usada em 8.300m. Duro golpe.

A única alternativa seria fazer o ataque ao cume desde 7.900m; era uma escolha de alto risco e com mais exposição ao frio como decorrência do vento, que estava muito forte, e devido ao não uso de oxigênio suplementar, o que aumentava a sensação de frio.

Fomos obrigados a descer e ver o que seria possível fazer dali por diante. Descemos, procurando analisar as possíveis opções restantes. Vários alpinistas do mesmo estilo de escalada resolveram encerrar a temporada.

Não desistimos, achando que encontraríamos alguma saída. O acampamento base avançado foi ficando cada vez mais vazio. E nós ali. A equipe suíça chegou a nos mostrar uma previsão meteorológica alarmante em que dava a temporada por decididamente encerrada para quem escala sem oxigênio.

Assumimos que era apenas uma previsão e que, portanto, poderia ter modificações. Conversamos com eles antes deles deixarem o acampamento base avançado – logo, antes de eles desmontarem todo o sistema de comunicações e foi quando conseguimos ver o último boletim, que indicava uma possível melhora, mas não ideal, no dia 25 de maio.

Arriscando um ataque – Resolvemos esperar e arriscar um ataque nesse dia, sempre de olho no tempo. Das quatro barracas que tínhamos na montanha, perdemos totalmente três; sobrou-nos uma parcialmente estragada. A única saída era desmontá-la e montá-la à medida que íamos subindo de acampamento para acampamento, até montarmos novamente o acampamento de 8.300m.

Chegamos a esse acampamento no dia 25 de maio, às cinco horas da tarde, com muita vontade de ir para o cume, apesar de todas as dificuldades que estávamos enfrentando. Era um bom horário e com um visual fantástico do cume muito próximo a nos motivar. Nos preparamos para sair aquela noite para o cume.

A 8.300m, do lado do Tibet, havia mais uns quatro ou cinco alpinistas, que usariam oxigênio suplementar. Ensaiamos algumas vezes a saída para o ataque ao cume, mas o frio era muito, acabamos saindo durante a madrugada. Subimos mais ou menos uns 100m de desnível, até que fomos definitivamente bloqueados pelo frio. As nossas velhas roupas infelizmente não foram suficientes para o frio e o vento que pegamos nesta temporada.

Previsão cofirmada – A previsão meteorológica de muito vento e frio acima de 8.000m de altitude infelizmente se confirmou. Isso nos provocou alguns pequenos problemas de congelamento nos dedos das mãos e alguns nos dedos dos pés. Nada que em um mês não se resolva. Após descermos de mais ou menos 8.400m, dormimos o restante da noite ali mesmo.

No dia seguinte, descemos debaixo de muito mau tempo. Nevada intensa, visibilidade de menos de 20 metros e atolando em alguns trechos de neve. Voltamos para o Colo Norte a 7.000m e ao acampamento base avançado 6.400m – esgotados fisicamente.

Aprendemos bastante, principalmente a continuar reagindo mesmo sob grande tensão e péssimas condições climáticas. Perdemos muito material. Mas, acima de tudo, não perdemos a lucidez de saber o momento de retornar. E, claro, não perdemos a vontade de voltar lá para escalar e chegar ao cume do Monte Everest sem utilizar cilindros de oxigênio!

Este texto foi escrito por: Helena Coelho

Last modified: junho 14, 2002

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