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Especial 10 anos: A Manutenção do Esporte

Redação Webventure/ Corrida de aventura

Zé Pupo acredita no crescimento atual da corrida (foto: Thiago Padovanni/ www.webventure.com.br)
Zé Pupo acredita no crescimento atual da corrida (foto: Thiago Padovanni/ www.webventure.com.br)

As portas de entrada para a corrida de aventura são várias. Existem diversos circuitos de provas curtas em várias regiões do país, assessorias esportivas especializadas em esportes de aventura, escolas de aventura, academias para se treinar técnicas verticais, lojas especializadas em equipamentos, etc. Porém manter-se dentro do esporte e sustentar a prática em todos os sentidos pode ser um entrave.

Para Julio Pieroni, organizador do Brasil Wild, manter-se treinado em todas as modalidades e ter condições de arcar com as despesas que o esporte impõe, como inscrição para as provas, compra de equipamentos e suplementos, viagens e hospedagem, torna a corrida de aventura um esporte elitista.

“A corrida de aventura é muito restrita no que diz respeito a preparo físico e financeiro, já que é necessário viajar e bancar os equipamentos. Além de ser muito técnico, pois é o único esporte que tem orientação – sem ser corrida de orientação -, o que é um dificultador. Técnicas verticais também é algo que restringe, pois as poucas competições não são muito difundidas”, explica.

Há dez anos no país, a corrida teve um crescimento grande nos primeiros anos e passa agora por um amadurecimento e manutenção do que foi construído até o momento. De acordo com Julio, o grau de dificuldade de se manter no esporte, por parte dos atletas, e também para a realização das provas, por parte dos organizadores, faz com que a modalidade não tenha a mídia suficiente para que se torne um esporte de massa.

“Há um grande atrativo de ter que viajar, na maioria das vezes, para realizar as provas. Então acaba sendo uma viagem para quem vai, que conhece lugares que não iria normalmente, como turista. É um esporte para poucos. Uma prova grande larga com cerca de 300 atletas, o que não é atrativo para o patrocinador, nem para uma cobertura de mídia mais maciça”, comentou ele, completando que viabilizar patrocínio é o mais difícil de conseguir na organização. “Se passarmos a não ter essa verba, teremos que organizar as provas com recurso das inscrições e isso torna muito mais restrita a infra-estrutura da corrida, bem como premiação e profissionalização da categoria”.

Desaceleração – Quem compactua da mesma opinião de Julio Pieroni é Rafael Campos, capitão da equipe Quasar Lontra. Ele, que acompanha o esporte desde 1998, vê o setor em desaceleração desde meados de 2003/04, porém acredita que após essa primeira década de vida, ele possa voltar a crescer lentamente.

“O esporte cresceu muito desde seu início. Temos mais atletas, mais organizadores, mais marcas especializadas e consolidadas, mais profissionalismo e tudo isso graças a divulgação e também ao crescimento do setor de ecoturismo”, comentou Rafael, ressaltando que mesmo com esses avanços, o esporte não é extremamente profissional não tendo atletas que vivam somente de sua prática.

Outro quesito apontado por Campos para a lentidão no crescimento é o mesmo de Pieroni, o patrocínio. Ele diz que a cobertura de imprensa de uma prova não é comum, já que na maioria das vezes o acesso aos locais é restrito por se tratar de natureza em grande parte do percurso.

“É uma cobertura para quem tem coragem, disposição. São tão heróis quanto os atletas. Para o patrocinador não tem alto investimento porque não tem alto retorno. Eu vejo a manutenção do esporte partindo de novas provas, mas não vejo um modelo ideal. Talvez mais provas de multisport, um meio termo entre a aventura e o triathon”, afirma.

Em contrapartida tem algumas pessoas que enxergam a corrida de aventura em crescimento nos dias atuais. Capitão da SOS Mata Atlântica, Zé Pupo é um dos que mantém a visão positivista sobre o esporte.

“Tem muita gente que diz que o número de praticantes está diminuindo, mas eu não acho isso. Acho normal ter uma rotatividade das pessoas que praticam. Tem aquelas que gostam e permanecem, e tem aquelas que “flutuam”. A última etapa do Adventure Camp, por exemplo, teve 64 equipes e o EMA Remake, 33 equipes. Isso não é um número pequeno. O esporte continua crescendo e mantém um bom número de adeptos”, ressalta Pupo.

Ele explica ainda que do, seu ponto de vista, a qualidade das corridas é que tem um bom crescimento na atualidade, graças às provas com premiação, que aumentaram o seu número, e também pela tradição que muitas delas já adquiriram, como o Brasil Wild, em São Paulo, a Corrida de Aventura Carrasco, no nordeste, os circuitos Sul Brasilis e Extremaventura, no sul.

Para ele, somente a profissionalização da corrida de aventura fará com que ela se consolide no país e siga em uma constante de amadurecimento e crescimento. “Falta tornar a corrida um esporte mesmo, fazendo uma regra padronizada que todas as competições utilizem o mesmo regulamento, uma entidade reguladora que faça competições oficiais. Então é o que eu penso: não é que a atividade esteja caindo, mas o tempo está passando e não estamos conseguindo ter um crescimento do lado esportivo”, finalizou Zé Pupo.

Eleonora Audrá, a Nora da equipe Atenah, enxerga o esporte no Brasil em crescimento ainda, já que no momento atual da modalidade, muitas equipes estão conseguindo se profissionalizar cada vez mais, crescer e alcançar melhores resultados que anteriormente.

“Vimos o exemplo disto no EMA Remake, quando as equipes completaram a prova com um tempo muito abaixo da equipe vencedora da primeira edição, em 1998. Com certeza as equipes atualmente têm muito mais experiência, o que é normal ao longo dos 10 anos de prática. O que ainda falta é o suporte de uma associação nacional, falta o incentivo do governo, algo que permita que mais equipes se dediquem ao esporte e possam competir mais no cenário internacional e adquirir mais experiência”, explicitou Nora, que atualmente mora na Nova Zelândia.

“Eu acompanho muito o esporte no cenário internacional e vejo que muitas provas, em muitos países, ainda sofrem para ter 20 equipes competindo. A Bimbache Extreme, por exemplo, tinha apenas 14; a Turas, na Irlanda, 18; o Southern Traverse tinha 12. Acho que o esporte está em manutenção. É uma modalidade muito cara, e a dificuldade de cobertura atrapalha na divulgação. Acho que ainda estamos tentando encontrar uma maneira ideal para a mídia atrair interesse de patrocinadores”, finalizou a atleta.

Este texto foi escrito por: Lilian El Maerrawi

Last modified: agosto 28, 2008

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