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Estresse do calor durante o exercício, um fator que não deve ser esquecido


Exercícios físicos pedem consumo de líquidos (foto: Divulgação/ Stock Photos)

Ao exercitar-se no calor, o corpo se depara com duas demandas: nossos músculos que necessitam de oxigênio para a manutenção do metabolismo e o calor gerado pela atividade física que terá que ser transportado pelo sangue dos tecidos profundos para a periferia.

Não podemos esquecer que o ser humano tem uma temperatura interna constante com ponto de ajuste por volta dos 37ºC, a qual é fundamental para a manutenção das estruturas celulares e suas vias metabólicas. Um aumento ou queda da temperatura corporal podem resultar em alterações metabólicas que podem resultar numa lentidão do metabolismo, alteração da função cardíaca e até mesmo a morte. Dessa forma a temperatura corporal deve ser cuidadosamente regulada com o objetivo de manter a temperatura interna constante e com isso prevenir o superaquecimento ou o super resfriamento.

A manutenção da temperatura corporal constante exige que a perda de calor esteja coordenada com a taxa de produção de calor. Para obter a regulação térmica, o corpo está bem equipado com mecanismos nervosos e hormonais que regulam tanto a taxa metabólica quanto a quantidade de perda de calor em resposta as alterações da temperatura corporal.

Exercício X Calor – A estratégia de nosso organismo parece ser que a regulação da temperatura pela geração e conservação de calor é muito eficaz, enquanto a capacidade de resfriamento do homem é muito limitada. Como os músculos esqueléticos em contração produzem muita quantidade de calor, o exercício prolongado num ambiente quente/ úmido representa um sério desafio para homeostasia da temperatura. Muitos cientistas acreditam que o superaquecimento é a única ameaça grave à saúde apresentada pelo exercício a um indivíduo saudável.

A perda de calor pode ocorrer por vários mecanismos, sendo a evaporação o meio mais importante de perda de calor durante o exercício. Na evaporação, o calor é transferido do corpo para a água sobre a superfície cutânea onde é convertido em vapor de água, levando assim o calor para longe do corpo. O resfriamento por evaporação durante o exercício ocorre quando a temperatura corporal aumenta além do normal de forma que o sistema nervoso estimula as glândulas sudoríparas a secretar suor sobre a superfície cutânea. Quando o suor evapora o calor é perdido. Não é o suor e sim a sua evaporação que resfriam o nosso corpo.

Dra. Simone Quevedo, é formada pela Universidade Federal de Pelotas (RS) com residência em Clínica Médica pela Secretaria de Estado da Saúde Conjunto Hospitalar do Mandaqui, Especialização em Cardiologia pela Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina, Sub-especialização em Eletrofisiologia Clínica no Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia e Especialização em Acupuntura pela Associação Médica Brasileira de Acupuntura.

O exercício contínuo num ambiente quente/ úmido representa um desafio particularmente estressante para a manutenção da temperatura corporal normal e da homeostase de fluídos. Vários fatores irão contribuir a uma menor ou maior suscetibilidade a lesão pelo calor, entre eles a aptidão física, aclimatação, hidratação, taxa metabólica, temperatura ambiental, umidade relativa do ar, vento, vestimentas.

Além de todos os ajustes a dissipação de calor metabólico durante o exercício num ambiente quente depende quase totalmente do mecanismo de refrigeração do esfriamento por evaporação. Entretanto haverá um preço a ser pago quando as demandas são impostas as reservas liquidas do organismo, pois com freqüência ocorre um estado de desidratação relativa. A transpiração impõe demandas às reservas líquidas do organismo e essa quando excessiva e não responda adequadamente pode resultar em progressiva desidratação, podendo atingir um limite no qual o volume sanguíneo reduzido se torna insuficiente para manter a circulação adequada antes e durante a atividade física e a temperatura central pode alcançar níveis letais.

Uma perda de líquido superior a 4 a 5% do peso corporal impede de maneira significativa a dissipação do calor e compromete a função cardiovascular e a capacidade de realizar trabalho. Os problemas relacionados ao calor durante o exercício não são do tipo tudo ou nada, mas formam um contínuo calor-lesão que pode se estender de um problema relativamente menor a uma emergência médica potencialmente letal.

Os sintomas gerais do estresse do calor incluem náuseas, cefaléia, tontura, palidez, câimbras, redução da taxa de sudorese, perda da consciência, alterações respiratórias, alterações de pulso, hipertemia.

Desidratação – Assim é evidente que a desidratação reduz a capacidade dos sistemas circulatórios e termorregulados de atenderem ao estresse metabólico e térmico do exercício.

Nesse contexto o objetivo primário da reposição líquida consiste em manter o volume plasmático, para que a circulação e a transpiração possam prosseguir em níveis ideais. A prevenção da desidratação e de suas consequências, especialmente a hipertermia, somente poderá ser conseguida com um esquema de reposição hídrica adequado e seguido regularmente.

Não esqueça que uma hidratação inadequada reduz a taxa metabólica e aumenta a chance de lesão pelo calor. O peso perdido imediatamente após uma atividade física não é real, e sim, reflete uma perda de água quanto maior significa que pior foi sua hidratação e maior e seu risco de lesões pelo calor.

Se sua diurese esta transparente ou da cor de uma limonada significa que está bem hidratado. Se está amarela escura, você esta desidratado.

Não esqueça: hidratar-se é tão importante quanto praticar uma atividade física, hidrate-se antes, durante e depois de qualquer atividade física, especialmente nos ambientes quentes. É uma preocupação fundamental para saúde de qualquer praticante de atividade física.

Bibliografia
Powers,s.k.,2004. Fisiologia do Exercício
McArdle, K. K. 1991. Fisiologia do Exercício, Energia, Nutrição e Desempenho Humano
RODRIGUES, Luiz Oswaldo Carneiro and MAGALHAES, Flávio de Castro. Automobilismo: no calor da competição. Rev Bras Med Esporte [online]. 2004, v. 10, n. 3, pp. 212-215.

Este texto foi escrito por: Dra. Simone Quevedo