Vitor Negrete (foto: Arquivo pessoal)
Na pré-aclimatação, os montanhistas Vitor Negrete e Rodrigo Raineri estão em Namche Bazaar, no Nepal, para iniciarem a expedição rumo ao topo do mundo. Confira a coluna de Vitor.
Estou em Kunjung a 3.700m, sentado em uma bakery, tomando chá preto e comendo um donnut. Estamos no terceiro dia da aclimatação, que começou em Lukla. Passamos a primeira noite em Monjo e a segunda em Namche Bazaar, a capital sherpa do Kumbu. Quem conhece poderia perguntar: vocês não estão do lado contrário da montanha? Sim, estamos.
Nós decidimos fazer uma pré-aclimatação na Face Sul do Everest. Amanhã (02/04) vamos subir um pouco mais na encosta da montanha que está atrás de Kunjung e desceremos para Namche Bazaar; dormiremos, desceremos para Lukla onde pernoitaremos e voaremos de volta para Katmandu. Teremos um último dia para os preparativos e, no dia 05/04 partiremos de jipe para o Tibete. A viagem até o Acampamento Base da Face Norte deverá levar cinco dias.
Efetivamente, hoje (01/04) é o primeiro dia que temos algum tempo livre. As semanas que antecederam a saída do Brasil foram uma loucura e para deixar tudo mais corrido, a Rede Globo confirmou a participação do repórter Clayton Conservani no grupo somente quatro dias úteis antes do nosso embarque.
Nem sei como conseguimos viabilizar tudo para ele – equipamentos, oxigênio, permits, passagem aérea, e toda a logística para envio de imagem desde o Acampamento Base Avançado da Face Norte que fica a 6.400m. O repórter Clayton Conservani tentará chegar ao cume do Everest utilizando oxigênio suplementar.
O importante é que agora faltam poucas compras em Katmandu e tudo está correndo muito bem para a partida para o Tibet. A vinda do Clayton possibilitou trazer o Guilherme Setani, mais conhecido como Totó. Ele será o nosso apoio e também editará e enviará as imagens via satélite para a Globo.
O Totó foi o nosso apoio na escalada da Parede Sul do Aconcágua, quando o Clayton, juntamente com o Guilherme Rocha, cobriu a expedição. Fico muito feliz que ele esteja aqui. Em Namche Bazaar ficamos no mesmo lodge (tipo de hotel de montanha) de
uma expedição que vai escalar o Everest pela Face Sul. O líder da expedição,
um neozelandês, escalou o Everest seis vezes, chegando ao cume em três
oportunidades.
Conhecemos também uma suíça que atingiu o cume, com oxigênio, pela Face Norte em sua primeira tentativa. Ela saiu do Acampamento 3 (8.350m) a uma hora da manhã e chegou ao cume às 6h30 da manhã, simplesmente incrível! Ao meio dia ela estava de volta ao Acampamento 3 e às 4 da tarde ela estava no Acampamento Base Avançado. Caraca…!!!
O encontro com este grupo deixou muito claro que escalar o Everest sem O2 é muito, muito mais difícil. Nossa escalada será extremamente difícil e dura, porém estamos confiantes. O neozelandês disse que, ao subir em direção ao Acampamento 2, localizado na Aresta Nordeste da montanha – completamente desprotegida do vento -, é comum ver barracas, sacos de dormir e outras equipamentos voando; os ventos passam de 100km/h e que nenhuma barraca resiste a estes ventos. Assustador!
Percorrendo as trilhas encontramos muitos pais levando crianças. Fiquei muito impressionado. São muitas crianças, de idades as mais variadas. De maneira geral os lodges e as trilhas estão vazios; o número de turistas diminuiu. Pode ser conseqüência do medo da instabilidade política do Nepal.
Entretanto não encontramos nenhum problema, nenhuma ameaça e nada que importunasse os turistas. A trilha da Face Sul para o Everest Base Camp, partindo de Lukla, nunca apresentou riscos e neste ano tudo continua igual.
Este texto foi escrito por: Vitor Negrete, da Try On Expedition 2 no Everest