Vitor Negrete (foto: Arquivo pessoal)
Ainda de Tingri, no Tibete, o colunista Vitor Negrete fala sobre as diferenças das faces Sul e Norte da montanha mais alta do mundo, o Everest; confira.
O Everest, a maior montanha do planeta, com 8850m tem, como todas outras montanhas do mundo, diferentes faces. Cada face tem uma, ou varias rotas de escalada. As rotas menos dificies de cada face sao chamadas de rotas normais. O Everest tem duas rotas normais, uma pela aresta sudeste e outra pela aresta nordeste da montanha.
Como o cume do Everest é o limite entre as fronteiras do Nepal e da China a via da aresta sudeste é nepalesa e da da aresta nordeste é Chinesa, ou Tibetana.
O sol nasce todos os dias no leste e se põe no oeste, percorrendo uma trajetória que passa mais ou menos por cima da linha do Equador. Assim, se imaginarmos a sombra das montanhas, perceberemos que as montanhas que estao no hemisferio sul têm uma sombra na sua face sul e que as montanhas que estao no hemisferio norte têm uma sombra na sua face norte.
De uma forma geral a face norte das montanhas do hemisfério norte são mais difíceis e a face sul das montanhas do hemisferio sul são as mais difíceis. Elas acumulam mais gelo e neve e tem um numero menor de horas de sol. Assim, a face sul do Aconcagua na Argentina é a mais difícil, assim como a face norte do Eiger, nos Alpes é a mais difícil e a face sul do Illimani na Bolivia é a mais difícil.
Da mesma forma a face Norte do Everest é a mais difícil. É claro que esta é uma regra geral e que a dificuldade de cada rota ou face depende também dos obstáculos e dos desafios técnicos. A face norte do Everest é considerada mais difícil pela menor incidencia da luz solar, pela maior incidencia dos ventos e por apresentar maiores dificuldades técnicas acima dos 8 mil metros. Os alpinistas encontram grandes dificuldades técnicas de escalada, os chamados primeiro, segundo e terceiro escaloes em uma situacao de extrema falta de oxigenio.
A face sul, apesar de mais fácil é tecnicamente mais perigosa e também apresenta seu desafio técnico, o escalao Hillary, um lance de escalada quase vertical, 50 metros antes do cume. A grande maioria dos acidentes ocorrem na Cascata de Gelo do Kumbhu e na face do Lhotse, ambos na rota normal da face sul ou nepalesa do Everest.
Neste ano soubemos de um acidente fatal na Cascata de gelo do Kumbhu e de uma avalanche que causou grandes danos, mas, felizmente, nao provocou mortes. Todos estes acidentes ocorreram do outro lado da montanha. Na face norte, tibetana, onde estamos tudo corre bem e nenhum acidente foi registrado.
Este texto foi escrito por: Vitor Negrete, da Try On Expedition 2 no Everest