Barco está em 4º lugar após regata in-port (foto: Rick Tomlinson/ Volvo Ocean Race)
Após 35 títulos no Campeonato Brasileiro de Vela, nas classes Snipe, Finn, Laser, Soling, Star e Oceano, cinco medalhas olímpicas, oito títulos em Semanas Olímpicas de Vela, cinco títulos sul-americanos, cinco títulos europeus, seis títulos mundiais, uma vitória no America´s Cup, e duas medalhas em Jogos Pan-americanos, o que falta para coroar a carreira de Torben Grael?
Para ele ainda há muito a fazer, mas seu próximo desafio é buscar uma vitória na Volvo Ocean Race, maior regata de volta ao mundo do planeta, que tem largada no próximo sábado (11), em Alicante, na Espanha, onde as oito equipes participantes estão desde setembro. É um evento que todo mundo gostaria de ganhar, e, obviamente, eu também, disse discreto o velejador, de 48 anos, em entrevista exclusiva ao Webventure, direto de Alicante.
Serão nove meses ao mar comandando o Ericsson 4, barco da Ericsson Racing Team, que conta ainda com a embarcação número 3, capitaneada por Anders Lewander, que comanda a tripulação nórdica. Grael tem mais dois brasileiros em seu time, João Signorini, o Joca, e Horácio Carbelli. O restante dos velejadores é da Inglaterra, Austrália e Nova Zelândia.
Na edição 2005/06 da Volvo Ocean Race, Torben comandou o Brasil 1, primeiro barco brasileiro a participar da regata, e finalizou a disputa em terceiro lugar. Desta vez ele está a bordo de um dos favoritos a levar o título da volta ao mundo, que percorrerá 69 mil quilômetros. As duas tripulações do Ericsson Racing Team se estabeleceram em Lanzarote, nas Ilhas Canárias, por um ano para fase de treinamentos e preparação.
Outras duas equipes também fizeram um trabalho a longo prazo, então somos um dos favoritos. Não somos a única equipe com boas chances de sucesso, somos uma das equipes com essa vantagem, ponderou Torben Grael.
Sobre os dois barcos da equipe, o velejador afirma que há diferença entre eles, principalmente com diferentes condições de vento. Os barcos têm diferenças nos projetos. A opção foi por fazer um barco mais cedo, para termos uma embarcação para treinar, e mais tarde fizemos o outro. Já a equipe Telefônica (que também conta com dois barcos na disputa) optou por fazer os dois juntos. O Ericsson 4 foi mais pesquisado, mais desenvolvido e é um pouco mais potente e mais rápido que o Ericsson 3. Ele é melhor com mais vento, e o do Anders é melhor com vento mais fraco, declarou.
Essa será a segunda participação de Torben Grael na Volvo Ocean Race, e a segunda também no comando de uma equipe, desta vez sob a bandeira sueca da Ericsson. Porém não há muitas diferenças para ele em estar à frente de tripulantes de diversos países. Mesmo no Brasil 1, ele contou com metade da tripulação brasileira, apenas.
Para mim não é grande novidade, até porque fiz três America´s Cup e eu era praticamente o único brasileiro. No Brasil 1 éramos na equipe de terra predominantemente brasileiros e de dez tripulantes, seis eram do Brasil. Aqui no Ericsson somos só eu, o Joca e o Horacio, mas é sempre bom porque mantemos um grupo que podemos descontrair nas horas vagas, afirma.
Para o Brasil, ter um comandante brasileiro em um dos barcos favoritos à vitória e dois tripulantes que fazem parte do projeto levando suas cores aos quatro cantos do mundo é uma chance de ganhar visibilidade no esporte, de acordo com Torben. Abre portas para o Brasil. É uma afirmação para a vela nacional. Já temos uma tradição reconhecida de resultados olímpicos, e obviamente a participação do Brasil 1 abriu essas portas também, avaliou.
Após todo o período de treinamento, preparação e qualificação para a Volvo Ocean Race, o velejador já pôde sentir as diferenças entre seu comando e o desempenho dos barcos desta e da edição passada.
Para ele um dos pontos que diverge de 2005 é a língua. No Brasil 1 ele afirma que a comunicação era em portunhol, já que além dos seis tripulantes brasileiros, outros três falavam em espanhol. No Ericsson é tudo em inglês. O clima e a descontração aqui (Ericsson 4) é bem diferente que no Brasil 1. Já no modo de velejar, Torben considera os dois barcos muito parecidos, tanto com relação aos trabalhos dentro do barco, quanto no desempenho, já que ambos são padronizados Volvo Open 70.
A Volvo Ocean Race larga de Alicante, na Espanha, e passa pela África do Sul, Índia, Cingapura, China, Brasil, Estados Unidos, Irlanda, Suécia e Rússia, onde finaliza a regata, em junho de 2009. Serão 69 mil quilômetros percorridos por locais onde os velejadores enfrentarão temperaturas altas, como no Rio de Janeiro e na Índia, e também passarão por neve e temperaturas abaixo de zero, como na China.
O slogan da regata Vida ao Extremo não é sem motivo. Para encarar não só os diferentes climas, como o convívio dentro do barco em etapas que chegam a ter mais de um mês sem pausas, as diferentes línguas e culturas dos tripulantes e as adversidades impostas por ficar meses e mais meses em alto mar, há de se ter um preparo não só físico, como psicológico muito forte.
Tenho a vantagem de já ter feito uma regata, diferente da vez passada que não tinha nem noção do que vinha pela frente. Porém, neste ano, a regata passará por locais que nunca passou e então será uma novidade para todos, avaliou Torben Grael.
Entretanto, para ele haverão três desafios já declarados na regata. O primeiro é que será uma competição muito equilibrada e disputada, já que todos os barcos tem de ter uma mesma medição e desenvolvimento, pela padronização da Volvo Open 70. O segundo será a etapa que sai de Cingapura e chega em Qingdao, na China, porque as condições climáticas são adversas, os ventos são contra e as ondas muito fortes, além do frio.
A etapa que sai da China e vem pro Brasil será a outra coisa mais difícil, porque sai de condições climáticas muito duras, passa pelo Cabo Horn (o cabo mais perigoso dos três existentes no mundo), e é a etapa mais longa, disse ele sobre a perna que irá demorar mais de um mês para terminar.
Para estar à frente do barco da Ericsson Racing Team, Torben Grael teve de ponderar uma decisão muito importante: abrir mão ou não da disputa na classe Star na Olimpíada de Pequim, onde ele faria, com Marcelo Ferreira, seu companheiro também no Brasil 1, as regatas representando o Brasil.
Para muitos, há diversas críticas a se fazer com relação a essa decisão, já que sob esta ótica, um dos nomes mais fortes da vela mundial deixou de representar seu país no maior evento esportivo do mundo para realizar mais uma etapa de sua carreira e realização pessoal, a Volvo Ocean Race. Mas para ele próprio, não há polêmica nisso.
Foi uma decisão tomada com bastante serenidade, então acho que não tenho nenhuma reclamação contra essa decisão, afirmou.
Sobre uma outra possível cobrança do país em cima de um bom resultado na Volvo, já que ele optou pela troca, não existe para o velejador. Quem quer um bom resultado é a gente (equipe). Nós nos cobramos mais do que qualquer pessoa, disse Torben.
Para todos os barcos, a Volvo Ocean Race já começou. No último sábado (4) eles fizeram duas regatas do evento que abriu a competição, a regata in-port, feita dentro das águas de Alicante, na Espanha, e que deu 4 pontos ao Telefônica Blue, comandando pelo experiente Bouwe Bekking, que faz sua sexta edição da competição.
A equipe de Torben finalizou ambas as regatas em quarto lugar, e ocupa a mesma posição na classificação geral, somando 2,5 pontos. Na segunda regata, o Ericsson 4 queimou a largada numa estratégia feita pela equipe de Bouwe Bekking, que forçou o barco a ultrapassar a linha de largada antes da hora.
Nosso problema foi de velejada mesmo. Não largamos bem e não treinamos muito esse tipo de largada. Não é nenhuma surpresa isso, porque é uma regata com vento fraco e muito curta, então o desempenho do barco não chega a fazer um papel tão relevante como em uma etapa oceânica, ponderou
Sobre os concorrentes, Torben não vê novidades com relação ao que já tinha previsto. Não dá para saber muito sobre o que está por vir de cada barco porque foi uma etapa muito curta, mas era o que já tínhamos previsto: os espanhóis e norte-americanos são nossos maiores rivais, disse ele sobre os barcos da Telefônica e Puma Racing Team.
Mais Desafios – Estar neste projeto faz com que, não só Torben Grael, mas todos os velejadores abram mão de muitos planos pessoais para ficarem quase um ano a bordo dos barcos.
Para Grael, uma das dificuldades é ficar longe da família. Problema remediado em algumas pausas da Volvo Ocean Race mundo afora. A Andréa, minha esposa, deve ir em quase todas as pausas. Já meus filhos, o Marko e a Martine, devem ir nas etapas mais longas, até porque eles estudam e isso não pode os atrapalhar, revelou. O mar compensa algumas dessas faltas e ausências, finalizou o comandante, que está em fase final de preparação do barco para a largada, abastecendo a embarcação com os mantimentos, equipamentos de segurança e tudo o que ele e seus doze homens levarão para os mares do planeta.
Este texto foi escrito por: Lilian El Maerrawi