Chegada a Parati (RJ). (foto: Divulgação)
Durante duas semanas, uma equipe multidisciplinar percorreu, de bicicletas, os 700 km do Caminho Velho da Estrada Real, entre Ouro Preto (MG) e Parati (RJ), com o intuito mapear os acervos históricos e naturais, avaliar a infra-estrutura turística e verificar a viabilidade de se implantar um roteiro de cicloturismo no percurso.
A equipe, formada pelo publicitário Ricardo Luciano Dias, 30, pelo operador de turismo Carlos Hiran Oliveira, 24, pelo analista de sistemas Tyrone Menezes Loiola, 27, e pelo artesão Cristiano Werneck, 26, percorreu uma média de 50 km diários e visitou cerca de 20 municípios dos estados de Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro.
Ao longo da jornada, eles analisaram aspectos como presença de acostamento nas estradas, sinalizações de trânsito e turística, oficinas para manutenção das bicicletas, restaurantes, pousadas, hotéis, pontos turísticos, condições de segurança e a situação dos acervos históricos e ecológicos.
A aventura começou no dia 17 de janeiro, na Praça Tiradentes, em Ouro Preto (MG). Se na partida os ciclistas apresentavam um certo ar de tranqüilidade, a expressão fatigada do quarteto na chegada em Parati, no dia 30, denunciava uma expedição bem mais dura que a imaginada.
O período da viagem, por exemplo, representou um obstáculo a mais para os ciclistas. Como chove muito em janeiro, enfrentamos muito frio e neblina, estradas enlameadas e esburacadas e para piorar, nossa bagagem, molhada, ficou bem mais pesada, descreveu Cristiano Werneck, relembrando o desânimo de vestir roupas e calçados encharcados todas as manhãs.
Outro transtorno deve-se à escolha dos equipamentos. Ao contrário do que se imagina, as peças top de linha não são as mais indicadas para este tipo de aventura. Como o desgaste do equipamento é intenso, diz Ricardo Dias, é financeiramente mais viável utilizar peças baratas e resistentes, abundantes no mercado.
Além disso, em caso de quebra, elas são mais facilmente encontradas e consertadas nas oficinas das pequenas cidades, acrescenta Dias que, pelo desgaste excessivo, foi obrigado a descer sem freio todo o trecho da estrada conhecido como a Garganta do Embaú, um vale na divisa de Minas Gerais com São Paulo.
Tyrone Menezes afirma que houve uma sensível melhora nas condições turísticas das cidades em relação à sua última viagem pelo trecho, há dois anos. É uma prova de que os municípios estão se movimentando no sentido de adequar suas infra-estruturas para o crescente fluxo de turistas, justificou.
Um exemplo é a reativação, em 2004, do passeio de Maria Fumaça entre Passa Quatro (MG) e Cruzeiro (SP). Desativada por mais de meio século, a locomotiva voltou a transportar passageiros pelo túnel ferroviário que liga os municípios e que foi palco da revolução Constitucionalista de 1932.
Outros locais visitados pelos integrantes da expedição que merecem destaque pelo grau de conservação e relevância histórica são a Casa de Tiradentes, antigo centro de cobrança da coroa portuguesa e ponto de encontro dos inconfidentes, em Ouro Branco, e o Parque das Águas de Caxambu, que recebeu ilustres visitantes, como o imperador Dom Pedro II e a Princesa Isabel; além do imenso patrimônio da arquitetura colonial dos vários municípios situados ao longo do Caminho Velho.
Segundo Tyrone, em quase todas as cidades há bons hotéis, pousadas e restaurantes, e as comunidades são atenciosas – em Caxambu, por exemplo, os ciclistas se hospedaram na casa de um morador que conheceram pela internet – e os acervos histórico e natural estão bem conservados. Soma-se a isto as diversas festas e festivais, que estão cada vez mais atrativos aos turistas, em sua maioria vindos de São Paulo e Minas Gerais.
Estradas perigosas – Mas, se nas cidades as condições são satisfatórias, o mesmo não se pode dizer das estradas, conforme avalia Cristiano Werneck. As estradas de terra estão muito esburacadas e as rodovias, em praticamente todo o percurso, não possuem acostamentos, nem mesmo onde o fluxo de carros e caminhões é intenso, criticou.
Outro item que não agradou a equipe foi a sinalização das rodovias. O cicloturista precisa ficar atento a estas informações. As imprecisões podem não ter impacto real sobre os motoristas, mas para quem viaja de bicicleta cinco quilômetros de diferença pode prejudicar bastante, alerta Dias.
O presidente do Instituto Terrazul, Américo Antunes, ficou satisfeito com o resultado da Expedição Trilha Real. A iniciativa é mais uma das ações realizadas pela ONG com o objetivo de contribuir no mapeamento e na divulgação de rotas coloniais históricas brasileiras. E a receptividade das autoridades e das comunidades, algumas delas entregando as chaves das cidades e desfilando com os ciclistas pelas ruas, comprovam o grande interesse dos municípios nos roteiros turísticos da Estrada Real.
O diário de viagem dos expedicionários, atualizado diariamente durante a jornada, pode ser acessado pelo site www.terrazul.org.br.
Este texto foi escrito por: Webventure