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Expedição Brasil Solidário-Chapadas

Essa expedição faz parte da segunda etapa do projeto Expedições Brasil Solidário. O objetivo foi conhecer lugares poucos explorados e gente esquecida nas regiões da Chapada dos Veadeiros e Chapada Diamantina.

Saí de Guaratinguetá numa sexta-feira de sol. Logo veio o primeiro imprevisto: fui parado por um guarda da polícia rodoviária de Volta Redonda que implicou com tudo: mercadorias sem nota fiscal, extintor de incêndio com o prazo de validade vencido, excesso de velocidade, etc. Simulou até um contato com a Receita Federal, mas após uma conversinha, pude seguir viagem.

Passei por Congonhas(MG) para conhecer a Basílica do Senhor Bom Jesus do Matosinho, com suas 6 capelas e 12 profetas de pedra-sabão esculpidos por Aleijadinho.Voltei um pouco pela BR-040 para pegar o trevo que leva à cidade de Ouro Branco. De Ouro Branco até Ouro Preto segui por uma estrada de terra (em obras) através de uma região montanhosa muito bonita.

De Ouro Preto à Brasília

A entrada de Ouro Preto é surpreendente! Passei ao lado da Alcan e segui por uma estrada superestreita construída ao longo da encosta de uma montanha rochosa. Cheguei à Ouro Preto, onde iria passar minha primeira noite.Ouro Preto impressiona com suas ladeiras estreitas de pedra que funcionam como ruas. A cidade é agradável e bem turística. Fiquei na pousada Marília de Dirceu (31) 3551-4327, da senhora Maria Thereza, próxima ao Teatro Municipal. Apenas R$ 10,00 por um quarto!

No segundo dia, segui em direção a Belo Horizonte pela BR-040 em direção a Brasília. A cerca de 100 km de BH, a estrada segue cheia de buracos por quase 30 Km, sendo os primeiros 10 km os piores. O melhor a fazer é diminuir a velocidade e seguir pelo acostamento.

Aproximadamente a 230 km de BH, passei pela arborizada cidade de 3 Marias. O lugar é chamado de Mar Doce (devido a represa 3 Marias formada pelas águas do rio São Francisco). Pude comprovar o efeito da falta de chuva porque as margens da represa estavam todas descobertas .A partir de 3 Marias, as retas intermináveis atravessam uma região de vegetação rasteira com árvores de pequeno porte que se estendem ao longo da estrada.

Na capital– Cheguei em Brasília ainda em tempo de ver o pôr do sol da torre de TV. Montei minha barraca no Alberque da Juventude de Brasília e dormi. No dia seguinte após dar uma Barbie para Bia, filha da copeira do Albergue, sai para conhecer nossa capital.Como era fim de semana, nossa capital estava vazia. Achar alguém para pedir informação era uma missão quase impossível! O jeito foi parar em um dos inúmeros postos de gasolina que povoam as ilhas que separam as avenidas Ls e Ws ,que dão forma as asas do avião Brasília, para tentar achar um frentista que pudesse me ajudar.

Brasília é um choque de modernidade. Construída de forma simétrica com ruas paralelas que procuram evitar os cruzamentos em níveis-apesar deles existirem e não serem poucos-privilegia o transporte individual, como a maioria das capitais brasileiras, com o diferencial de evitar congestionamentos. Congestionamentos esses que existem principalmente durante a semana nos horários de pico, segundo me informou um brasiliense.

Em Brasília fui meditar no templo da LBV e visitei a catedral Metropolitana com seus fotogênicos vitrais azuis! Segui pelo Eixo Monumental até o Congresso. Fiz um passeio pelos encarpetados e sombrios lugares de trabalho de nossos Deputados e Senadores. Segui para a praça dos Três Poderes e Palácio da Alvorada. Atravessei a ponte Costa e Silva e fui conhecer as mansões do lago Sul.

Alto Paraíso

De Brasília fui para Alto Paraíso – ponto mais alto do estado de Goiás, onde vivem esotéricos, místicos e alternativos à espera de visitantes de outras galáxias. Cheguei em Alto Paraíso à noite e fiquei num quarto do camping do Paquito. Antes de ir pra cama, tomei banho frio no escuro.

Peguei a GO-118, sentido norte e fui conhecer as cachoeiras do Rio Cristal – lugar onde os moradores de Alto Paraíso vão para se refrescar durante o dia. Continuei até a fazenda Santa Rita de Cássia para conhecer a cachoeira Água Fria. Na sede da fazenda encontrei uma arara que desceu até os galhos mais baixos e pousou para minhas fotos.

Da cachoeira se vê o Vale dos Órfãos, com uma vista super bonita. Pena que a cachoeira estava com pouca água. Conheci também a Gruta da Igrejinha, lugar onde o ouro era bento nos tempos do Brasil colonial. Voltei a Alto Paraíso e peguei a estrada do Moinho em direção ao parque Solarion. Lá, após 50 minutos de trilha, cheguei na cachoeira dos Anjos.

Na volta encontrei três senhoras que estavam cortando lenha. Parei e dei para elas muitas roupas e alimentos. Elas agradeceram felizes da vida. Na hora de tirar as fotos reparei que uma delas não sorria, apesar das graças que fazia. Então ela me confessou que não sorria porque tinha vergonha de mostrar sua boca sem dentes. Brasil país dos contrastes!

São Jorge

Peguei uma estrada de terra muito seca, com muita poeira, e segui para o vilarejo de São Jorge – porta de entrada ao Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros. No caminho estão as maiores atrações fora do Parque.

Entrei na Fazenda São Bento para conhecer a cachoeira de mesmo nome. Bela cachoeira com um poço enorme, onde todo ano acontece uma partida de pólo aquático. Nessa mesma fazenda estão as Cachoeiras Almécegas I e II, de 60m e 15 m respectivamente. Fui conhecer a Almécegas I, uma das mais belas cachoeiras de toda a viagem.Continuando pela estrada, passei por visuais incríveis como os Morros da Baleia e do Buração e Jardim de Maytrea.

Mais pra frente cheguei no famoso Vale da Lua. É impressionante o que o rio São Miguel fez com as pedras. São buracos redondos e formas inusitadas que dão a impressão de se estar em outro planeta! Um lugar único.Em São Jorge acampei no Camping da Beth (9958-5085). Um lugar super legal, com grama, árvores e banheiros super limpos.

As trilhas– No Parque há duas trilhas principais e divergentes, com cerca de 12 km cada, ida e volta. Passeio que dura um dia inteiro e deve ser feito com guia.Fiz primeiro a trilha dos Cânions e Carioquinhas (nome originado quando 3 meninas do Rio se perderam por lá!), com o guia Lindomar e uma moçada de Brasília.

O Cânion 2 possui uma queda d’água e um poço para banho e mergulho. As Carioquinhas são basicamente duas quedas d’água formando poços embaixo. Lugares da mais pura natureza e beleza. O Cânion 1 eu não conheci, pois nosso guia alegou que por termos chegado muito tarde ao Parque ele encurtou a trilha e não foi até o Cânion 1.

Mas ele só foi nos contar isso quando estávamos nas Carioquinhas, já no caminho de volta. E ele é considerado um dos melhores e mais experientes guias da região, mas pelo visto sem nenhuma ética. Por isso, sempre que precisar de um guia – espero que sejam poucas às vezes, fiquem esperto!

O mais engraçado disso tudo é que estive nos mais desconhecidos lugares, na grande maioria das vezes por conta própria, e apesar de não conhecê-los, tudo deu certo. E quando precisei de um guia, tive surpresas muito desagradáveis.

No dia seguinte, saí para a segunda trilha do Parque. A trilha dos Saltos (120m e 80m) e Corredeiras. Entramos no Parque num grupo de 13 pessoas com mais o guia Paulinho, e fomos conhecer primeiro o Salto de 120m. A vista: A água descendo pelas pedras e balançando ao ritmo dos ventos. Um visual de tirar o fôlego!

Continuamos pela trilha até o Salto de 80m com seu enorme poço e lugar para banho. Fomos para as Corredeiras formadas por várias quedas d’água pequenas, que funcionam como hidromassagem. Uma delícia!
Dormi até mais tarde e saí em direção à Colinas, para visitar as cachoeiras Raizama, que fica no sítio do João.

Passei pela hidromassagem (cachoeira pequena com poço para banho) e fui pelas pedras até a cachoeira e o cânion Raizama. A queda é bem alta, tem um vale rochoso e formações nas rochas parecidas com as do Vale da Lua. Andei por um caminho à beira do abismo e cheguei num poço para banho, de onde se pode nadar até a Cachoeira do Segredo.Em seu sítio, João cuida de crianças que vem da roça para estudar em São Jorge.

Continuando pela estrada, cheguei na fazenda que dá acesso à Cachoeira Morada do Sol e Vale das Andorinhas. Conheci primeiro o Vale das Andorinhas. Um lugar lindo, formado por um vale de pedras com água escorrendo e dando formas arredondadas às pedras. Fui então até a cachoeira e tomei um banho no poço mais longo.

Na porteira de saída da fazenda, encontrei o seu Zé, que me deu a dica para conhecer as Termas do Dó. Conversa vai, conversa vem, ele me confessou que não achava nenhuma graça na cachoeira Morada do Sol e no Vale das Andorinhas,, mas respeitava o gosto do turista.
Peguei a estrada novamente e cheguei nas Termas do Dó (Morro Vermelho) onde tomei um banho quente , de 38º C, em uma das piscinas naturais.

O passeio continua– Levantei cedo, desarmei a barraca e sai em direção a Colinas do Sul. Esse seria um dia de muita poeira! Logo após Colinas encontrei com Sr. Aldair, esposa, os filhinhos e os meninos gêmeos que ganharam brinquedos, cestas básicas (doadas pela RECOBASE de Guaratinguetá), roupas e bonés.

Passei por Ponte do Rio Negro, com suas pequenas vilas, nas quais fui distribuindo alimentos e brinquedos. Após muito pó e calor crescente, cheguei em Capela. Logo conheci Dona Joana (tia do guia Paulinho) e suas filhas. Elas reuniram todas as crianças da vila, que ganharam bonecas Barbie, carrinhos Matchbox (doados pela Mattel) e bonés FRAM.

A alegria das crianças era tanta que custamos a separar os meninos das meninas para a distribuição dos presentes. Acabei almoçando com Dona Joana e ganhei dos meninos um saco cheio de mangas. Além dos brinquedos, deixei muita farinha, leite em pó, macarrão, molho de tomate (doados pelo CIRO), para Dona Joana distribuir aos mais necessitados do vilarejo de Capela.

Na saída de Capela, deixei uma cesta básica na casa do Sr.Romildo; Angélica e seus irmãozinhos ganharam brinquedos e bonés. Após 130 km de muita poeira, cheguei em Cavalcante, simpática cidade conhecida por suas cachoeiras e passeios pelo lado norte do Parque. Fui dormir em Mimoso (Luis Antonio Magalhães), já na Bahia. Eu estava exausto e feliz da vida!

Tomei café cedo e saí em direção a Lençóis. Logo após Seabra, já nas cercanias da Chapada Diamantina, fui conhecer a gruta Lapa Doce. Entramos na gruta com o guia Epaminondas, de Iraquara.

A gruta é um salão enorme, largo, contendo inúmeras formações de estalactites e estalagmites. Andamos debaixo da terra por 800m e no final da visita os lampiões foram apagados. Assim pude ter uma idéia da escuridão e silêncio do interior da gruta. Perto dali está o Balneário da Pratinha (Gruta Azul e Gruta da Pratinha – que está interditada para mergulho).

Lençóis

Cheguei em Lençóis, simpática cidade que teve seu auge com a descoberta de diamantes no Rio Lençóis, e serve como ponto de partida de várias trilhas.Fiquei na super aconchegante Pousada Estalagem do Alcino, famosa pelo seu café da manhã. Era meu aniversário, dia de fazer algumas extravagâncias.

Acordei com suco de cajá (grosso), creme de cacau, pão de linhaça, torta de aveia, bisnaguetes quentinhas, maçãs carameladas com canela, bijou de tapioca, ovos mexidos com pimenta do reino, manteiga com alho e manjericão, pasta de amendoim, etc. Como se pode ver, um café dos Deuses!

Fui conhecer o Serrano (poços com duchas para banho). Lá encontrei o guia Ramon que estava com um casal de São Paulo – a Silvia e o Chico. Fomos juntos para o Salão de Areias, onde Ramon nos mostrou as varias tonalidades da areia contida nas rochas. Areia essa utilizada para os desenhos em garrafas de vidro.

As cachoeiras– Com mais alguns minutos de caminhada, chegamos na Cachoeirinha, com apenas 20m de queda. Uma cachoeira sob medida e de fácil acesso. Continuamos até a Cachoeira da Primavera, uma queda d’água bem maior que causa dor ao bater no corpo. Ramon, como bom baiano, dormiu na fresta da pedra. Subimos um pouco mais até o Mirante, onde se vê toda a cidade de Lençóis. Depois, fomos escorregar na Cachoeira da Escorregadeira, no Rio Ribeirão do Meio.

Fui jantar no restaurante A Picanha na Praça (75 334-1248) e encontrei Silvia e Chico. Logo Ramon chegou com seu filho. Comemos, ou melhor, devoramos uma deliciosa picanha com arroz e feijão tropeiro.A digestão foi feita pelas ruas de Lençóis, onde conhecemos Gel e tomamos um suco.

Mudei para uma acomodação mais simples, o Camping Alquimia (75 334-1346) do Sr. João Alves. No dia seguinte, Chico e Silvia chegaram e fomos juntos conhecer a Cachoeira da Fumaça. Passamos por Palmeiras e Capão. Deixamos o carro e iniciamos uma caminhada de 6 km pela Serra do Sincorá, sendo os primeiros 1,5 km de subida ao morro.

A cachoeira despenca 400m e sua pequena vazão d’água se evaporava ao longo do caminho até o chão, ou espirra para cima empurrada pela força do vento. O lugar é muito bonito. As montanhas rochosas formam um cânion semelhante aos de Aparados da Serra.

Na volta, paramos no morro do Pai Inácio. Chegamos às 17:06 hs. Fechava às 17:00 hs e não conseguimos subir. Jantamos de novo no A Picanha na Praça. Comemos pescada grelhada e carne de sol na chapa. Mais uma fez a digestão foi feita pelas ruas de Lençóis.

No dia seguinte, saímos para o Pai Inácio. Dessa vez chegamos cedo, 9:30 hs. Subimos e pudemos ver de cima toda a beleza da Chapada Diamantina. O morro do Camelo, os Três Irmãos, a Mãe Inácio.

De Lençóis a Andaraí pela “estrada” do Garimpo

Voltamos para Lençóis e me despedi de Silvia e Chico. Peguei a “estrada” do garimpo que vai de Lençóis até Andaraí. Outra estrada toda esburacada.Foram 37 Km de buracos, valas, lama, areia, mata fechada e 27 km de rios e riachos-alguns secos e outros que a primeira vista pareciam intransponíveis.

Passei por vários vilarejos muito pobres. Foi legal, porque pude distribuir os alimentos, brinquedos e roupas restantes para quem realmente precisava. Foram cerca de nove famílias assistidas e momentos de muita alegria.

Mais uma vez foi uma experiência única poder ver nos rostos daqueles brasileiros, tão sofridos, um sorriso de felicidade e receber uma palavra ou um gesto de gratidão. Passei pelo centro de Andaraí e segui para Igatu, onde dormi na Pousada de Dona Norma (restaurante Panela de Barro).

Igatu – Mucugê

Igatu é um vilarejo encravado numa montanha de pedras. Foi um lugar de garimpo. Hoje é habitado por ruínas de pedras e algumas pessoas. Fui conhecer o Poço Encantado. O Poço recebe os raios de sol durante os meses de junho, julho e agosto e o luar em dezembro, janeiro e fevereiro. Um lugar de grande beleza.

A água é tão transparente, que custa acreditar que existe água lá! Sua presença é denunciada por uma fina camada opaca que bóia em sua superfície, formada pela precipitação que vem do teto da gruta. Essa camada é retirada periodicamente pelos guias.O Poço Azul fica na Fazenda União. Percorri 20 km de terra, estacionei o carro e atravessei uma ponte pênsil sobre o rio Paraguaçu.

No Poço Azul foi possível ver os raios de sol penetrando na água. Fiz um mergulho livre em suas águas e encontrei um pesquisador da USP que está mapeando o lugar. Ele me revelou ter encontrado fósseis de uma preguiça gigante, um veado e um mamute no fundo do Poço. O Poço Azul é um espetáculo à parte e mergulhar em suas águas é uma experiência inesquecível!

Em Mucugê, a atração é o Cemitério Bizantino, onde as rochas são utilizadas como túmulos. Jantei no restaurante da Pousada de Mucugê um Godó (arroz, carne de sol, carne de charque e banana da terra). Estava uma delícia. Dormi na Pousada Santo Antônio(75)338-2118. Apesar dos Poços Encantado e Azul ficarem mais próximos de Igatu que Mucugê, sugiro se alojar em Mucugê, que tem melhor infra estrutura e é uma cidade mais simpática. Vá a Igatu para passear.

Quero agradecer imensamente aos meus pais Hugo e Cininha, e às empresas que acreditaram e me apoiaram em mais uma viagem solidária: Recobase Cestas Básicas, Filtros Fram, Fukuoka Produções Fotográficas, Bull Terrier, Ciro Atacadista e Mattel.Mais informações sobre essa e outras viagens, visite o site www.saiadatoca.cjb.net ou envie um e-mail para saiadatoca@uol.com.br .

Este texto foi escrito por: Alexandre Vianna