Webventure

Expedição do trio brasileiro ao Makalu chega ao fim


Niclevicz já conquistou o Everest (foto: Arquivo pessoal)

Os montanhistas brasileiros Waldemar Niclevicz, Irivan Burda e Maurício “Tonto” Clauset, iniciaram no início de maio uma expedição rumo ao cume do Monte Makalu, a quinta maior montanha do mundo, com 8.463 metros de altitude. Depois de inúmeras tentativas e muito desgaste, o trio se viu obrigado a desistir do desafio devido ao mau tempo. Acompanhe abaixo o relato de Niclevicz, já no acampamento base.

Estimados Amigos!

Finalmente estamos todos de volta ao acampamento base (5.700m), depois da nossa tentativa de ataque final ao cume do Makalu (8.463m).

Estamos todos bem, apesar de sentirmos, cada um, as conseqüências de tamanho esforço!

Chegamos bem alto: podemos dizer que, visualmente, faltou pouco. O cume parecia que estava ali! Mas, na verdade faltou muito, mais de 600m de desnível, pois chegamos apenas até 7.800, onde eu e o Irivan nos sentimos impotentes, atolados na neve até o joelho, no meio de uma linda manhã.

Estávamos “perto de nossa exaustão”, disse o Irivan, dentro da Zona da Morte (a região acima dos 7.500m) há mais de dois dias, lutando contra o ar rarefeito e fascinados pela beleza da montanha! Porém a neve em excesso nos empurrava para baixo, muita neve, além do normal para essa época do ano!

Às vezes nós afundávamos, acredite, em mais de um metro de neve. Isso era humilhante. Eu tentava incentivar o Irivan, ele me dizia: “eu não agüento mais”. Então eu retomava dianteira rogando forças a Deus! Mais alguns metros, mais algumas centenas de metros, como tartaruga arrastando o peito na neve, dois brasileiros enfrentando, sozinhos, uma montanha gigante!

Como já disse, no final, estávamos lá, às 8h de uma linda manhã, céu completamente azul, encalhados a 7.800m. Eu não conseguia dar mais um passo. Então o Irivan disse: “deixa eu ir na frente”. Que “alívio”, pensei. Mas meu amigo dava apenas um passo a cada minuto. Eu disse: “ei Irivan aonde você quer ir assim?”.

Decisão – Caímos na real: mesmo superando nossas forças, levaríamos, no mínimo, de 8 a 10 horas para chegarmos até o cume com tanta neve. Era melhor descer e com muito cuidado para não cair nas inúmeras armadilhas que já havíamos enfrentados na subida. E as armadilhas vieram logo: lá pelas 11h, as nuvens, depois do meio dia a neve, depois mais neve, o vento e a pouca visibilidade. Foi uma descida dramática até o acampamento 1 (6.600m).

A expedição Brasil Makalu é uma expedição genuinamente brasileira, com recursos limitados, sem patrocínios, idealizada por mim e pelo Irivan. Foi a única a enfrentar o Makalu, a 5º maior montanha e uma das mais difíceis do mundo. Nessa temporada, ninguém mais apareceu por aqui.

Por tudo isso, não estamos nos sentindo nem vencedores, nem perdedores. Nós achamos que chegamos perto das mais elevadas altitudes do Makalu. Estamos voltando para casa orgulhosos e felizes.

Agradecemos a torcida de todos nesses dois meses em que ficamos entre as montanhas do Himalaia. Sabemos que muitos amigos estiveram aqui com a gente.

Amanhã levantamos acampamento e vamos caminhar 114 quilômetros até uma pista de pouso. Então voaremos para Kathmandu e depois para o Brasil. Quando chegarmos em casa, vou divulgar as maravilhosas fotos da expedição. Tenho certeza que você vai se surpreender com a beleza que vimos.

O Irivan, a Márcia, o Tonto e eu mandamos um grande e sincero abraço para todos.

Até o amado Brasil!

Waldemar Niclevicz

Este texto foi escrito por: Waldemar Niclevicz