O capitão da Equipe Floripa Sul Brasilis conta como foi sua participação na EMA 2001 – Amazônia
Foram praticamente dois, três meses antes da EMA 2001, que a equipe Floripa Sul Brasilis tornou seu sonho de participar desta prova realidade. Depois de várias tentativas frustradas de patrocínio e sem dinheiro para a inscrição (R$5.000,00), aconteceu um milagre. Justamente na época da organização da Sul Brasilis Adventure, em Setembro de 2001, o Alexandre (organizador da Expedição Mata Atlântica) me telefonou e “doou” duas vagas para a EMA: uma para a melhor equipe classificada na Sul Brasilis Adventure 2001, com a condição de que todos os atletas fossem moradores da região Sul, e a outra para a equipe que já vinha se destacando no circuito brasileiro de corridas de aventura. Infelizmente, a equipe Paz na Terra /Sotália, ganhadora a outra vaga, não pode ir.
Os preparativos– De lá pra cá, os preparativos e preocupações não cessaram. Tínhamos que fechar a equipe, treinar e conciliar horário para fazer reuniões sobre a logística da prova. Sem dúvida, muitas horas de dedicação que, no fundo, passaram muito rápidas e sempre eram poucas. O grande dia se aproximou com velocidade, e, quando vimos, já estávamos embarcando para Santarém – PA, cidade base da prova. Apesar das inúmeras conversas entre nós, da equipe, acabamos nos atrapalhando pela grandeza e exigências materiais da prova e deixando alguns “detalhes” para a última hora, passando certo sufoco para conseguir alguns equipamentos obrigatórios. Sorte que contamos com amigos (especialmente o Welesson – SP) e familiares que nos apoiaram e resolveram estes “galhos”.
Já em Santarém, para se ter uma idéia da dimensão do evento, organização e atletas lotaram os três maiores hotéis da cidade. Lá, tivemos compromissos como tirar foto oficial da equipe (disponível no site www.ema.com.br), checar equipamentos obrigatórios, dar entrevista para o filme que será editado e participar, no dia seguinte, do tão esperado briefing e entrega de mapas,GPS, telefone por satélite e BEACON (rastreador por satélite), aparelhos de segurança e resgate.
Tivemos que escolher, ainda, um horário entre 22 hs e 4 hs da manhã para embarcarmos para a largada (que seria no dia seguinte), trajeto feito de balsa e que durou 6 horas de viagem (80 km). Escolhemos 4 da manhã, para dar mais tempo de preparar as coisas e descansar. Porém, eu e o Jó ficamos até às 3hs plotando e plastificando mapas.
Ah, só para lembrar, lá existe uma diferença de fuso horário, de 2 horas a menos, e a luz do sol brilhava entre 5 hs e 18 hs.A viagem de balsa foi tranqüila, fora o susto que levamos: uma rapazeada de outra equipe mexeu no gancho da rede onde estava o Jó, dormindo, conseguindo derrubá-lo no chão.
Dia 25, 11h da manhã, a “brincadeira” estava por começar: o primeiro
trecho da prova consistiu em 800m de natação cruzando a desembocadura do rio Curuá-Una, 12km de catraia (embarcação local à vela) cruzando o rio Amazonas , 32 Km de trekking contornando lagoas infestadas de arraias e peixes elétricos, mais 200m de natação e 84 km de bike (pelo melhor percurso, porque muitos fizeram mais de 100 km) para daí chegarmos na AT1 (com direito a reabastecimento).
Minutos antes da largada, ninguém agüentava mais de tanta ansiedade.
Afinal, já eram meses de espera. Dado o sinal, as equipes se lançam às águas do Curuá-Una, algumas ferozmente e, outras, ainda sentadas sob o pórtico de largada, sem pressa, afinal teriam mais seis dias de prova pela frente, e não seriam 800 metros de natação que definiriam a corrida.
Confesso que muitas equipes, inclusive a nossa, tiveram certa dificuldade neste trecho, pois uma corrente muito forte nos empurrava pro Rio Amazonas,nos tirando do rumo desejado. Saímos entre os vinte e cinco primeiros, e rapidamente empurramos a pesadíssima catraia (barco local com vela) pra água e comandados pelo Jó (antigo velejador da ilha), começamos uma excelente etapa. No início, estávamos meio receosos sobre a estabilidade da embarcação, mas adquirimos confiança, enfrentado algumas rajadas de vento e chegamos na transição para o trekking em 12° lugar. Algo altamente motivador para um início de prova com 48 equipes de ponta.
O primeiro dia de prova– “Vaselinamos” os pés e ligeiros iniciamos a pernada de 32 km de trekking por uma grande e bela ilha, sob um forte sol das 14hs e há quase 40° C. Seguimos um ritmo bom, mas sem forçar, pois o risco de desidratação era constante, e a água seria um objeto raro nesta etapa. Muitas equipes nos passaram correndo, e também passamos por muitas outras. Depois de algumas horas sem água, num açude quase seco e juntamente com outros times, conseguimos uma água barrenta que parecia café, a qual após tratarmos com hidrosteril (purificador) nos saciou.No final deste trecho, passamos por umas vilas e era impressionante como o pessoal curtia e nos incentivava, com palavras, gritos, água gelada e até oferecendo jantar.
À noite, atravessamos a nado mais um rio (cerca de 200 m) e chegamos à cidade de Monte Alegre PC4, onde encontramos as bikes e para nossa surpresa descobrimos que estávamos em 10o lugar. Fizemos uma transição lenta e saímos para o pedal de 84 km na 14ª colocação, em torno das 23 hs. Escolhemos a melhor rota, pedalamos forte (com o Japa rebocando a Sara) e sem ultrapassar nenhuma equipe. Com uma navegação precisa, e com direito até a um tombo coletivo em cima da ponte, chegamos às 4h 30 da madrugada no PC 5, novamente na 10ª posição.
Sabíamos que isso não significava nada ainda, pois não tínhamos nem 24 horas de prova (Contudo, é altamente motivador andar bem colocado).
Tivemos que pagar uma hora de multa, pois não tínhamos caixa rígida para transportar as bikes (regra desta competição), e aproveitamos para dormir (cerca de 40 min). Meia hora depois estávamos no PC 6 / AT1, onde encontramos nossas caixas e pudemos fazer um macarrão com atum, ervilha, milho e tudo que apareceu pela frente, tendo uma alimentação mais consistente.
Mais uma transição lenta, e finalmente, às 9hs30, saímos para o trecho mais temido e difícil da prova: 80 km de trekking, com rapel, várias travessias de rios e ascensão em corda fixa (jumar) pela frente (até PC 13). Estava muito calor e decidimos andar num ritmo mais lento. No 3o ou 4o quilômetro, tivemos a fatalidade da Sara torcer o pé, e depois de perdemos muito tempo para decidir se ela deveria continuar a prova ou não, Sara achou que não estava em condições.
Liguei para a organização (com o Global Star – telefone por satélite) e a levei de volta até a estrada principal. O Jó e o Japa ficaram dormindo na trilha, pois eu estava em melhores condições de acompanhá-la.Foi um momento difícil e altamente desanimador, pois depois de tanto empenho para estarmos lá, estávamos desclassificados. Perdemos muito tempo e colocações, e voltamos a andar somente às 14hs30. Logo vimos que nossa estratégia de andarmos vagarosamente deu certo, pois começamos a passar muitas equipes que estavam paradas se recuperando da desidratação. Chegamos no PC 7 em 16°, e apesar de não estar mais valendo o ranking oficial isso nos motivou novamente. Tínhamos perdido bastante tempo com a desistência da Sara, mas estávamos seguindo um bom ritmo e estratégia.
Parada para dormir– Às 20 hs, quando estávamos no PC 7, montamos nossas redes para dormir na casa de um nativo, junto com a equipe itatiaia.com.br, formada por bombeiros e o experiente Valdir Pavão, participante de 2 ou 3 Eco-Challenges. Era neste ponto que as equipes decidiam se fariam a categoria Expedição (mais difícil)
ou Aventura. A diferença seria um trekking de 30 km por um trecho sem
trilhas, seguindo somente por leito de rios com mais um rapel de 50 metros numa belíssima cachoeira.
Nossa idéia era descansar duas horas e sair em torno das 23 horas. Porém, um desânimo geral ainda estava pelo ar (desclassificação) e como enfrentaríamos o trecho mais difícil da prova, só iríamos partir às 7 horas da manhã do dia seguinte. Apesar de termos bastante tempo
para descansar nessa prova (11 horas), acreditamos até que tenha sido
uma boa opção, pois ultrapassamos equipes perdidas que dormiram na mata, e continuamos em 16° no PC 8. Neste pedaço da prova, a navegação não era complexa, mas a progressão era muito lenta e cansativa.
Estávamos descendo o selvagem e difícil rio Ambrósio. Com mais de uma hora de caminhada e ainda se espreguiçando aos primeiros raios de sol, chegamos no encontro deste com o rio Ambrosinho. Esta era uma ótima referência de navegação. A partir deste trecho, fizemos o mesmo percurso até o PC 7. Porém, ao contrário de antes, “varamos” mato costeando o rio, conseguindo economizar 2 horas em relação à vez anterior, onde fizemos pelo leito.
No PC 7, encontramos 3 equipes recarregando as energias, que estavam
respectivamente na 9ª , 10ª e 11ª posição. Isso nos animou, e nos deu um feedback sobre o ótimo trekking noturno que fizemos. Também descansamos e “tratamos” nossos pés, um segredo das provas longas. Saímos deste ponto cerca de meio-dia, sob forte sol, margeando e subindo o rio Maicuru. Seguimos um ritmo bom, mais tranqüilo, com a filosofia do devagar e sempre. Deu certo, pois em pouco tempo já estávamos passando pelas três equipes que saíram na nossa frente do PC. Todas essas equipes seguiam muito lentamente devido às várias bolhas que adquiriram na exigente caminhada pelo rio Ambrósio.
O PC 10 ficava do outro lado do rio, que cruzamos nadando entre duas
fortes corredeiras. Um trecho bem bonito e “adrenante”. Eu e o Jó
carimbamos o passaporte e seguimos sem descanso rumo ao PC 11 (ascensão em corda fixa), afinal ainda restava uma boa pernada de trekking e queríamos chegar logo ao duke (caiaques infláveis).
Morro do Chapéu– Neste pedaço da prova, havia um desnível considerável (500m) para chegar ao alto do Morro do Chapéu e nossos pés já acusavam sinais de cansaço: apesar das bolhas estarem controladas, a sola dos pés doíam bastante, prejudicando muito nossa velocidade e progressão. E para dificultar, a cada segundo a trilha se tornava mais íngreme e em algumas partes tinham cordas para nos auxiliar e nos puxar pra cima. Chegamos ao cume do morro com certa dificuldade. Porém, era a mesma para todas as equipes.
Quando chegamos lá, a equipe Bicho do Mato, que ocupava a 8ª colocação, estava recém saindo do PC. E isso nos motivou, pois nos mostrava que todos passavam mortos de cansaço e estávamos indo muito bem, com um ritmo maior que outras equipes que estavam na frente.
Fomos a última equipe a fazer a ascensão. Como foi à noite (18:00 hs), nem pudemos apreciar o visual que o morro propiciava. Descemos a trilha até uma clareira, onde tinha também um córrego para reabastecer as caramanholas com água. Era cerca de 20hs, e estávamos muito exaustos e lentos. Resolvemos descansar: tiramos os tênis e cochilamos meio que sentados por 40 minutos.
Felicidade e motivação– Acordamos com a “coceirinha” que uns “bichinhos” faziam ao andar por nós. Ainda com sono, resolvemos seguir. Com os pés mais aliviados e com o sofrimento controlado, tomamos energéticos e comemos alguma coisa. Em meia hora, a energia começou a transparecer e aumentamos nosso “pique”. Passamos por várias equipes que tinham tomado corte no PC 11 e estávamos descansados e altamente motivados. Certas horas eu andava tão rápido que passava reto quando a trilha fazia curva!
De madrugada, 1h30, foi um momento de extrema alegria. Não poupamos gritos de comemoração. Chegávamos à pista de vôo (monomotor) do Jacaré, antigo garimpo em meio à mata. Mais 1 km pela pista e chegamos à Área de Transição.Passaram “apenas” 64 horas desde a última transição!!! (80 km de trekking).Apesar de nos terem dito que andando bem, levaríamos seis horas do PC 11 ao PC 13 e velozmente matamos em quatro horas e quarenta e cinco minutos.
Todos dormiam: equipes (muitas que optaram pela categoria Aventura e a 6ª e 7ª colocada da Expedição) e fiscais. Apesar de nossos gritos, ninguém se mexeu. Enquanto o Jó preparava nossa janta (espaguete,arroz carreteiro e purê de batata pré-prontos), fiquei procurando água mais ou menos por meia hora. Decidimos que, após comer, seguiríamos em frente para ultrapassar as equipes que dormiam, porém, quando acordamos o fiscal, ele nos informou que o percurso inicial do duke só poderia ser feito de dia (Zona escura), devido às fortes corredeiras que seguiriam (Classe IV e V), com conseqüente necessidade de portage (passar o caiaque pelas pedras / margem). Isso cortounosso barato e empolgação.
Uma cama melhor– Só nos restava dormir. Escolhemos um duke bem inflado e nos atiramos dentro. Depois das péssimas “camas” que tivemos nas noites anteriores, este “colchãozinho” era um baita privilégio. No meio do friozinho da madruga, um bom “coração” me cobriu com uma lona. Com os olhos “grudados”, nem vi quem foi, mas agradeci silenciosamente.
Às 5 da manhã começamos os preparativos para enfrentar os 60 km de duke.Algumas equipes que passamos no trekking à noite nem tinham chegado ainda ao acampamento. Num perfeito exemplo de prova de auto-suficiência, tivemos que levar o duke ainda por 1 km, até às margens do Rio Maicuru, onde passaríamos as próximas dezesssete horas e meia. Entramos no rio, às 6hs30, juntamente com a equipe canadense, número 52, que estava na categoria Aventura.
Táticas– Na primeira corredeira já tivemos idéia do que viria pela frente.Ocorreu um imprevisto nada animador: perdemos um remo numa das primeiras portages. Pura falta de atenção. Tivemos que mudar de tática: um remava e o outro dormia. Foi uma boa tática, pois conseguimos descansar bastante.Eram mais ou menos duas horas de sono para cada um. Como eu gosto de remar e tenho mais vivência no duke que o Jó, remei por mais tempo. Puro prazer descer guiando pelas turbulentas e desconhecidas águas brancas do Maicuru. Foram praticamente os 60 km com um só remo. Mesmo assim, conseguimos acompanhar a equipe do Canadá por todo o trecho das corredeiras (total de 30 em 30 km). Eles se distanciaram nos 30 km do remanso e chegaram meia hora antes na AT seguinte.
Enquanto o Jó dormia e eu remava no “breu” da noite, olhava para a margem escura e só via a silhueta das imensas árvores. Só imaginava quanta vida existia dentro daquela selva e quão sinistro seria estar perdido sozinho lá dentro. Ainda bem que nossa situação era bem melhor. Éramos uma dupla, bem orientados e no rio.
Também foi a única parte que me irritei na prova, e fiquei revoltado com o Alexandre (organizador), pois nos 10 km finais, após o PC 16, já à noite, o bote encalhava muito. Tínhamos que descer do bote, com os pés ainda doendo do trekking, e empurra-lo. Para piorar a situação, dois metros depois o duke estava preso de novo. E, na escuridão, não conseguíamos ver a melhor linha do rio. O Rio estava largo e dava impressão que era uma imensa laje com uma fina lâmina d’água por cima. E quanto mais perto estávamos, mais demorava.
Finalmente, enquanto dormia, ouço o Jó falar: “Estamos perto. Ouvi barulho e luz de carros”. Era a rodovia PA 254. Depois de dez minutos avistamos a ponte. Era o tão sonhado PC 17, que ficava ao lado da ponte. Mais uma etapa vencida. A previsão da remada, segundo a organização, era entre dezessete e vinte horas. Fizemos em dezessete horas e meia e com somente um remo. Fomos muito bem.
Também foi duro tirar o duke d’água e levá-lo até AT, com mais ou menos quatrocentos de distância. Os pés estavam descalços e amolecidos pela água, passando por umas pedrinhas bastante doloridas na estrada de chão.
A chegada no PC 17– Chegamos meia noite,”batemos um rango” e nos preparamos para pedalar os 110km madrugada dentro. Estávamos sem sono e alimentados. À 1h manhã, quando estávamos quase prontos (o corte era às 2 da manhã), a organização nos aconselhou a não prosseguir, pois teria outro corte às 9:00 hs da manhã na catraia (vela) e era arriscado não chegar a tempo. As equipes estavam levando entre seis e nove horas no percurso. Isso nos desanimou e resolvemos dormir até às 4hs, horário que sairia um ônibus da AT, levando as equipes que ali estavam para o PC 18, início da catraia. Na verdade, nos arrependemos de não ter encarado esta “perna” de bike.
Uma segunda largada– Levamos duas horas de ônibus até o PC 18 e lá encontramos o Japa. Ele tinha saído com outra equipe às 21 hs, e tinha levado quase seis horas no trajeto, mesmo com o furo de um dos pneus. Batemos um papo com outras equipes (já não estava mais rolando
aquele clima competitivo) e em torno das 8hs30 iniciamos os 80 km até o PC 21, em Alter do Chão, praia destino da aventura.
Foi praticamente uma segunda largada. Várias equipes saíram juntas e isso dava um clima legal. Após um tempo o vento ficou muito forte, exigindo um nível técnico que as equipes não possuíam. Andávamos de uma margem à outra. O Jó, que comandava a embarcação (devido à suas experiência em regatas), resolveu diminuir a vela. Com muito sacrifício, levamos uns vinte minutos para conseguir.
Valeu a pena. Começamos a ultrapassar várias equipes, pois estávamos
conseguindo dar direção ao barco. Para nossa tristeza, o PC 19 ficava numa ponta formada entre o Rio amazonas e um afluente, num lugar muito exposto ao vento. Depois que atracamos para eu ir carimbar o passaporte, tentamos sair por quatro vezes e viramos. Ficamos mais de duas horas para conseguir sair. Rolou um abatimento e estresse geral. Estávamos vindo tão bem e de repente não conseguíamos mais tomar conta da situação.
Finalmente saímos, totalmente desajeitados, prestes a virar e na maior
tensão. O Jó não dava conta do leme, de tão forte que estava o vento.
Estávamos numa direção que não era boa, e sem querer, começamos a cruzar o Rio Amazonas, que tinha uns 10 km de largura. O Jó no leme, eu na vela, e o Japa no balde. Mesmo na adrenalina, eu estava morrendo de sono, não conseguindo controlar. Dava grandes “piscadas”. Algo impressionante. Entre 500m e 1000m da outra margem, veio uma forte onda por trás e encheu o barco com muita água. Não tivemos nem tempo de pegar as baldes para tentar tirá-la Estávamos naufragando, para nosso desespero. Num primeiro momento, pensei que só sairíamos dali resgatados.
Sem outra opção, relaxamos e começamos a rir muito, muito mesmo. Com
certeza foi o momento mais divertido de toda a prova. Foi um alívio muito grande. O fantasma do barco virar estava controlado. E não nos restava outra alternativa a não ser esperar. Percebemos que aos poucos a corrente nos levava para a beira. O Japa (apelidado de “tourinho” por nós) se cansou de esperar e falou: “vou rebocar essa catraia”. Eu e o Jó ficamos só olhando o que estava por vir: ele pegou a corda de ancoragem do barco, a trincou entre os dentes, e saiu nadando para a margem.
Cena inesquecível– Começamos a rir novamente, foi uma cena muita engraçada! Logo mais, apareceram duas canoas de nativos que estavam pescando, resgataram eu e o Jô e nos deram uma carona até a prainha que o “tourinho” já descansava. Resolvemos comer, pois agora não tínhamos mais a menor pressa. Fizemos tudo calmamente. Tiramos a água, montamos a vela e partimos, tranqüilamente. Já se foram mais duas horas na brincadeira.
Faltavam mais uns cinqüenta quilômetros a ser percorridos e o vento diminuiu bastante. Passamos por Santarém. Das barrentas águas do Amazonas passamos para as límpidas do Tapajós. Anoiteceu. A lua vermelha surgiu de “dentro” do rio. Foi uma cena inesquecível. Como estava mais tranqüilo, e no dia anterior dormi menos que o Jó, tirei uma “soneca” em cima das mochilas. Volta e meia acordava, com alguma parte do corpo meio dormente, mudava de posição, tirava um pouco d’água e olhava as belíssimas praias que contornávamos. Passamos pelo PC 20, em torno das 20hs. Restavam vinte quilômetros e cerca de três horas de viagem. Era a reta final.
O vento estava quase a zero e progredimos lentamente. Por volta de meia noite avistamos as luzes da praia de Alter do Chão. Agora, era só uma questão de tempo. Estávamos perto, mas ainda não avistávamos a chegada. Já ouvíamos até um som da festa. Essa hora foi extremamente chata, pois o Jó “viajou” no leme e ficamos rodando de um lado para outro da praia sempre no mesmo lugar. Da catraia, só conseguíamos ver areia e mais areia, luzes e mais luzes, e nada de chegada.
Outras duas equipes passaram por nós e a gente na mesma situação,pra lá e pra cá. Decidimos ir direto para areia para constatar o que estava acontecendo. Um nativo nos falou de um canal que tinha no final da praia, que dava pra um imenso lago, o qual não conseguíamos ver de longe . A chegada era em um hotel, na beira do lago.
Ainda tivemos que empurrar a catraia no canal, pois estava na hora da maré baixa. Restavam aproximadamente dez minutos pelo lago, velejando e ajudando com a remada, ansiosos por acabar logo a prova. A cantoria de violão estava mais próxima e, depois da curva, finalmente, o tão desejado pórtico de chegada.
A linha de chegada– Eram 1h23, e depois de totalizadas 134 horas de prova, cruzamos a linha de chegada sob meia dúzia de aplausos. A alegria de terminar a prova era imensurável. Conversamos com algumas equipes que tinham acabado de chegar. Aguardamos um carro que nos levaria para o nosso hotel e às 4hs30, com uma rápida ducha tomada, estava em uma confortável cama para sonhar com aquele momento mágico que passávamos.
Lembro que o Japa me acordou para tomar café da manhã, às 10hs e depois dele dormi até às 17hs. Fomos para a festa de encerramento. Conversamos bastante, contamos história, trocamos e-mail com a galera de outras equipes, jantamos e vimos o clip da prova. Essa foi a história da EMA 2001-Amazônia.
Tenho que confessar que me senti extremamente feliz e privilegiado em ter tido a oportunidade de participar, e espero que na próxima edição a Equipe Floripa Sul Brasilis tenha a felicidade de acabar a prova com todos os suas participantes.Nós terminamos na categoria Expedição em 7° lugar, mas como a equipe chegou incompleta, fomos desclassificados. Tivemos o apoio da RAD Mountain Esportes Radicais, Max Muscle Suplementos Alimentares e Central Bike.
Este texto foi escrito por: Anderson Roos
Last modified: janeiro 2, 2002