Depois dos animais selvagens, a água foi o principal desafio dos brasileiros nas trilhas da África. Na última parte da reportagem sobre a expedição Norsul, saiba porque a viagem quase acabou em tragédia.
Um cemitério de navios foi a próxima parada da expedição Norsul pela África. “A Costa dos Esqueletos é conhecida como um lugar amaldiçoado por ser pontilhada de navios naufragados e esqueletos de seus tripulantes, que não sobreviveram às perigosas condições de navegação impostas pela Corrente de Benguela”, conta o piloto Alexandre Viana. E quase os brasileiros se juntaram aos mórbidos companheiros…
A curiosidade levou o trio à região de Sandwich Harbour, a caminho da Costa dos Esqueletos. Todos sabiam que era preciso prestar atenção nas horas por causa da maré. Apesar de cautelosos, os aventureiros não conseguiram voltar em tempo. A faixa de areia que servia de estrada havia desaparecido. De um lado havia as dunas. De outro o mar, prestes a engolir o jipe.
“O único jeito era tentar subir pelas dunas. A gente engatou a marcha a ré, mas a areia estava molhada, não conseguiamos sair do lugar. As ondas batiam na lateral do carro, violentas. Ninguém falava”, descreve Viana. “Eu, que sempre dei prioridade aos equipamentos e à filmagem, não tive idéia nem de pegar o telefone”, explica. A equipe possuía um equipamento de comunicação por satélite.
Recepção de presidente
Tudo terminou bem, mas foi preciso andar um quilômetro dentro da água, em diagonal, correndo o risco de tombar o veiculo. “Foi um alívio grande quando chegamos lá em cima, sabíamos que era um privilégio estar vivos. Ao fundo víamos o encontro do deserto com o Atlântico Sul. Uma imagem bela, mas desoladora para nós.” Para compensar, os brasileiros tiveram um recepção à altura na capital, tendo sido cumprimentados pelo Presidente da Namíbia, Sam Nujoma. O último visitante do nosso país a ser recebido lá havia sido o ex-presidente João Baptista Figueiredo.
O próximo passo foi chegar ao Delta do rio Okavango, curiosamente uma região úmida na extremidade norte do Kalahari. “Neste lugar imensos pântanos se misturavam às trilhas. O jipe mergulhava em profundos charcos com a água na altura do pára-brisa, cobrindo o capô”, lembra Viana.
Por fim a expedicao voltou ao deserto do Kalahari para os últimos 5 mil km dentro da África. “Ali os dias são silenciosos e as noites, sonoras. Na escuridão, a vida na selva desperta em busca da caça. Tivemos contato direto com tudo isso. Foi inesquecível”, diz o piloto.
Passando por Botswana, a equipe teve de deixar o jipe Defender para viajar num veículo preparado pelo governo local, que proíbe a entrada de carros estrangeiros. “E ainda tivemos de assinar um termo isentando o governo da responsabilidade de nos resgatar, caso alguma coisa acontecesse. Fora que durante todo o tempo no país não encontramos um posto de gasolina, só trilhas radicais.”
Sem resgate
Exceto em Botswana, aprendemos que o sul da África é bastante civilizado, há algumas regiões ricas, como a Namibia, que vive das minas de diamante. Mas nada disso tirou o espirito selvagem do local, que tivemos o privilégio de conferir bem de perto”, finaliza Viana.
Os brasileiros voltaram para casa no último dia 3 de fevereiro. Nos próximos dias, Viana e João Carlos Nogueira, junto com outros dois pilotos, vão encerrar a segunda expedição deste ano, a travessia da fronteira Brasil – Venezuela. Os planos para o futuro incluem ainda participar do Paris Dakar e conhecer os vulcoes australianos. Sempre num inseparável jipe.
A expedição Norsul 99 teve o apoio da Companhia de Navegação Norsul, Land Rio (autorizada Land Rover), Wöllner Outdoor, que cedeu roupas criadas especialmente para o deserto, Nera – sistema de telefonia Mundial, Pirelli, Koni, Auto4 e Paramedic/Rio Resgate.
Este texto foi escrito por: Luciana de Oliveira