Mais fora da estrada, impossível. Caminhos de areia onde passavam leões e elefantes. Acampamento sobre ninho de escorpiões. Esse foi para a aventura de brasileiros no sul da África. Em dois capítulos, A Webventure resgata momentos da expedição Norsul, concluída em fevereiro passado.
Esta aventura começa em meados de 1998, quando o piloto de testes Alexandre Viana foi convidado por uma organização americana a rodar a África num jipe. Há 15 anos viajando pela América do Sul, em expedições que incluíram o deserto de Atacama (Chile), a Rota da Cocaína (Bolívia), Viana quase desistia viagem dos sonhos às vésperas da partida. A empresa dos EUA desistiu de patrocinar a empreitada. Mas o piloto e seus dois companheiros, João Carlos Nogueira e Leonardo Edde resolveram ir de qualquer jeito. E assim o que era a exploração de todo o continente africano virou a expedição Norsul África 99 um giro pelo extremo do território mais selvagem do mundo.
As emoções porém, não foram menores. De cara, o trio teve de passar 12 dias num navio cargueiro chamado Norsul-Ipanema, tripulado por marinheiros finlandeses. Nada de glamour: Enjoamos o tempo todo. A comida, então, evitamos ao máximo. Eram umas coisas picantes, muita fritura. Até o ovo cozido era frito depois, conta Viana. Também era difícil acostumar com o fuso horário. Eles adiantavam o relógio a cada meia hora. No começo o almoço era às 11h30, do horário brasileiro, e o jantar às 17h30. Dias depois, já estavam servindo o jantar às 11h30… Mesmo assim insistimos no nosso horário.
Chovia muito e, para passar o tempo, os brasileiros procuravam o carro, um Land Rover Defender 110, entre os 2.600 contâiners do navio. Achamos, lembra Viana. A compensação das horas de tédio e mal estar veio nos últimos dias de viagem, quando o tempo abriu e surgiu a primeira visão da terra prometida: Vimos a Cidade do Cabo e depois o farol da Boa Esperança. Foi como voltar no tempo, emociona-se Viana.
As dunas do Kalahari
Enfim, África. Debaixo de um calor de 40º, o grupo deu início à aventura off road invadindo as dunas vermelhas do sul do deserto Kalahari. O destino era o Unions End, a fronteira de três países: África do Sul, Namíbia e Botswana. A recepção amistosa – foi feita pelos bosquímanos, habitantes nativos do deserto. Esta foi a grande descoberta da nossa viagem. O contato com povos tão distante. Gente é igual em qualquer lugar, conta Viana. Para se comunicar com as tribos primitivas, valia tudo. Fazíamos mímica, escrevíamos no chão. E eles com a maior boa vontade de nos entender. Havia pelo menos uma língua universal: o futebol. Era incrível. A primeira pergunta que nos faziam era: o que aconteceu com o Ronaldo na Copa da França?, revela o piloto.
Mas onde estaria o clima selvagem? O primeiro susto foi com o primeiro leão, conta o brasileiro. A gente estava de bobeira e, quando olhou, tinha um bem perto. Deu o maior pavor, mas o leão não deu a menor bola pra gente. A fauna africana reservou outros momentos inesquecíveis para os aventureiros. Principalmente os insetos, já 50% de todos os que existem no mundo moram naquele continente. No último acampamento, paramos cedo para comemorar. Fizemos um jantar caprichado, dançamos com música baiana… aquela festa. Depois de tudo acabado, fui lavar a louça, no escuro, claro (se você acende uma lanterna à noite, some no meio de tantos mosquitos que aparecem). E o chão começou a se mexer, descreve Viana. Quando vimos, tínhamos montado a barraca sobre um ninho de escorpiões.
Elefante infrator
Não dava para sair correndo. Relaxamos e dormimos ali mesmo. No dia seguinte, não havia sinais dos bichinhos, lembra. Fora isso, a jipe foi assaltado por macacos e teve o carburador transformado em casa de borboletas. E teve ainda uma briga de trânsito com um elefante. Isso quase teve um fim dramático porque o animal ficou nervoso e, ao avançar sobre o carro, derrubou algumas árvores e arbustos, arremessadas em direção ao veículo. No fim, ninguém se machucou.
Do Kalahari, a expedição seguiu para as dunas de Namib. Tendo como fronteira exterior as águas geladas da Corrente de Benguela, no Atlântico Sul, e no interior um maciço de chapadas escarpadas, o Namib é um dos desertos mais secos do mundo e um dos mais antigos (cerca de 80 milhões de anos). As dunas chegam a 300m de altura e representaram um dos maiores desafios da expedição. Por causa da acentuada inclinação, os aventureiros tiveram de contornar as dunas pela areia fofa das bases. Para isso o GPS foi mais do que fundamental, já que no deserto não há pontos de referência, diz Viana. A Namíbia ainda estava preparando para os brasileiros o maior susto de toda a viagem.
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Este texto foi escrito por: Luciana Oliveira
Last modified: agosto 6, 1999