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Femerj completa sete anos hoje; presidente escreve com exclusividade para o <i><b>Webventure</b></i>

Nesta quarta-feira a Femerj (Federação de Montanhismo do Estado do Rio de Janiro) completa sete anos de existência. Fruto da primeira federação de montanhismo do Brasil, a Femerj fez história e abriu caminho para diversas outras instituições no país. No texto abaixo, o atual presidente da instituição, Bernardo Collares Arantes, escreve sobre a comemoração, além de organização do montanhismo brasileiro e a importância do trabalho “invisível” das Federações.

As tentativas de organização do montanhismo no Brasil não são um fenômeno tão recente. Além de ter o primeiro clube de montanhismo da América Latina, houve durante a história – principalmente a partir da década de 40 – a fundação e extinção de dezenas de clubes em diversos lugares do país. Eles atuavam em pontos específicos quando necessário, como na campanha para compra das terras da antiga Fazenda Garrafão, que abrangia o Vale do Rio Soberbo, o que possibilitou a criação do Parque Nacional da Serra dos Órgãos (RJ). Algumas reuniões entre estes clubes ocorriam isoladamente, como o I Encontro Nacional de Clubes Excursionistas, organizado por um clube de Alegre (ES), próximo à Serra do Caparaó, há mais de 40 anos.

A primeira instituição oficial de representação do montanhismo foi a União Brasileira de Excursionismo (UBE), fundada em 1944 pelo governo federal e dirigida por montanhistas do Rio. Depois disso, os clubes do Rio viriam a criar em 1968 a Federação Carioca de Montanhismo (FCM), que logo se tornou estadual (FMERJ). A FMERJ foi de fato a primeira federação do Brasil, e unificou a avaliação e diplomação de guias de montanha no Estado do Rio (as escolas de guias dos clubes vinham formando e avaliando seus guias individualmente desde o fim da década de 30), além de descrever o sistema de graduação de escaladas brasileiro. Sua extinção ocorreu no início da década de 80.

Somente no meio dos anos 90 os clubes voltaram a se reunir em1996 foi criada a Interclubes, um fórum informal que se reunia mensalmente para tentar resolver problemas comuns a todos os montanhistas, num momento em que o direito autoral estava sendo questionado e assim corríamos o risco de termos o caos, onde cada um poderia fazer o que quisesse na vias alheias tinha gente colando e cavando agarras artificiais na rocha. Além de se propor a restabelecer a ética, a interclubes apresentava uma novidade: pela primeira vez as escolas de escalada se faziam representar. Esta união entre profissionais e amadores, congregando escolas, clubes e montanhistas independentes frutificou em 2000, quando se decidiu registrar oficialmente uma federação, a FEMERJ.

Agora, sete anos depois a gente entende melhor muitas coisas e percebe a importância do surgimento das federações e da CBME Confederação Brasileira de Montanhismo e Escalada, pois além de ordenar as questões internas do montanhismo, o que no momento esta relativamente bem tranqüilo e a ética é bem aceita, estamos passando por outro momento único no montanhismo brasileiro, que são as tentativas dos mais diversos personagens externos tentando regulamentar a nossa atividade.

Diante disso poderíamos listar aqui uma série de trabalhos, reuniões e etc que viraram realizações, mas existe um trabalho que não aparece, um trabalho invisível onde as federações se antecipam a esses agentes externos e consegue fazer com que coisas totalmente descabidas não ocorram.

São situações em que felizmente estamos presentes e podemos assim impedir que certas regras tornem impossível a pratica do montanhismo. Vou listar algumas em que a FEMERJ participou.

  • “Para que tantas vias? Que tal deixar uma de cada grau em cada parque?”
  • Ou então…… “Que tal 10 vias em cada parque, não entendo porque vocês querem mais”
  • “Ahh… entendi, então são os grampos que dão segurança para vocês. Assim será necessário nos parques vocês fornecerem um cronograma informando quando será trocado cada grampo, de cada via, e também um laudo técnico para cada grampo”
  • “Para a pratica da escalada no parque tal será obrigatório os seguintes itens: Prendedor de cabelos, corda extra para caso de emergência, ter sempre uma pessoa na base, etc…”
  • “Por mim em parques não haveria visitação”
  • “Escalar é perigoso, temos que fechar ou então somente com guia obrigatório”
  • “Se poucas pessoas vão, então é melhor fechar”
  • “Precisamos fazer melhorias nas rotas de escalada”
  • “Esta ruim, então fecha”
  • “Quando for conquistar no parque informar quantos grampos irá usar na conquista” … Etc..etc..etc…

    Também é muito comum acreditarem em qualquer coisa que digam. Assim, alguém fala que determinada área esta bem ruim. E quando perguntamos se alguém foi lá olhar, a resposta é não. E em 100% dos casos não havia problemas na citada área de escalada, ou quase nenhum.

    Mas felizmente estamos sendo consultados nessas questões e, aqui no RJ, a FEMERJ já virou referência, e quando o assunto é montanhismo os órgãos públicos têm buscado a nossa federação.

    Para chegarmos a isso foi necessário muito trabalho e já alcançamos esse ponto desejado. Temos agora mais trabalho, pois somos obrigados a comparecer em muitas reuniões semanais.

    Assim o momento é de garantirmos a existência do montanhismo tradicional, livre de interferências externas, com liberdade e diversidade de estilos.

    Isso mostra a importância da nossa auto-regulamentação, pois ela é nosso cartão de visitas. É com nossa auto-regulamentação que estamos mostrando aos Órgãos Públicos nossa capacidade de organização e auto gestão. Com a fundação do Centro Excursionista Brasileiro em 1912, temos quase um século de montanhismo tradicional organizado.

    Seria interessante os montanhistas reconhecerem ainda mais a importância das nossas instituições e darem uma ajuda, que pode ser a mais simples para cada um e que seria de grande importância para o montanhismo nacional…. filiem-se a uma associação de montanhismo, mesmo que seja “somente” pagando as mensalidades. Para continuarmos nessa importante luta precisamos de massa crítica, e hoje (infelizmente) a maioria no Brasil não é filiada.

    Na nossa atividade temos várias correntes de pensamento, e temos todo o tipo de “certezas”. Com esses movimentos as pessoas vão percebendo que o trabalho coletivo é mais eficaz do que o individual, e que, muitas vezes, é necessário fazermos concessões, cedermos um pouco aqui e ali, para, desta forma, todos caminharem juntos. O exercício da democracia não é tão fácil, mas é gratificante e certamente produzirá, para as gerações atuais e futuras de montanhistas, frutos da melhor qualidade.

    Veja mais em www.femerj.org

    Este texto foi escrito por: Bernardo Collares Arantes