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Femesp completa nove anos com metas atingidas principalmente nos bastidores da escalada


Silvério acredita que é necessário criar mais campeonatos em São Paulo (foto: Luciana de Oliveira / Webventure)

São nove anos atuando em busca de um montanhismo melhor em São Paulo. No último dia 7 de março, a Federação de Montanhismo do Estado de São Paulo (Femesp) completou seu nono aniversário feliz por um motivo relativamente simples: conseguir manter-se por quase uma década aberta. Isso porque, segundo Silvério Nery, presidente da Federação, os trabalhos realizados até agora estão mais ligados aos bastidores do esporte, o que prejudica na divulgação e reconhecimento.

“Nós conseguimos nos manter funcionando, o que já é uma coisa boa. Não é tão fácil assim manter a Federação funcionando. São poucas as pessoas que valorizam o trabalho, porque ele é um trabalho de bastidor. A maioria das coisas que aconteceram está relacionada com evitar algum problema. Nós evitamos que algumas legislações prejudiciais ao montanhismo fossem aprovadas ou encaminhadas às câmaras estadual e federal. Conseguimos também manter abertas algumas áreas de escaladas que sofriam com ameaças”, contou o presidente.

Apesar de uma jornada difícil, a Femesp conseguiu alcançar algumas importantes conquistas ao longo de sua caminhada no estado paulista. De acordo com Silvério, a principal meta atingida com sucesso pela Federação foi a fundação do Monumento Pedra do Baú, que agora é uma Unidade de Conservação (UC).

“A Pedra do Baú era um dos nossos desejos, de manter o local funcionando, já que era uma área particular e havia um risco de restrição. Como UC, fica um pouco mais garantido que o uso é público. E nisto nós temos uma participação efetiva já que, um ano antes de virar UC, nós fizemos um seminário em São Bento do Sapucaí, onde foi criado um grande acordo na comunidade de escalada para colocar uma regra no entorno da Pedra e isso veio muito a calhar quando foi criado o monumento”, explicou.

Situação atual – Antes de pensar no futuro da a Federação de Montanhismo do Estado, Silvério disse que é necessário analisar o presente da escalada paulista. De acordo com o presidente, o montanhismo de São Paulo vive um momento difícil, mas alguns bons frutos já estão sendo colhidos.

“Nós conseguimos fazer muitas coisas na área esportiva, mas agora está um pouco devagar. Nós fizemos vários campeonatos entre 2002 e 2009, mas houve uma retração em 2010. Mesmo assim, eu acho que as provas que fizemos, como os três Opens de Boulder, acabaram firmando um modelo de campeonato bem interessante, que está sendo copiado, num bom sentido, em outros estados, como Paraná e Rio de Janeiro”, disse Nery.

Já são nove anos, mas ainda muitos por vir. Com sucessos ou fracassos, a única certeza da Femesp é que o foco da instituição será sempre o mesmo: trabalhar a base do montanhismo paulista pensando num melhor desenvolvimento do esporte no estado e assim criar uma boa estrutura para a formação do montanhista e de seu aprendizado.

“Nós estabelecemos alguns currículos mínimos para os clubes de São Paulo e estes currículos vêm sendo, a longo prazo, aplicados em turmas, e isso acaba formando um padrão de referência que vai se estabelecendo como o mínimo de conhecimento que um montanhista precisa ter. Aqui em São Paulo, nós estamos trabalhando na base e, em nível brasileiro, estamos trabalhando no topo da pirâmide, que são as funções de guia de montanha. Então, falta esse miolo, que nós trabalharemos no futuro para fechar esse cenário. Mas esse é um trabalho permanente”, disse Silvério.

Para tanto, a organização espera criar mais campeonatos ao longo do ano de maneiras inovadoras, além de tentar receber competições internacionais, como o Sul-Americano e Pan-Americano, e, mais importante ainda, continuar batalhando para a manutenção de locais com grande potencial de escalada.

“Nós queremos voltar a ter possibilidade de escalar na Guaraiuva (Bragança Paulista SP), que é um ponto de escalada sempre muito frequentado pelos paulistas. Também, pensamos em manter outros lugares abertos. Temos um trabalho em conjunto com a Federação do Rio de Janeiro em Itatiaia (RJ) e provavelmente este ano nós abriremos algumas trilhas do Parque”, afirmou o presidente.

Dificuldade e solução – Com muitos projetos em mente, Silvério contou que a grande dificuldade em relação à realização da grande maioria é a divergência entre as gerações do montanhismo. Segundo Nery, os pensamentos diferentes acabam tornando a renovação do trabalho bastante complicada.

“Eu acho que nós temos um problema de choque de gerações. Uma geração mais velha que vem trabalhando com a escalada há mais tempo tem uma escala de valores um pouco diferente dos meninos que estão começando a aparecer. Todas as pessoas que trabalham na diretoria e os atletas mais antigos, como o Belezinha e a Janine, sabem que nós fizemos a Femesp, os campeonatos e a CBME do nada. E os novos acham que os cartolas do montanhismo são safados e querem pegar dinheiro dos outros. E isso não é assim. Cada campeonato é uma dificuldade para ser realizado por causa da falta de dinheiro”, explicou.

Silvério ainda acha que é necessário uma alteração na condução da Federação. “Precisamos de uma renovação. É preciso renovar a própria direção e os cartolas na área esportiva. Colocar gente nova na organização dos campeonatos. Atletas têm. Se nós fizermos eventos, vários irão aparecer, principalmente os mais jovens. O que acontece é que o montanhismo vive de momentos e precisamos fazer com que os momentos voltem a surgir”, finalizou.

Este texto foi escrito por: Caio Martins