Foto: Pixabay

Fernanda, única mulher por trás das câmeras

Arquivo/ Páraquedismo

Campinas (SP) – “Atualmente sou a única mulher que filma saltos de competição no pára-quedismo brasileiro”. Com esta apresentação, Fernanda Kalassa já impressiona. Mas só o fato de ser uma representante feminina num esporte predominantemente masculino já é motivo de comemoração. Na primeira etapa do Circuito Ford Ranger apenas cinco mulheres apareciam na lista de inscrições contra 58 homens. “Não sei o motivo, mas esta é uma realidade do pára-quedismo como um todo, mesmo no lazer. Mas este número já mostra um crescimento, aos poucos as mulheres estão conquistando seu espaço”, avalia Fernanda.

A paixão pelo esporte é tão grande que ela se casou no céu… No ano passado, uniu-se a Paulinho Kalassa, também pára-quedista, numa cerimônia realizada nos céus de Campinas e mostrada para todo o Brasil, via televisão. Pudera. Antes do amor pelo marido e pelo pára-quedismo, a paixão pelo vento trouxe Fernanda a esta realidade. “É verdade, eu gosto muito do vento, de viajar com o braço pra fora do carro só pra sentir ele batendo”, descreve. Uma amiga a convidou para experimentar um salto. E ela nunca mais parou.

Cadê o meu lugar? – A opção pelo papel de cameraflyer, nome que se dá ao atleta que salta com a incumbência de filmar os companheiros de equipe que realizam a performance em queda livre, veio por conveniência. “Eu já filmava saltos duplos e, com o casamento e tudo mais, precisava encontrar um jeito de continuar saltando sem gastar muito dinheiro”, explica. “Além disso, queria continuar acompanhando o Paulinho e só poderíamos estar na mesma equipe, senão não daria certo (risos). Como a única vaga que havia no time era de câmera, lá fui eu.”

Hoje ela e o marido fazem parte da equipe Azul do Vento, formada por instrutores da escola de pára-quedismo campineira. Antes o time se chamava The Presidents. Na primeira etapa, terminaram empatados em segundo lugar com a Sai de Baixo, de outra experiente pára-quedista, Márcia Farkouh. “Fora das provas, somos todos amigos, um aprendendo com o outro. Hoje o pára-quedismo não é só prazer para mim, é onde eu tenho amizades que levo para além da área de salto”, diz Fernanda.

Falando no mundo lá fora, ainda não dá para viver só do esporte. Então, de segunda a sexta, ela é um cientista. E o que colegas de trabalho acham de sua ´vida dupla´? “Todas admiram muito”, garante, com orgulho merecido.


O Webventure realiza esta cobertura com patrocínio de Ford

Vida de cameraflyer não é fácil. “Eu digo que a gente é o goleiro do pára-quedismo. Se você faz tudo certo, não foi mais do que a obrigação. Se cometer um errinho, caem matando”, define Fernanda Kalassa, a única mulher executando esta função atualmente no Brasil.

A cobrança não é exagerada. Afinal, se o trabalho do câmera não for perfeito, de nada adianta uma performance impecável do pára-quedista. Isto porque, nesta modalidade, os juízes – responsáveis por dar a pontuação a cada time – não presenciam os saltos. Eles nunca vêm a apresentação ao vivo. Tudo é registrado em vídeo pelo cameraflyer. Ele salta junto com os companheiros e, através de uma “mira”, focaliza a câmera que está acoplada na parte superior de seu capacete.

Para evitar dúvidas sobre a veracidade das imagens, a cada salto, antes de seus colegas iniciarem as manobras, o câmera aponta no avião o número do salto que sua equipe está dando e, a partir daí, não pode mais desligar o equipamento. Depois que ele chega ao chão, o vídeo deve ser entregue diretamente ao juíz. Se houver problemas de imagem a equipe pode ser penalizada. Caso não seja possível analisar o salto, o time “leva um zero”, que é o “NJ” (não-julgável).

Eles têm até asas – Mas os aparatos de um filmador não se restringem à câmera. “A gente também usa um macacão especial”, explica Fernanda. “Ele tem asas que permitem segurar mais o vento. Assim, eu não corro o risco de cair sobre um dos atletas, por exemplo”. Esta vestimenta chama-se Wing Suit (leia mais) e é uma das últimas inovações do pára-quedismo.

Fernanda compete em um time de Formação em Queda Livre (FQL), o Azul do Vento. Enquanto os companheiros treinam em terra, as figuras que devem formar no céu, ela ganha minutos preciosos para descansar antes de começar a se ´montar´ e seguir outra vez para mais uma decisão.

Este texto foi escrito por: Luciana de Oliveira

Last modified: maio 27, 2001

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