Durante meus muitos anos de atividade física andei praticando, com maior ou menor intensidade e dedicação, judô, natação, karatê, capoeira, atletismo, ai-ki-dô, mergulho em apnéia. Atualmente, sem muita assiduidade, eu faço mergulho autônomo e escalada em rocha. Paralelo a todas estas atividades, há muitos anos venho praticando trekking pelas montanhas perto de casa e, às vezes, nem tão perto assim.
Porém, o que posso considerar como a verdadeira paixão de primeira hora é a corrida. E exatamente agora estou completando trinta anos de amor por esta atividade que nunca me largou e que nunca larguei, independente da empolgação por qualquer nova atividade que eu estivesse fazendo, seja ela escalada ou mergulho, natação em mar aberto ou montanhismo.
Inicialmente, a corrida surgiu para mim de uma maneira curiosa. Completamente arredio e avesso ao futebol como sempre fui, meu horizonte foi bem negro nos primeiros anos estudantis. Naquela época as duas únicas opções de atividade física obrigatória que havia nas escolas eram futebol de campo e futebol de salão.
Cooper – Após alguns anos sendo sumariamente convidado a participar das partidas para ganhar presença nas aulas de educação física e ao mesmo tempo adquirindo uma habilidade estratégica ímpar para conseguir me encontrar sempre em campo onde a bola não estivesse, uma idéia luminosa se apossou de mim ao tomar conhecimento de uma reportagem sobre uma moda que estava tomando conta dos americanos, o Método Cooper.
Empolgado com a possibilidade de me livrar da ditadura do futebol, eu, que nunca havia corrido seriamente, consegui convencer meus professores, antigos jogadores profissionais do esporte bretão, a me deixarem correr ao redor do campo enquanto meus colegas jogavam. Isto, por mais incrível que possa parecer atualmente, foi uma novidade na época. E, curiosamente, algumas aulas depois descobri que o futebol não era tão querido assim por todos como se imaginava. A legião de adeptos à minha corrida aumentava a cada dia em torno das quadras.
De obrigação esta atividade transformou-se em prazer e necessidade. Eu já não conseguia passar bem o dia se não tivesse gasto muitas calorias pelas ruas de Niterói. E aos poucos eu contagiava os amigos. Os primeiros livros escritos aos corredores de rua, como éramos chamados na época, começaram a aparecer. E finalmente foi lançada a primeira maratona no Brasil. O susto da idéia foi bem grande. Correr mais de 42 quilômetros era uma marca assustadora para nossos padrões! Algumas centenas de inscrições, apenas. E muitas desistências durante o percurso.
Mais tarde, o montanhismo – Com o passar dos anos o montanhismo foi ganhando um lugar de destaque na minha vida, claro que sem tirar a primazia da corrida. E, um dia, transportando o Método Dialético de Hegel para o esporte, com a corrida e o trekking assumindo os papéis de tese e antítese, me peguei correndo nas trilhas que antes caminhava, percebendo naquele momento que, na verdade, eu estava fazendo Filosofia e minha nova atividade era a síntese hegeliana.
Como Filosofia foi sempre um dos assuntos que atraiu meu interesse, não parei por aí. Quando dei por mim já estava considerando minha outra paixão, o deserto, como a tese, e a corrida em trilhas agora na posição de antítese, resultando em um todo maior que a soma das partes, a síntese, representada pela Corrida em Desertos, a representação mais fiel de minha verdadeira filosofia de vida.
Este texto foi escrito por: Carlos Sposito