Helena Deyama: torcendo pela alemã (foto: Luciana de Oliveira)
Durante a última coletiva antes do Rally Paris Dakar 2001, o piloto brasileiro Klever Kolberg explicou porque era esperado que a prova deste ano fosse uma das mais difíceis “A organização criou até um slogan que eu acho um pouco machista: ‘Dakar:um rali para homens'”.
Klever parecia estar adivinhando o quanto este slogan se tornaria contraditótio após o final do Dakar 2001. A vitória da alemã Jutta Kleinschmidt no último domingo, depois de 20 etapas, foi o suficiente para mostrar ao mundo que, no off-road, a vitória nem sempre está associada ao masculino.
Calma, técnica, experiência e uma pitada de sorte fizeram com que Jutta deixasse para trás grandes favoritos como o bicampeão Jean-Louis Schlesser, que perdeu o título depois de uma penalização por tentar ultrapassar indevidamente um adversário.
Na torcida – “Desde o ano passado eu estava torcendo para ela. Sei que a Jutta tem experiência, já correu de moto e foi navegadora do próprio Schlesser. Por isso, é uma competidora completa e equilibrada. É ótimo ver uma mulher no topo do pódio”, afirma Helena Deyama. Ao lado da navegadora Kátia Stefani, ela foi a segunda colocada no Sertões 2000 na categoria Carros Marathon.
Como Jutta, Helena também já correu de moto e acha esta experiência importante. “Acho que é fantástico o fato de ela ter vários tipos de experiência. Para se obter um bom resultado, porém, também é preciso ter aquele bichinho da velocidade no sangue. E Jutta tem!”.
Para Moara Sacilioti, a vitória de Jutta também pode ajudar as mulheres que estão no mundo do off-road. “É uma conquista que chama a atenção da mídia, atrai patrocinadores e faz com que todos acreditem mais na forças das mulheres nos ralis”.
“A Jutta é uma alemãzona, muito bem preparada fisicamente e técnicamente. Sem dúvidas, ela mereceu a vitória, apesar dos impervistos do final”, conta Moara, que corre de moto desde os sete anos de idade é atual campeã da Copa Baja e do Brasileiro em sua categoria.
Palavra de homem – O próprio Klever Kolberg fez questão de deixar claro que lugar de mulher também é disputando grandes ralis. “Só ficou surpreso com o resultado da Jutta quem não conhecia o trabalho e a competência dela. Ela esteve sempre com boas colocações, conseguindo se manter entre os quatro primeiros”
Sobre o slogan, Klever brinca. “Antes, eu achava que podia ser um problema de tradução essa coisa de dizer que o Dakar era um rali para homens. Porém, a Jutta deu uma entrevista na Europa e também comentou o tal slogan. Talvez o planeta inteiro não tenha entendido o que eles estavam querendo dizer”. E completa: “com certeza eles teriam sido mais felizes se o slogan tivesse sido ‘Dakar: um rali para competentes'”
Este texto foi escrito por: Débora de Cássia
Last modified: janeiro 25, 2001