São Paulo – Guerras e atentados terroristas preocupam os pilotos da Equipe BR Lubrax que vão participar do Rally Paris-Dakar 2002, a competição off road mais difícil e perigosa do mundo. A prova, com largada no dia 28 de dezembro na cidade de Arras, a 250 quilômetros de Paris, será realizada em países muçulmanos da África, como Marrocos, Mauritânia e Senegal. O rali terminará dia 13 de janeiro do ano que vem. A situação fica ainda mais complicada com o provável ataque dos Estados Unidos contra o Afeganistão, país onde estaria escondido o árabe Osama bin Laden, terrorista acusado de comandar os ataques às torres do World Trade Center, em Nova York, e ao Pentágono, em Washington.
André Azevedo e Klever Kolberg, pilotos da Equipe BR Lubrax, estão preocupados com o que pode acontecer nos próximos dias. Esse clima acaba gerando uma certa apreensão, principalmente em nossas famílias. Todos ficam preocupados e com medo de uma possível guerra, afirmou Kolberg nesta quinta-feira, antes de ministrar uma palestra na Adventure Sports Fair, feira de esportes de aventura que acontece até domingo na Bienal do Ibirapuera, em São Paulo. Ele correrá o Dakar 2002 com um Mitsubishi Pajero Full a diesel.
Mas mesmo com a incerteza de um confronto, André Azevedo e Klever Kolberg estão prontos para participar pela 15a vez consecutiva do Rally Paris-Dakar. Uma guerra nunca é boa, mas já vivemos situações complicadas nas últimas edições do Dakar, conta André, piloto de um caminhão Tatra. Além de André e Klever, a Equipe BR Lubrax contará com dois pilotos de motos: Juca Bala e Luiz Mingione, que usarão uma Honda Falcon Rally de 400 cilindradas e uma Honda Tornado Rally 250, respectivamente.
Os momentos de tensão no Dakar
Em 1989, na segunda participação dos brasileiros na prova, André e Klever abandonaram a competição e seguiram para Trípoli, na Líbia. Ao chegarem na cidade, alguns jornalistas reunidos no hall de entrada de um hotel ficaram surpresos com a presença dos dois pilotos. Um deles me contou que os Estados Unidos estavam prontos para atacar a cidade e que deveríamos sair dali o mais rápido possível, relembrou André.
Ele e Klever Kolberg conseguiram embarcar com as motos em um avião para Roma, numa companhia aérea da Líbia. A aeronave estava praticamente vazia e ali senti um medo diferente, narra Azevedo. Dias depois, os pilotos souberam que os norte-americanos haviam bombardeado uma fábrica de armas químicas do coronel Muamar Kadafi.
Mas as histórias de tensão não param por aí. Dois anos depois, em 1991, no famoso Dia D, o ultimato dos Estados Unidos contra o ditador iraquiano Saddam Hussein, a caravana do Rally Paris-Dakar estava chegando na Mauritânia, país que apoiava o então inimigo número um dos americanos. Ficamos com medo de acontecer um ataque justamente naquele dia, em 16 de janeiro. Afinal, nos disseram que os familiares de Saddam estavam escondidos naquela região e por isso o país corria o risco de ser atacado também, conta André.
Ainda em 1991, uma tragédia abalou os participantes do Rally Paris-Dakar. O piloto de um caminhão de apoio da Citroën, o francês Charles Cabanne, foi morto por um franco-atirador enquanto cruzava o deserto do Saara. Por ironia do destino, o campeão da categoria Carros daquele ano foi justamente o finlandês Ari Vatanen, da equipe Citroën, conta André.
Em 1998, mais um susto. O tcheco Tomas Tomecek, que hoje corre na categoria Caminhões com André Azevedo, foi uma das vítimas do maior assalto registrado durante o Paris-Dakar. No norte do Mali, quase com a divisa da Argélia, bandidos atiraram nos pneus do caminhão e em seguida renderam os ocupantes. Sob a mira de metralhadoras, os competidores perderam praticamente todos os pertences e ficaram literalmente a pé no deserto.
Mas o perigo também pode estar escondido sob a areia escaldante do deserto do Saara. Em janeiro deste ano, o motorista do carro de apoio da piloto de moto Elisabete Jacinto, o português José Eduardo Ribeiro, passou em cima de uma mina e perdeu parte de um dos pés. O acidente aconteceu na divisa do Marrocos com a Mauritânia, região infestada de bombas terrestres. Parece que ele saiu da rota determinada pela organização, conta Klever Kolberg.
A Equipe BR Lubrax tem patrocínio da Petrobras, BR Distribuidora, Mitsubishi Motors do Brasil, Pirelli, e Eletronet, e apoio das Concessionárias Honda, VAZ Sprockets Chains, Carwin Acessórios, Controlsat Monitoramento Via Satélite, Iveco, Minoica Global Logistics, Mitsubishi Brabus, Planac Informática, Nera Telecomunicações, Telenor, Dakar Promoções, Kaerre, Capacetes Bieffe, Lico Motorsports, Vista Criações Gráficas e Webventure.
Este texto foi escrito por: Ricardo Ribeiro
Last modified: fevereiro 22, 2017