Considerado o melhor em escalada do Brasil, o carioca Helmut Becker acaba de conquistar mais um feito: encadenou a Poltergeist, na Serra do Cipó, uma das vias mais difíceis do Brasil, provavelmente um 10c. “Foi um dos meus melhores momentos”, admite Becker, que escalou há um ano o Coquetel de Energia, a via mais difícil da América do Sul. Mesmo assim, ele ainda luta contra a falta de patrocínio. “Apesar do nível técnico, sou um semi-profissional, me sustento como personal trainner de escalada”, conta em entrevista exclusiva à Webventure.
Webventure – Você abriu a Poltergeist em 95, com o André Berezoski. Por que demorou tanto para encadeá-la?
Helmut Becker – Às vezes a gente enxerga a possibilidade muito antes do corpo. Agora mesmo estou com um projeto de uma via que está começando a ser aberta ao lado do Coquetel de Energia, que eu nem equipei ainda. É um 11 b – nem existe 11a no Brasil, mas acredito que esta seja uma 11b. Estou estudando e só daqui uns dois anos terei condição de tentar encadear. Em 95, tinha feito muito poucas escaladas de 9º, não tinha físico para encarar a Poltergeist. Neste ano, fui limpá-la para ver se tinha condições de fazer os movimentos. E vi que era possível, que tinha maturidade atlética.
Webventure – Qual a mais difícil, afinal: a Poltergeist ou o Coquetel e Energia?
Becker – É relativo… A proposta de graduação foi a mesma. Mas eu levei um ano e meio e fiz 25 tentativas para conseguir o Coquetel, contra dois meses e uma única tentativa para encadear a Poltergeist.
Webventure – Por que você não foi ao Pan?
Becker – Não tinha dinheiro.
Webventure – Você continua sem patrocínio?
Becker – Nunca ganhei salário para escalar, tenho empresas que me fornecem material (DMM, Saltic, Sterling Rope). De uns anos pra cá eu venho correndo atrás de patrocínio, mas as empresas acham o máximo o meu portfolio, só que não sai disso. Acho que não têm coragem.
Webventure – Não seria culpa também de quem pratica, pela acomodação?
Becker – Claro, quando comecei a buscar apoio vi que muitos feras se sujeitavam a cada coisa… Hoje isto está mudando, as pessoas selecionam os campeonatos, querem saber quem é o route-setter. Escalo há 7 anos e meio e, de uns quatro anos pra cá, mudou muita coisa. Antes eu nem imaginava que alguém no Brasil conseguiria um 5.14.
Webventure – A falta de dinheiro impede você de planejar para o ano que vem? De que competições você não abre mão?
Becker – Não sei como vai ser em 2.000, mas por causa das duas pós-graduações que eu estou fazendo digo que será impossível passar um tempo no exterior. Só se for participar de um campeonato e voltar logo. Mas o que vai definir se eu vou fazer alguma competição internacional será meu desempenho no campeonato da Casa de Pedra, agora em dezembro, que será a a primeira e única etapa do ranking Brasileiro. Tenho que estar inteirinho.
Este texto foi escrito por: Luciana de Oliveira