Entrada para a cabine dos pilotos do Hércules. (foto: Luciana de Oliveira)
Taubaté (SP) – Se São Pedro colaborar, os mais de cem atletas que estão reunidos em Taubaté na expectativa de bater o recorde mundial, vão começar esta missão entrando pelas rampas de dois superaviões, os Hércules. Não é à toa que eles têm este nome: com suas 40 toneladas (sem tripulação), suportam até outras 50, e têm autonomia para voar por 10 horas sem parar.
Fabricadas nos EUA, essas aeronaves pertencem à Força Aérea Brasileira e têm como base o aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro. Tanto podem ter participação fundamental em eventos esportivos, a exemplo deste, como para missões humanitárias pelo Brasil e pelo mundo.
Para esta ocasião, os dois aviões foram especialmente preparados. Cada um deve transportar 87 pára-quedistas. Como o salto do 109-way (número para se atingir o recorde, com a formação de figura em queda livre) será a 20 mil pés (cerca de 7 mil metros), a Força Aérea Brasileira exige que todos usem máscaras de oxigênio quando o avião estiver no período de despressurização.
Adaptações – “Num vôo normal, a aeronave está sempre pressurizada. Já neste caso, a partir de 10 mil pés, teremos de abrir a rampa na traseira do avião para lançar os pára-quedistas. Esta ação causa a despressurização no compartimento”, explica um dos pilotos dos Hércules, o capitão Mendes Ribeiro.
Cada avião tem 87 máscaras disponíveis, que foram adaptadas ao longo do compartimento de carga, onde os atletas serão transportados sentados no chão e amarrados por uma fita de segurança. As cadeiras, normalmente usadas quando há passageiros, foram abolidas para dar agilidade à saída dos atletas.
O oxigênio em estado puro virá de dois grandes cilindros situados entre a cabine e o compartimento dos pára-quedistas e é controlado por um membro da tripulação. Hoje, médicos da Força Especial do Exército testaram o sistema.
Cronometragem – Da decolagem ao lançamento dos pára-quedistas, a ação deve levar cerca de 25 minutos. “Temos que ganhar altitude, iniciar a despressurização, entrar na rota do salto e lançá-los no momento correto”, enumera Ribeiro.
Antes de chegar aos 20 mil pés, haverá outras decolagens em altitudes menores. Os Hércules também foram usados no recorde de lançamento de pára-quedistas, com o velame aberto (modalidade diferente da que está sendo praticada neste evento), batido no Rio, em 2000.
Para se tornar um piloto de Hércules é preciso mais de mil horas de vôo. “Por isso, quando a gente chega a pilotar um avião desses nem dá aquele frio na barriga, de tão experiente que se está”, conta Ribeiro, que conduz este tipo de aeronave há seis anos.
Uma das vantagens, é ocupar a cabine considerada como uma das maiores do mundo em aviões. Neste espaço, cujo acesso se dá por uma escada, viajam, além do piloto, o co-piloto e dois auxiliares. Há centenas de controles, quatro bancos e até uma cama. “Como o avião pode voar até 10 horas, a gente tem que dar uma paradinha para descansar”, conta o capitão. Eles respiram por um sistema independente de oxigênio, acionado automaticamente.
Mapa mundi – Quem tem o privilégio de fazer parte do esquadrão do Hércules certamente vai conhecer o mundo. Apesar de ser um avião do exército brasileiro, ele viaja por todo o globo em missões que podem ser desde acompanhar o Presidente da República a levar voluntários e carga para a Antártica. Já demos a volta ao mundo com ele quando acompanhamos Fernando Henrique Cardoso ao Timor Leste, lembra Ribeiro.
O desafio no caso é conciliar as mudanças de fuso-horário com a grande autonomia do avião. Você está num país e depois de voar por 10 horas pode chegar a outro com muito horas muito à frente ou `atrasadas`, destaca.
A tática do capitão é vivenciar o fuso do próximo destino desde a partida. É tratamento de choque. Se vou para um lugar que está 10 horas à frente, por exemplo, eu só vou dormir quando lá naquele local for noite; só vou almoçar quando lá for meio-dia, ensina. No início é bem difícil, mas assim é mais fácil acostumar-se.
Este texto foi escrito por: Luciana de Oliveira