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História e recordes no mergulho livre


Guillaume o jovem recordita e equipe (foto: Apneamania.com)

Mergulho Livre ou mergulho em apnéia significa praticar o mergulho sem a utilização de reserva extra de ar. O mergulhador tem somente o ar dos pulmões para descobrir as belezas, se aventurar no azul e
superar limites, em total harmonia com o meio ambiente.

Apnéia por si só significa a suspensão da troca de ar entre o pulmão e o ambiente. O atleta suspende a respiração, mas o processo de consumo do oxigênio é contínuo. O mergulhador precisa aproveitar o curto espaço de tempo para sua performance, que poderá ser realizada dentre as seguintes modalidades:

  • Disciplinas Indoor (piscina):
    Apnéia Estática:
    Maior tempo possível sem respirar, submerso.
    Apnéia Dinâmica com ou sem Nadadeiras: Maior percurso horizontal submerso.
  • Disciplinas Outdoor (mar):
    Lastro Constante com e sem Nadadeiras
    : maior profundidade usando a propulsão dos braços e/ou pernas, utilizando um lastro (que não pode sofrer alteração).
    Imersão Livre: maior profundidade usando a propulsão dos braços e com auxílio de um cabo guia, sem nadadeiras.
    Lastro Variável: maior profundidade usando lastro ligado ao cabo-guia para a descida, na subida o lastro é abandonado e o atleta deve retornar à superfície com esforço próprio à seu critério.
    No Limits: maior profundidade usando lastro liberado e retornando com auxilio de um balão ou qualquer outro meio mecânico a critério do atleta.

    O mergulho livre, ou em apnéia, é a técnica mais antiga de mergulho e surgiu da necessidade de sobrevivência do homem, buscando por formas de se alimentar que vinham do mar e de comercializar seus vários tesouros. Como as famosas Amas – caçadoras de pérolas do Japão e da Coréia, há mais de 4.500 AC.

    No início do século XX, tivemos o registro do primeiro recordista de mergulho livre da história, Yorgo Haggi Statti, 1911, descendo a 77 metros de profundidade, no que denominaríamos hoje de Lastro Variável.

    A assiduidade nas tentativas de recordes somente tiveram início mais tarde com um ítalo-húngaro capitão da força aérea italiana, Raimondo Bucher, que alcançou 30 metros em apnéia no Lastro Constante. O 1951 foi marcado pelo surgimento de Enio Falco e Alberto Novelli que concorreram com Bucher até os 35 metros.

    Somente à partir de 1960 as profundezas realmente começaram a ser desbravadas. Surgiram no cenário do mergulho livre: Enzo Majorca (Itália), Américo Santarelli (Brasil), Jacques Mayol(francês), Tetake Williams (Polinésia), Robert Croft(Americano).

    Rumo ao abismo seguiram os atletas e nesta época se iniciaram maiores estudos sobre o esporte, juntamente com o duelo Mayol x Majorca que tomou conta do mundo do mergulho livre.

    Jacques Mayol foi o primeiro homem a alcançar os 100 metros de profundidade em 1976, na disciplina que hoje seria classificada como No Limits.

    A partir de 1980 iniciou-se uma nova safra de mergulhadores com outra acirrada disputa entre o cubano Pipin e o italiano Umberto Pellizzari. Levou a melhor o italiano com a marca de 150 metros.

    No cenário feminino, o destaque era a cubana Debora Andollo. Vinda do nada sincronizado, a atleta demonstrava perfeita harmonia na água, tanto no lastro constante como nas demais disciplinas de profundidade. Quebrou vários recordes mundiais.

    Em 1993, foi fundada a Associação Internacional para o Desenvolvimento da Apnéia www.aidabrasil.com.br, visando regulamentar o esporte e, principalmente, difundir regras de segurança para permitir a sua prática, organizando competições em todo o mundo. A partir de 1996, o primeiro mundial foi realizado, onde atletas europeus foram destaque: Umberto Pellizari, Claude Chapuis, Yasmin Dalkilic, Mathilde Fouchard, Yoram Zekri.

    As marcas de Karol Meyer – Pelo Brasil, consegui titulo de campeã geral individual no Egito, em 1999. Neste mesmo evento – Red Sea Dive Off – realizei o meu segundo recorde mundial e também me tornei a primeira recordista mundial, entre todas as categorias, a bater um recorde mundial durante uma competição. (todos os recordes anteriores haviam sido realizados por meio de tentativas isoladas, fato que deu à marca um registro especial na história).

    Em 2001, Brasil e França se uniram para mais um recorde mundial: Karol Meyer e Audrey Mestre realizam -91m no No Limits Tandem. O Último recorde da atleta Audrey Mestre que faleceu no ano posterior buscando o recorde absoluto no No Limits de -170m. Audrey chegou a realizar por 3 vezes a marca em treinos.

    No masculino, Loic Leferme da França descia absoluto ao abismo na categoria No Limits, enquanto no variável o italiano Gianluca Genoni era a estrela juntamente com o belga Patrick Musimu.

    Nos recordes em profundidade também surgiram e despontaram: o tcheco Martin Stepaneck, o venezuelano Carlos Coste, a canadense Mandy Cruisckank, a havaiana Annabel Briseno, a sueca Ericson Lotta, a italiana Linda Paganelli e a russa Natalia Molchanova. A americana Tanya Streeter se tornou a melhor profundista do mundo, batendo inclusive os homens numa descida à -166m no No Limits.

    Outro marco no mundo do mergulho livre foi em 06/04/2004, recorde do venezuelano Carlos Coste que ultrapassou a barreira dos 100 metros com a façanha realizada de -102m e -105m logo na sequência,
    na disciplina lastro constante com nadadeiras.

    Oficialmente, pela Aida, o austríaco Herbert Nitsch e Natalia Molchanova (Rússia) são os atletas que dominam o maior número de recordes em disciplinas de piscina e mar, destacando-se também o francês Guillaume Nèry, o mais jovem recordista mundial que o mergulho livre já teve. Com 18 anos ele vem arrebatando marcas surpreendentes no lastro constante.

    A disputa atual pela profundidade no lastro constante está hoje entre França e Áustria. Cada atleta avança metro a metro, Guillaume em 2006 realizou -109m e Nitsch recentemente trouxe a placa do fundo com -111m!

    Mas quem é realmente o homem mais profundo do mundo? Sem dúvida é o belga Patrick Musimu (www.patrickmusimu.com), que atingiu 209,6 metros de profundidade, no Egito, em julho de 2005. E surpreendeu o mundo!

    Brasil – O Brasil possui sua marca registrada na história do “Big Blue”: no masculino, pioneiro no mergulho livre e na pescasub, Américo Santarelli (1960) foi o orgulho da nação, trazendo dois recordes mundiais e inspiração para muitos brasileiros.

    No feminino, trouxe para o país quatro recordes mundiais. Até hoje, sou a única atleta no mundo que conseguiu realizar três recordes mundiais na modalidade apnéia estática, e me mantenho como atleta AIDA Top Ten há mais de 8 anos. Confira mais sobre os recordes no mundo do mergulho livre no (www.apneamania.com.br).

    Este texto foi escrito por: Karol Meyer, especial para o Webventure