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Histórias de montanha

Helena Artmann escreve nesta coluna duas histórias sobre escaladas

O primeiro email que recebi veio de um amigo, pedindo para eu contar histórias da região. Histórias de montanha, na verdade. Alguns dos melhores escaladores do Brasil moram por aqui. Por causa do Dedo de Deus, a cidade é considerada o berço do alpinismo no país. Histórias, com certeza, não faltam…

Pois duas, que aconteceram recentemente, me mpressionaram/fascinaram. Uma delas aconteceu na região dos Três Picos, com dois sócios do Centro Excursionista Brasileiro: uma mulher de 83 anos e um homem de mais de 70. Eles estavam indo pela terceira vez na montanha uma conquista, sem escalada, mas com trilhas íngremes e pouco confiáveis. Facão e muita paciência. Pedras rolando a cada passo.

Nesta terceira investida, a mulher, Alda Pacheco, se cansou e resolveu parar, deixando que Minchetti, excursionista da velha guarda, seguisse o seu caminho até o cume. O combinado era que ela esperaria a volta dele.

A volta demorou, dizem que ela deve ter se cansado de esperar e decidido descer sozinha o instável caminho. Em um trecho bastante exposto, caiu. O companheiro voltou e não a encontrou mais. Desceu até o vilarejo e perguntou, mas ninguém a tinha visto. No dia seguinte, voltou para procurá-la, sem sucesso. Chamaram os bombeiros, que também não a encontraram.

Dois dias depois, uma equipe de busca, entre eles o Vicente, responsável pela parte de montanhismo do Parque Nacional da Serra dos Órgãos, voltou ao local e pouco antes do meio-dia encontraram o corpo de Alda, caído a poucos metros da trilha. Estimaram em uns 30 metros o tamanho da queda. Vicente comentou que preferia escalar o Dedo de Deus a subir aquela trilha. Sem cordas, com o terreno instável, a subida era muito perigosa.

Alda começou a escalar com mais de 50 anos, há cerca de 30 anos, portanto. Se formou guia e tudo. E com 83 anos ainda tinha vigor e energia para andar pelas montanhas. Como ouvi alguém dizer, ao menos ela morreu fazendo o que mais gostava. E nós ficamos com a certeza de que não se deixa o companheiro de montanha sozinho!

A outra história aconteceu com o Alexandre Portela, para mim, o melhor escalador de rocha do Brasil. Há 14 anos, ele conquistou uma big wall na parede da Pedra do Sino e a chamou de Terra de Gigantes. Nunca mais voltou na via nem na parede. Agora, esteve lá com um amigo e ficou impressionado com a mudança que sentiu.

Os equipamentos móveis ficaram melhores e mais eficientes e até a parede parecia menor, segundo ele. A via, graduada em A3+ na época da conquista, teve seu grau diminuído em um ponto, pelo menos, por conta da melhoria nas proteções móveis. O tempo na repetição também foi menor e ele permaneceu cerca de três dias na parede.

Mas, talvez o que mais tenha impressionado, foi a quantidade de furos para cliffs feitos pelos parcos repetidores desta bela via. Eles, há 14 anos, durante a conquista, não precisaram daqueles furos… É de se pensar, não?

Este texto foi escrito por: Helena Artmann