Para Adriana Nascimento a principal lição é a de que treinos corretos são fundamentais (foto: Sérgio Amzalak/Tartatama)
Uma prova para bikers de aço, com desafios constantes, histórias de superação, subidas que parecem não ter fim e descidas surpreendentes. Esses são os ingredientes do Iron Biker, a maior prova de mountain bike da América Latina, e atualmente, uma das mais importantes do mundo .
Este ano, a prova, que foi realizada nos dias 21 e 22 de outubro em Minas Gerais, contou com uma novidade: o percurso foi invertido. A largada aconteceu no BH Shopping, no centro de Belo Horizonte. Os atletas partiram rumo a cidade histórica de Ouro Preto, enfrentando 128 quilômetros de desafios. De 93, quando o Iron foi criado, até ano passado, BH era o ponto de chegada e Ouro Preto o de partida.
Elemento de maior magia para alguns, fator de dificuldades para outros, a mudança não conseguiu tirar do Iron Biker 2000 nem a beleza nem o espírito de aventura e perseverança, que parecem estar na poeira e nas montanhas que os atletas avistam durante a prova.
Participe você também desta aventura, conhecendo as sensações dos atletas, as dificuldades da prova e as belas paisagens encontradas pelos bikers no percurso a partir de agora no Aventura Brasil.
Uma grande festa no centro de Belo Horizonte. A largada do Iron Biker 2000 já mostrava um pouco da emoção desta prova que atraiu mais de 800 atletas de todo o Brasil e outros países como Holanda, Itália e Polônia.
No primeiro dia, mais do que as subidas e os outros bikers, os grandes adversários para os que aceitaram o desafio foram o sol forte e a poeira. Como havia muita gente, a poeira subia e havia trechos em que a gente descia na sorte, porque não dava para ver ninguém conta Adriana Nascimento, que ganhou o Iron Biker em 95,96,97 e 98, além de ter conquistado o vice-campeonato em 2000. Eu senti muito este primeiro trecho e ficou muito difícil alcançar a Jaqueline (Jaqueline Mourão, campeã de 2000).
Em alguns lugares, explica Adriana, competidores caiam um sobre os outros. Os que vinham atrás, como não enxergavam o que estava acontecendo, também acabavam se envolvendo no bolo. A poeira realmente atrapalhou muito. Mesmo assim, Adriana, e muitos outros, optaram por engolir a poeira, enfrentar as subidas, correr o risco das descidas.
A vontade de estar na prova, de competir e, principalmente de vencer, parecem fortalecer os músculos desses atletas. A magia da prova aparece exatamente quando vem dor , o cansaço bate forte e a poeira atrapalha a visão. Apesar de tudo isso, completar bem o primeiro dia de prova não era um objetivo a ser deixado para trás.
Agora ou nunca – Para Abraão Azevedo, campeão de 2000, a primeira etapa da prova foi decisiva, cansativa e emocionate. Eu e o Albert Morgen, meu companheiro de equipe, decidimos forçar o ritmo logo de cara. Sentia que estava me cansando muito, o calor era forte, havia muita poeira..
Mesmo assim, Abraão e Morgen conseguiram seguir no comando da prova até o fim. Pensamos que ou a gente conseguia vencer aquele desafio ou a nossa equipe não venceria a prova nunca, explica. O esforço valeu e Abraão conseguiu chegar na primeira colocação, seguido pelo companheiro de equipe.
Depois, massagens, descanso, boa alimentação, a ansiedade para o segundo dia de Iron Biker.
Um noite de sono, um banho para tirar do corpo toda a poeira do dia anterior, conversas para aliviar a tensão da prova e uma dose de adrenalina. No segundo dia de Iron Biker 2000, todos sabiam, os desafios seriam muitos, apesar de uma quilometragem menor a ser percorrida (50 km, 28 km a menos que o dia anterior).
A grande alegria dos competidores, porém, mais do que o fato da etapa final ser menor, era a chuva que havia caído durante a noite. Ainda bem que choveu porque, assim, a poeira parou de nos castigar tanto e o calor também diminuiu, explica o campeão Abraão Azevedo.
Todos pelo mesmo ideal – Esses fatores fizeram com que o desgaste dos atletas durante o percurso fosse um pouco menor, apesar do acúmulo de cansaço. Com isso, a competitividade também ficou maior. Sem a poeira e o sol forte, todos queriam mostrar trabalho, superar os próprios limites e garantir uma colocação melhor na prova. Muitos ataques, gente saindo do batalhão.
No final da etapa, porém, uma subida íngreme fazia com que o esforço de cada um fosse o fator mais importante, e os que estavam melhor perparados tomaram a dianteira. A superação, o controle e a vontade transformaram-se em elementos ainda mais essenciais. As adversidades não estavam mais nas condições do tempo, na poeira, no calor ou na falta de visão. Estavam dentro de cada atleta.
A subida enganava muito por causa da inclinação. Quando eu avistava o horizonte pensava que ela já estava acabando, mas não, tinha uma continuação. Eu já estava muito desgastado no final do segundo dia e, neste trecho, a sensação era de que aquela subida não tinha fim, conta Abraão Azevedo.
Renato Seabra foi o vencedor da segunda etapa, seguido por Albert Morgen. Abraão Azevedo foi o terceiro na etapa, garantindo a votória geral no Iron 2000. No feminino, Jaqueline Mourão venceu as duas etapas Foi uma emoção muito grande chegar à cidade de Ouro Preto como campeã, afirmou a mineira. Foi uma coisa muito mágica, conta.
A principal novidade do Iron Biker 2000 em relação em relação às outras sete edições da prova foi a inversão do percurso. A prova passou a largar de Belo Horizonte, do BH Shopping e ter como chegada a cidade histórica de Ouro Preto.
Como conseqüência, um número maior de subidas e uma dificuldade considerável, mesmo para atletas experientes na prova. Isso porque, por mais que se conheça um percurso, é muito difícil entender a dinâmica de completá-lo ao contrário.
Para os atletas, a mudança também foi um diferencial. Eu achei muito bom, principalmente por causa da surpresa. Acho gostoso ir para uma prova sem saber exatamente o que vou encontrar pela frente, comenta o campeão Abraão Azevedo.
Dificuldades e magia – Porém, nem todos os atletas sentiram-se felizes com a inversão. Adriana Nascimento, por exemplo, atribui à mudança parte das suas dificuldades. É claro que eu estava com outros problemas, como a falta de ritmo e um treinamento um pouco bagunçado, mas acho que a prova ficou muito mais difícil. Sem dúvida, foi a prova mais difícil que eu já fiz. Adriana é tetra-campeã do Iron Biker (96,96,97 e 98)
Já para a campeão Jaqueline Mourão mais do que dificuldades, a mudança trouxe uma magia especial para a prova. Achei muito mais emocionante a chegada ser em Ouro Preto. Por ser numa cidade histórica, a chegada trouxe uma outra emoção, um arrepio diferente. Todo o esforço vale a pena por esta sensação, conta.
Uma prova como o Iron Biker 2000 é um palco de alegrias, surpresas, lágrimas, suor, garra, decepção, dor, derrotas e vitórias. Tudo isso, mais as belas paisagens, o ar puro e os desafios impostos pela natureza, trazem lições que merecem ser levadas pelos atletas e que podem ajudá-los em outras competições.
A primeira delas: para entrar em uma prova como o Iron, é necessário muito treino. O campeão Abraão Azevedo dá a dica. Acho que para conseguir competir bem é imprescindível uma dedicação muito grande aos treinos. É preciso estar bem fisicamente para agüentar o tranco.
Com certeza, como também estou participando de corridas de aventura, meus treinos para mountain bike ficaram um pouco complicados, e isso foi o que mais pesou na hora da prova. Esta foi a lição que eu tirei: é preciso estar bem preparado, se dedicar bastante quando o objetivo é vencer.
Tranqüilidade: essencial para um bom biker – Outra lição de extrema importância é de que, além do treino físico, é preciso muito preparo psicológico. A tranqüilidade, porém, acaba sendo também conseqüência de um bom treino, que dá mais segurança para os atletas.
Estar tranqüilo também é essencial para perceber o ritmo dos outros atletas e reagir da melhor maneira à ações dos adversários.
A maior lição, porém, é o espírito de equipe, fundamental na maioria das etapas e a capacidade de saber administrar as emoções quando os resultados não são tão favoráveis. Acho que eu aprendi a perder, apesar da cobrança. O mais importante é a experiência que você adquire e tudo que percebe que pode ser melhorado para a próxima, explica Adriana Nascimento.
Este texto foi escrito por: Débora de Cássia Pinto
Last modified: novembro 3, 2000