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Ian Adamson: o monstro das corridas de aventura


Ian Adamson quebrou o próprio recorde de travessia em caiaque por três vezes. (foto: Tony Dizinno)

Ian Adamson é o que pode se chamar de monstro (no bom sentido!). Esse australiano de 40 anos de idade é considerado na atualidade o melhor atleta de corrida de aventura do mundo, por ser bom em todas as modalidades esportivas.

Então, imagine: ele é o melhor quando o assunto é se orientar por mapas topográficos, correr por horas e horas, pedalar sem parar, escalar, passar fome, frio, sentindo muito, muito cansaço, por quilômetros e quilômetros e sem dormir por várias noites, tudo isso junto, de uma só vez. Fácil, não?!

Hiper ativo, Ian é engenheiro mecânico por formação com especialização em medicina esportiva, e além de ser atleta profissional também tem várias outras profissões: é escritor, diretor de prova, produtor de programa de televisão e palestrante. Ao mesmo tempo um homem do mato e do avanço esportivo.

E como se não bastasse, Ian é capitão e navegador da Nike ACG Balance Bar, uma das melhores equipes de corrida de aventura do mundo. Foi três vezes campeão do Eco-Challenge (1996, 2000 e 2001) – a prova de aventura mais difícil do mundo – e em sete participações na competição subiu ao pódio sete vezes.

O último grande feito neste ano foi quebrar o próprio recorde mundial de travessia em caiaque oceânico em 24 horas, remando 424 quilômetros no rio Yukun. Hoje, Ian vive com sua esposa, Carla, em Boulder, no Colorado (EUA) e pretende competir por mais cinco anos… ou até quando estiver vencendo. Confira entrevista exclusiva que fala sobre sua vida pessoal, profissional e sua vitoriosa vida de atleta:

O Atleta

Webventure – Como é seu dia-a-dia?
Ian – Sou um atleta profissional de corrida de aventura e diretor das provas Four Deserts Series (www.racingtheplanet.com) e Outdoor Quest (www.msoq.com), mas também faço palestras e treinamentos sob consulta. Tento treinar de duas a três horas por dia se eu estou em casa, mas eu viajo mais de seis meses por ano dirigindo corridas, competindo e fazendo palestras.

Webventure – Você tem algum ídolo?
Ian – Earnest Shackelton (aventureiro que em 1914 tentou cruzar o continente antártico de ponta a ponta num pequeno barco e teve a embarcação encalhada no gelo, longe da civilização).

Webventure – Quando e como você descobriu as corridas de aventura?
Ian – Uns amigos meus me pediram para ajudá-los na parte de canoagem numa corrida na Austrália, em 1985 a Subaru Winter Classic e eu comecei a competir em seguida.

Webventure – Qual vitória que é mais memorável e por quê?
Ian – Minha mais memorável corrida de aventura não foi uma vitória, mas um 4º lugar conquistado em 1999 no Eco-Challenge, na Argentina. Eu corri com três garotas e chegamos em quarto, embora pudéssemos ter chegamos em primeiro ou segundo.

Webventure – Quais vitórias já conquistou este ano e que outras corridas pretende participar em 2004?
Ian – Consegui bater meu recorde mundial remando por 24 horas num caiaque, atingindo a marca de 424 km no rio Yukon. Minha equipe venceu as corridas Extreme Adventure Hidalgo, Red Bull Divide and Conquer, World Rogaining Championships, e ficamos em segundo lugar na etapa norte-americana do X-Adventure Raid Series. Eu estive presente apenas nessa, do Raid Series. Agora vamos competir no Balance Bar 24 horas, no Adventure Race World Championships, Primal Quest, Raid World Championship e Outdoor Quest (eu sou diretor dessa prova, mas meu time vai corrê-la).

Webventure – Você é considerado o melhor atleta de corrida de aventura do mundo. O que você pensa em relação a isso?
Ian – Corrida de aventura tem mais a ver com time do que individualmente falando. Então eu deveria dizer que sou sortudo por correr no melhor time nos últimos dez anos.

Webventure – Qual a maior dificuldade da corrida?
Ian – Lidar com companheiros ruins no time é parte mais dura da corrida de aventura. Com sorte nós tivemos apenas um que era realmente ruim e felizmente essa pessoa não está mais no time.

Webventure – O que você pensa quando se perde numa prova?
Ian – Bem, eu nunca estive realmente perdido, embora às vezes tomamos decisões menos perfeitas. A situação mais comum é não conseguir achar uma rota tão rápido quanto gostaria, e nesse caso a gente pára e avalia a situação. Normalmente conseguimos nos restabelecer em poucos minutos.

Webventure – Até quando você pensa em competir?
Ian – Eu espero competir até os 45 anos tenho 40 hoje mas isso vai depender se eu estiver ganhando ou não.

Webventure – Qual o segredo do seu sucesso?
Ian – Não existe segredo e eu explico tudo o que sei no meu livro “Runner’s World Guide to Adventure Racing” (Guia para os corredores de aventura). Talvez a coisa mais importante para se tornar um atleta de sucesso é ser bom em todas as modalidades e fazer um bom trabalho com seus companheiros de equipe.

O Profissional

Webventure – No Brasil, o treinamento com base nos esportes outdoor é recente, mas já é uma realidade que movimenta o mercado corporativo. Como é a situação nos EUA?
Ian – O treinamento empresarial nos EUA existe há pelo menos 30 anos, mas a primeira empresa de treinamento corporativo começou em 1996, através da Presidio Adventure Racing Academy, que eu ajudei a começar. O treinamento corporativo aqui movimenta 8 bilhões de dólares por ano.

Webventure – Nos treinamentos, como você incentiva seus clientes a superar os medos e conquistar seus objetivos?
Ian – Eu tive uma empresa de treinamento corporativo com esportes de aventura, mas me desfiz dela em 2001. Agora eu contrato pessoas para treinamentos e dou consultoria. Fazer esporte usando como ferramenta as provas de corrida de aventura resulta em boas lições para as pessoas que trabalham no mundo corporativo. Eu uso os exemplos de como nos comunicamos na corrida, com é o trabalho de equipe e a liderança que é tão importante na corrida. Isso tudo ilustra bem as exposições que dou quando falamos de palestras em empresas ou treinamentos.

Webventure – Sua mulher pratica corrida? Como ela vê sua profissão? Vocês têm tempo para viajar juntos e curtir o relacionamento?
Ian – Minha esposa é venezuelana, mas tem cidadania americana. Ela é enfermeira e não corre, mas gosta de esportes ao ar livre. Nós viajamos juntos oito semanas por ano, quatro semanas de férias e outras quatro quando eu dirijo as corridas Outdoor Quest e Atacama Crossing.

Webventure – Qual a principal diferença para você entre dirigir uma prova e competir?
Ian – Na maioria das vezes, competir é mais fácil que dirigir. Claro, é fisicamente cansativo, mais duro, competir como atleta, mas é mais complicado e estressante ser diretor da corrida. Eu gosto dos dois, especialmente se saio da corrida com mais conhecimento para ser diretor. Eu procuro os dois lados: que o atleta profissional ajude me a ser um diretor de prova e que o diretor me ajude a ser um competidor melhor!

Webventure – Você recebe um salário de seus patrocinadores? No Brasil, temos atletas profissionais de corrida de aventura, mas que ainda não recebem somente para competir e tem de aliar seus trabalhos com os treinos e a capacidade de liderar na modalidade. O que você pensa a respeito disso?
Ian – Olha, a pergunta é boa. Pelo fato de eu ser um atleta profissional, eu tenho meus custos de corrida cobertos e mais uma verba pequena para nós em cada corrida. Uma boa parte do dinheiro que vem de premiação para nós distribuímos entre nós e um plus vai para investimento na equipe. Felizmente isso sempre foi possível. No trabalho com nosso patrocinador, o ACG Nike, recebemos também produtos como tênis, mochilas, roupas e relógios, que estamos sempre usando para exposição da marca e relação delas com nossa equipe, tais como em eventos, palestras e fotos para publicidade.

Há muitas maneiras de os atletas trabalharem bem com seus patrocinadores. Eu acho que no Brasil os corredores poderiam ganhar muito melhor se fossem inteiramente profissionais e bastante criativos e pacientes. Por exemplo, alguns atletas patrocinados nos EUA não têm as melhores performances em prova, mas têm rendas muito boas porque oferecem serviços diferentes a seus patrocinadores, ou seja, atingem o objetivo da marca que é expor com identidade de aventura sem obterem os melhores resultados em competições. Acredito que no Brasil isso também seja possível.

Este texto foi escrito por: Camila Christianini e Cristina Degani