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Ilha do Presídio e seus muitos mistérios


Guarita da Ilha do Presídio. (foto: Arquivo pessoal)

Neste Minha Aventura, o internauta Odilei descreve as memórias guardadas numa ilha do Rio Grande do Sul onde chegou remando.

Ano passado recebi um convite de alguns conhecidos para uma trip até a Ilha que empresta o nome à esta matéria. Conforme havíamos combinado lá estávamos todos no local e no horário marcado. Para mim esta seria a realização de conhecer um lugar que me fascinava há tempos. Muito tinha ouvido falar das histórias daquela ilha, só que dessa vez chegara a hora de conhecê-la pessoalmente.

Chegando a Guaíba fomos direto para a Ghahyba Associação de Canoagem que, com toda boa vontade do mundo, deu todo o apoio possível nos fornecendo os caiaques para esta trip e nos acompanhando nesta remada. Apesar da chuva que caía, terminamos de aprontar os equipamentos e o resto do material necessário e seguimos rio adentro, remando os 2,2 quilômetros que separam a associação do nosso destino, a Ilha das Pedras Brancas, popularmente conhecida como Ilha do Presídio.

Fatos históricos – Esta pequena ilhota é um acidente geográfico com 100 metros de extensão por 60 de largura, localizada entre o bairro de Ipanema, na zona sul da cidade de Porto Alegre e a cidade de Guaíba. A ilha sempre teve muita importância para nós, gaúchos, pois ali se passaram vários fatos históricos. Entre os anos de 1857 e 1869, o governo construiu ali duas casas para servir de depósito de munição, que era monitorado por um tenente imperial. Também por ter sua ótima localização e uma visão privilegiada, servia para monitorar as embarcações que entravam no canal.

Alguns anos depois, o arsenal foi transferido e a ilha caiu no abandono até que, no final dos anos 60, foi transformada num presídio de segurança máxima com o intuito de abrigar presos políticos. Inclusive estiveram presas ali algumas personalidades que depois vieram a se tornar grandes políticos da cena gaúcha. Por estar situada bem no meio do Guaíba, suas fugas tornavam-se coisas quase que impossíveis.

Vários fatos ficaram marcados na história do presídio, como o caso do policial que veio a falecer na própria ilha e acabou sendo enterrado por lá mesmo. Até pouco tempo atrás poderia ainda ser vista no local onde ele foi enterrado uma cruz e alguns dizeres com o seu nome. Há também a história de existir um poço onde dentro eram jogados os presos que morriam na ilha.

“Caso das mãos amarradas” – Um caso que ficou famoso e que ganhou repercussão foi o do preso político e ex-sargento do exército brasileiro Manuel Raymundo Soares. Em 24 de agosto de 1966, o ex-militar, que cumpria pena no local, foi encontrado morto nas águas do rio Guaíba, com as mãos amarradas e sinais evidentes de tortura. O fato, que ficou conhecido como o “Caso das mãos amarradas”, acarretou certa discussão sobre o tratamento dispensado aos presos políticos em solo gaúcho, e resultou na abertura de uma sindicância para apurar a morte do ex-sargento.

A história que ganhou mais repercussão e que certamente ganharia as telas de cinema ou as páginas de um bom livro policial foi a do preso político que, aproveitando uma distração da guarda, atravessou o Guaíba até a praia de Ipanema, em Porto Alegre, dentro de uma panela usada para fazer a alimentação dos presos. E ainda por cima usando uma colher de pau como remo! Este fato serviu para a desativação do presídio, no ano de 1983.

Atualidade – Hoje na ilha ainda existem as ruínas do antigo presídio. O que sobrou ainda de pé foram as estruturas do prédio que abrigava a sala da guarda e o prédio onde ficavam as celas. O piso e o telhado da sala da guarda já foram arrancados pela ação do tempo; as grades das celas também foram corroídas ou destruídas por vândalos; e as guaritas encontram-se parcialmente destruídas.

Ela está sob responsabilidade da secretaria de turismo do estado, mas algumas associações, juntamente com o apoio de grupos escoteiros e voluntários, costumam fazer regularmente projetos de conservação e mutirões de limpeza pra recolher o lixo que vem do Guaíba e se acumula na ilha.

Esta ilha, que representa um enorme valor histórico e cultural para nós gaúchos, não deveria continuar no abandono e entregue à ação do tempo. Deveria receber mais atenção das autoridades gaúchas para talvez ser criado ali um projeto para resgatar o nosso passado e valorizar as pessoas que de um jeito ou de outro sofreram os maus tratos na época de chumbo da ditadura.

Convite – Se você quiser obter maiores informações sobre a ilha ou até mesmo fazer uma visita, entre em contato com o pessoal Guahyba Associação de Canoagem que, com a maior atenção, terão o maior prazer em conversar e lhe mostrar os mistérios desta ilha.

Uma dica: não deixe de conferir os novos talentos-mirins que treinam na Guahyba Associação de Canoagem. Eles treinam por puro amor à camisa e com orçamento totalmente restrito. Com um pequeno incentivo da prefeitura local, conseguem obter excelentes resultados, inclusive obtendo títulos de campeões brasileiros nas suas categorias.

Guahyba Escola de Canoagem
Fone: (51) 9659.7608; (54) 453.2689
E-mail: fecergs@italnet.com.br

Agradeço a todos que participaram desta trip: Ricardo Marquart, Pirata, Jéferson, Prof. e alguns atletas que nos escoltaram na volta.

Este texto foi escrito por: Odilei Medeiro