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Ilha dos Lençóis, destino intocado no Maranhão

Redação Webventure/ Destino Aventura

Ecolodge na Ilha dos Lençóis (foto: Serafín Fernandéz)
Ecolodge na Ilha dos Lençóis (foto: Serafín Fernandéz)

A Ilha dos Lençóis está localizada no Arquipélago de Maiaú, parte do exuberante e pouco visitado Polo Ecoturístico da Floresta dos Guarás, no Maranhão. Apesar do nome e paisagens parecidas, a ilha não está localizada na região dos Lençóis Maranhenses. O turista que optar por incluí-la em seu roteiro terá o privilégio de viajar por áreas remotas do Litoral Ocidental do Estado, fora de qualquer rota turística tradicional e descobrindo uma realidade sociocultural muito diferente da qual possa estar acostumado, mas não por isso menos admirável.

Um dos motivos do lugar ser considerado intocado já foi eleito pela Revista Caminhos da Terra como um dos 100 lugares mais remotos do planeta é a dificuldade de acesso. O itinerário começa com uma travessia de 22 km na Baía de São Marcos desde o terminal da Ponta da Espera na Ilha de São Luís, até o terminal do Cujupe, município de Alcântara, no continente.

Uma vez no continente, de Cujupe até a cidade de Apicum-Açu são mais 270 quilômetros de estradas com alguns trechos precários de piçarra e areia, para depois encarar uma nova travessia marítima de 50 quilômetros em barco de madeira típico regional (com motor e vela), pela Baía dos Lençóis e canais do arquipélago. Tudo para alcançar praias desertas, campos de dunas com até 35 metros de altura e trilhas selvagens em meio ao manguezal. A variação de maré na região, que chega aos cinco metros, pode causar atrasos na travessia, de até um dia.

O roteiro é indicado para quem curte um ambiente rústico, simples e aconchegante, não prioriza o conforto convencional, gosta de desfrutar verdadeiros momentos de tranquilidade aliados à cordialidade e bom atendimento e não recusa uma deliciosa culinária a base de frutos do mar (peixe, camarão, caranguejo, sururu) e nem de um bom repouso, numa preguiçosa rede embalada pela refrescante brisa vinda do mar. A Ilha dos Lençóis é uma das últimas fronteiras descobertas pelo turismo de aventura.

Santuário Socioambiental – A Ilha é um santuário ambiental único no Planeta. Reúne no mesmo espaço e ao mesmo tempo cenários bucólicos extraordinários como o da imensidão do seu campo de dunas que se mistura harmoniosamente com o emaranhado de raízes aéreas do Mangue Vermelho (Rhizophora mangle), flora reinante na região com seus robustos troncos de mais de 20 m de altura. Reúne também uma avifauna exuberante onde milhares de pássaros Guarás (Eudocimus ruber), parecem incendiar a floresta de mangue com sua plumagem de vermelho intenso, além de ser um formidável berçário da vida marinha que por ali existe.

Por se tratar de uma área que apresenta uma grande diversidade de ambientes flúvio-marinhos caracterizada pela alta produtividade primária (pesca) e do seu inestimável valor paisagístico, foi criada em 2 de julho de 2004 a Reserva Extrativista Marinha de Cururupu (46.385,00 ha). Considerada vital para a proteção da costa e da vida marinha ali existente, onde diversas espécies de peixes (Bonito Listrado, Badejo, Anchova, Corvina, Piau, e Cações), Boto cinza, Peixe-Boi Marinho, Quelônios, Crustáceos, Moluscos e aves costeiras (Guará, Garça branca e Jaçanã) se alimentam e reproduzem.

A região onde esta inserida a RESEX é uma zona costeira irregular com muitas ilhas, estuários, dunas e praias cobertas por grandes extensões de mangue. Pela sua importância na preservação destas espécies foi designada em 30 de novembro de 1993 como Sítio RAMSAR (2.680.911 há).

Além da exuberância natural, a Ilha dos Lençóis também adota como sua uma das mais extraordinárias lendas épicas da língua portuguesa, a lenda do Rei Don Sebastião. O Rei, que no verão de 1578 foi a lutar contra os Mouros na batalha de Alcácer-Quibir no campo dos Três Reis em Marrocos, ao norte da África, nuca mais voltou para sua terra natal. Desta batalha resultou a humilhante derrota dos portugueses, imposta pelo sultão Ahmed Mohamed de Fez, quando perderam uma boa parte do seu exército assim com o desaparecimento do próprio D’el Rei D. Sebastião, precipitando desta forma à crise dinástica de 1580 e o nascimento do mito do Sebastianismo.

Desde o desaparecimento D’el Rei D. Sebastião, o povo português esperava o regresso do seu monarca que nunca chegou já que o seu navio, se conta, nunca encontrou a rota de volta para Portugal, tendo se perdido e vindo parar na costa do Maranhão. Por ser uma costa de relevantes acidentes geográficos, seu navio foi a pique. Afirma-se também que as dunas de areia da Ilha dos Lençóis têm semelhanças com o campo de Alcácer-Quibir, onde o D’el Rei Dom Sebastião desapareceu.

A Ilha há tempos é considerada encantada por servir de morada a Dom Sebastião e seu reino está oculto no fundo do mar, próximo àquela ilha e o Rei vive em seu palácio de cristal submerso. Dizem que nas noites de lua cheia Dom Sebastião aparece na praia na forma de um grande touro negro com uma reluzente estrela de prata na testa, diz também a lenda, que os nativos albinos da vila de pescadores são os descendentes de Dom Sebastião.

Ilha dos Albinos – Como Santuário Social a Ilha tem uma vila de pescadores de aproximadamente 350 habitantes isolada do resto do mundo e que ainda hoje resistem à globalização mantendo viva a tradição da pesca artesanal e do Tambor de Mina, considerada também um caso único na área da Genética pelo fato da comunidade ter parte seus habitantes sui-generis, eles são Albinos Brancos.

O alto índice de albinismo chamou a atenção de pesquisadores da área médica, sendo 1972- considerado o lugar de maior índice de pessoas Albinas do Planeta e a explicação científica sobre a incidência local foi dada por uma junta de médicos (Oftalmologista, Dermatologista, Cardiologista e especialista em Genética Celular) interessada em estudar esta anomalia genética numa amostragem isolada. Esta expedição foi liderada pelo renomado Médico Geneticista e Professor da UFPR Newton Freire-Maia (1918 – 2003).

Por todo mais, se me permitir, a Ilha também é um bálsamo do tempo e do espaço para quem quer fugir do stress da vida globalizada de hoje em dia. Só existe um telefone comunitário (orelhão) que normalmente passa semanas e até meses fora de operação além de que o sinal de telefonia móvel pelo que tudo indica ainda demorará bastante em chegar.

Talvez seja o orgulho de chegar aonde quase ninguém tenha chegado ou, talvez, seja o desejo de desvendar belezas que a natureza tenha escondido com mais capricho, estes já seriam bons motivos para a visita. Mas ao que tudo parece nada é tão forte quanto o desejo de desbravar os extremos do mundo, desafiando os limites do próprio corpo e vencendo uma longa e difícil viagem, superando as restrições, esquecendo o cansaço e a dureza da jornada, para ter como recompensa poder colocar os pés onde poucos mortais se arriscaram a caminhar.

Fontes de pesquisa:
Newton Freire Maia – Índice do site de genealogia da família Freire/Os Imortais/Newton Freire Maia

Eleidi Alice Chautard Freire-Maia – Bacharel e Licenciada em História Natural, pela Univ. Fed. do Paraná, em 1965.Doutora em Ciências, na área da Genética, pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em 1974.

Mundicarno Ferretti: “Baixou na Guma”

Reginaldo Prandi: “Nas Pegadas dos voduns”

Sérgio Ferretti: “Dom Sebastião, o Santo e o Rei na Encantaria e no Folclore Maranhense”

Este texto foi escrito por: Serafín Fernández Layola

Last modified: maio 3, 2011

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