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Interditar o acesso é a única alternativa?


Quando dizemos preservação sabemos que isso só ocorrerá se investirmos pesado não em cadeados mas em infra-estrutura educação e fiscalização. (foto: Gustavo Mansur)

Em nova coluna, a alpinista Helena Coelho comenta interdições em parques como o Itatiaia e o Petar.

Não posso deixar de comentar. Tive a oportunidade de ler recentemente duas cartas. Uma, do sr. Chefe do Parque Nacional do Itatiaia (PNI), que comparava o Sérgio Beck, conhecido montanhista e editor da revista Aventura Já, aos palmiteiros, incendiários, etc. Isso porque ele foi pego por fiscais fazendo uma trilha proibida na área do parque e obrigado a pagar uma multa; orgulhoso, o Chefe informou ainda que o montanhista fora pego por apenas um dos quatro funcionários que fazem essa fiscalização.

E a outra carta é a de uma pessoa referindo-se ao acidente com duas mortes ocorrido no Carnaval deste ano na caverna Casa de Pedra, do Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira (Petar). Nessa carta, uma mãe reclamava do parque ser denominado Parque Turístico e não haver nenhum guarda florestal, nem placas com sinalizações, nem monitoramento pelo pessoal do parque… ou seja, questionava sobre a estrutura oferecida, além do tradicional de apenas exigir a presença de um guia geralmente local.

O administrador do Petar, após o referido acidente, “procedeu a interdição da caverna, sinalizando com placas informativas o grau de dificuldade, distância e o tempo aproximado para o percurso, pois na Casa de Pedra está sendo autorizada somente a caminhada na trilha, visita ao Portal e retorno pela mesma trilha, sem adentrar a caverna”. Além de dizer que estarão sendo mais cuidadosos no credenciamento de monitores.

Não é novidade – Já o Chefe do PNI afirmava que está absolutamente proibido acessar aquela trilha Rebouças-Maromba, fechada há nove anos devido a estragos ambientais causados pelo ser humano; avisava ainda que parte dessa trilha, assim como o Abrigo Rebouças, será recuperada ainda neste ano, para os observadores de pássaros e pesquisadores.

Ora, assim não é possível. Primeiro: para estudos, pesquisas, a meu ver, nenhuma área deveria ser fechada. Portanto, aí nada de novo. Novidade seria se essa trilha proibida há nove anos, já tivesse sido recuperada muito antes e aberta à visitação de alguma forma. Novidade seria se o efetivo de funcionários do parque para a fiscalização tivesse sido aumentado e investido na qualidade, colocando inclusive esses antigos funcionários – os únicos quatro – para mostrar aos mais jovens as várias trilhas e o que poderia ser feito em caso de abusos ou acidentes.

Segundo: as duas situações remetem ao absurdo de ver os parques fechados, trilhas proibidas. Se as pessoas não são educadas, então, de castigo, não poderão mais acessar os Parques. Parece que os administradores só sabem dizer: aconteceu problema, interditem, proíbam! Herança nada boa de tempos recentes da história de quando acharam que o povo estava abusando, fecharam as portas da democracia.Se assim é, deveriam fechar as rodovias também, pois, lá ocorrem abusos e acidentes e acidentes…

Terceiro: nesses referidos parques, há sim atividades esportivas que envolvem riscos. O que poderia ser feito para minimizar e dar suporte em caso de acidentes? Ações que envolvessem orientação, fiscalização e, ao lado disso, o provimento dos parques de estrutura que possibilitasse o socorro em caso de acidentes.

Se o Sérgio Beck estava numa trilha e foi pego, é porque a trilha está fechada há 9 anos e se não houver o grito e a ação de muita gente, daqueles que curtem a natureza como ele também, esses locais, se depender dos administradores, permanecerão fechados ao público em geral.

Quando dizemos que queremos a natureza preservada é para que as gerações atuais e não só as futuras possam desfrutar desses santuários ecológicos e não para que fiquem numa redoma para que sejam vistos apenas como peça de museu. Quando dizemos preservação, sabemos que isso só ocorrerá se investirmos pesado não em cadeados, mas em infra-estrutura, educação e fiscalização.

Este texto foi escrito por: Helena Coelho