Frustração consciente. Esta é a expressão que parece melhor definir o que sentem as integrantes da Canoar Irazul. Tricampeã brasileira e pioneira no rafting feminino, a equipe não irá participar do Campeonato Brasileiro esse ano. O evento começa amanhã, na cidade de Piraju (SP), e contará com cobertura da Webventure.
Os principais motivos citados pelas integrantes mostram bem como a falta de recursos e incentivos podem atrapalhar a carreira dos atletas no Brasil. Ter de dividir o rafting, modalidade ainda não profissional no país, com trabalho e família fez com que as atletas passassem a encontrar cada vez mais dificuldades para seguir a rotina de treinos.
Sem condições de mostrar todas as suas possibilidades, as integrantes decidiram não participar desse Brasileiro. Elas são as atuais campeãs brasileiras e ficaram em terceiro lugar no Campeonato Paulista deste ano, disputado na cidade de Brotas, nos dias 20 e 21 de maio.
Falta de apoio – “A dificuldade em conseguir apoio e patrocinadores faz com que você acabe praticando o esporte por prazer, como uma atividade física, não como uma profissão”, afirma Roberta Borsari, uma das integrantes da equipe.
Ainda segundo Roberta, o fato de as integrantes trabalharem o dia todo e, em alguns casos, ainda estudarem a noite, acabou prejudicando sensivelmente os treinos. Como isso, os horários em que era possível juntar todas as atletas da equipe se tornaram escassos.
“O rafting é um esporte onde o conjunto é muito importante. É impossível treinar satisfatoriamente se faltar uma garota. Isso dificulta porque todas nós acabamos tendo os nossos problemas, com trabalho, filhos. Manter a equipe treinando se transforma em algo realmente complicado”.
Outra integrante da equipe, Alessandra Araújo, diz se sentir frustrada por não participar do Brasileiro, mas consciente da importância deste processo para a sua equipe. “Sei que voltaremos a competir, mas é necessária uma reestruturação. Participar de campeonatos de rafting é uma coisa que nos dá muita satisfação”, afirma.
Ver o rafting crescendo, principalmente na categoria feminino é uma das grandes alegrias das meninas da Irazul, que de fato esperam poder voltar a competir em breve. A saída de Néia, líder da equipe antes do último Paulista, já mostrava, segundo as integrantes, a necessidade de mudanças na estrutura da equipe.
Agora elas ficarão paradas, apenas aguardando para voltarem aos treinos e competições. “Voltaremos num outro pique, quem sabe com outras pessoas”, explica Roberta.
Pioneiras – A Canoar Irazul foi a primeira equipe de rafting feminino a surgir no Brasil. “Quando a gente começou, esta categoria não existia. Não havia nem garotas para competir com a gente”, brinca Alessandra Araújo.
A equipe surgiu há aproximadamente 5 anos e, desde o início, teve o intuito de mostrar as possibilidades das mulheres nos esportes radicais e a força da amizade dentro das práticas esportivas.”Fazem parte do espírito da nossa equipe a amizade e a união. É por isso que tenho certeza que a Irazul não acabou”, afirma Roberta.
Mal entendido – No último Paulista, as meninas da Irazul não subiram ao pódio para receber a premiação pelo terceiro lugar. Por causa disso, muitos foram os boatos de que elas haviam ficado irritadas com a classificação.
Segundo Renata Borsari, tudo não passou de um grande mal entendido. “Achamos que todas as premiações haviam acabado e fomos embora. De maneira alguma a gente iria desmerecer as outras equipes e não subir no pódio por causa da colocação. Nenhum atleta do rafting seria arrogante a esse ponto”, afirma.
Este texto foi escrito por: Débora de Cássia
Last modified: junho 15, 2000