Jaqueline Mourão é a única representante brasileira no mountain bike nas Olimpíadas de Atenas. (foto: Divulgação)
Jaqueline Mourão será a única representante do mountain bike feminino brasileiro nas Olimpíadas de Atenas. A mineira de 27 anos conquistou uma vaga para o Brasil após ficar em 8º lugar no mundial de mountain bike disputado na Suíça, no ano passado e será, assim, a primeira atleta brasileira da modalidade na história da competição.
Em 2001, Jaque, como é conhecida, recebeu a proposta da UCI (União Internacional de Ciclismo) para viver na Europa como atleta. Hoje treino muito pesado e sofro sozinha no exterior, diz. Foram três anos de intenso treinamento para conquistar a vaga para a competição dos sonhos de qualquer atleta.
Vivendo na Europa, ela aprendeu duas novas línguas (inglês e francês) e se formou treinadora de ciclismo pelo Centro de Ciclismo Mundial. Para 2004, a empresa Red Bull ofereceu a ela a estrutura do Centro Internacional Red Bull de Treinamento Esportivo, situado próximo a Salzburg (Áustria), para a preparação final para as Olimpíadas de Atenas, na Grécia.
Confira entrevista exclusiva com Jaqueline Mourão e torça para essa mineira que sempre pedalou por uma vaga para o Brasil:
Webventure – Como está sendo sua preparação para as Olimpíadas?
Jaqueline – Eu estou 100% focada nas Olimpíadas. Meu treinador é o canadense Less Parson, meu psicólogo é Dietmar Samulski, e meu nutricionista é Fabiano Kenji. Embarquei para a Áustria dias antes do natal para testes físicos e psicológicos e comecei os treinamentos ainda em dezembro, no Brasil. Em março voltei para a Áustria, pela segunda vez, iniciando um trabalho priorizando a base aeróbia, com muito treino indoor, com controle dos parâmetros fisiológicos muito detalhados.
Webventure – Onde está treinando e como é seu ritmo de treinamento?
Jaqueline – Em maio me mudei para o Canadá (Centro de Treinamento de Bromont), iniciando a segunda fase da preparação mais voltada para qualidades físicas específicas do MTB com intervalados e sprints para atingir o meu pico máximo de performance no dia 27 de Agosto, dia da competição. Participei de várias provas regionais aqui no Canadá (Quebec), de duas etapas da Copa do Mundo e da segunda etapa do World Marathon Series, todas as provas sendo vistas como treinamento e aprendi muito com este tipo de enfoque. Conseguimos detectar vários pontos que deveriam estar sendo melhorados e conseguimos também acertar a bike para Atenas.
Webventure Quando embarca para Atenas?
Jaqueline – Embarco oficialmente para Atenas no dia 19 de agosto. Este ano nós optamos por fazer uma boa preparação focada nas Olimpíadas optando por um só pico de performance no macro-ciclo da periodização. O resultado final veremos nas Olimpíadas.
Webventure – Você teve de abrir mão de muitas coisas e sair do Brasil em 2001 para treinar e crescer na carreira. Quais são as maiores dificuldades de se viver como profissional no esporte?
Jaqueline – Eu tenho vivido no exterior desde 2001 e, com certeza, o alto nível de competitividade nas provas, a estrutura e a qualidade no treinamento, oferecidos pelos Centros de Treinamento nos quais estive, fazem a diferença. Eu percorri um caminho bastante difícil, desde 2002, em busca desta vaga Olímpica. O ano passado, por ter sido o ano classificatório exigiu muito de mim. É muito difícil estar longe da minha família por tanto tempo. Esta é a maior dificuldade.
Webventure – Como os patrocinadores te apóiam?
Jaqueline – As empresas que me patrocinam -Fiat, RedBull, Scott, Exceed e KrugBier – estão comigo há três anos e começaram a me incentivar quando eu ainda era a 83ª no ranking. Elas acreditaram no meu talento e me deram a oportunidade de crescer. Sem elas eu não teria conseguido atingir este objetivo.
Webventure – Quais são suas principais adversárias na prova?
Jaqueline – Todas as atletas que estarão competindo nas Olimpíadas são Top atletas do Ranking internacional. O critério de classificação foi muito exigente e com certeza o nível será bem alto. Minhas principais adversárias são Gunn Rita Dale (Noruega), Sabine Spitz (Alemanha) e Irina Kalentieva (Russia).
Webventure – Você conquistou o 8º lugar na seletiva para as Olimpíadas. Qual a sua expectativa em Atenas?
Jaqueline – Claro que sonho com uma medalha, mas prefiro dizer que vou fazer o meu melhor e se o resultado vier ótimo, se não, tenho a certeza que fiz o meu máximo. Serão somente 30 participantes e todas têm chance de conseguir um bom resultado. Quero vivenciar esta experiência única, realizar este sonho de participar de uma Olimpíada, representar bem meu país e continuar o meu trabalho.
Espero fazer a competição da minha vida. É um sonho poder estar nas Olimpíadas e lutei demais para estar lá, pois foram três anos da minha vida simplesmente focados em performance para a classificação. Será um grupo seleto de atletas que irão com certeza dar o máximo pelo primeiro lugar. Favorita eu não sou, mas vou dar o meu melhor.
Webventure – Como será a competição em Atenas?
Jaqueline – A prova consiste em cinco voltas em um circuito de 6km de extensão (mais alguns metros de volta de largada “start loop”) com basicamente duas subidas longas e com freqüentes mudanças de ritmo (como curvas fechadas para diminuir a velocidade nas descidas e aceleração novamente). O circuito tem algumas partes de bicicross com alguns pulos.
Webventure – Esse tipo de prova te ajuda?
Jaqueline – O terreno é muito parecido com algumas partes onde treino em Belo Horizonte e duro com pequenas pedras soltas, o que o torna bem técnico, escorregadio e rápido, com mudança de velocidade o tempo todo. Eu adorei o circuito e vou estar competindo em casa em agosto. O calor também poderá me ajudar uma vez que, durante o treino, as européias estavam sentindo demais o percurso devido a temperatura e eu adorando.
Webventure – Como se sente sendo a única representante brasileira no mountain bike em Atenas?
Jaqueline – Sinto muito a não classificação do MTB masculino, pois com certeza temos nível para estarmos com um representante, mas tivemos azar na classificatória do Pan-americano na Colômbia no ano passado. (Até o dia 17 de agosto o biker brasileiro Edvando Souza Cruz não havia conseguido a vaga para as Olimpíadas).
Eu tenho trabalhado bastante pelo mountain bike brasileiro e será a primeira vez que o MTB feminino brasileiro terá uma representante. Eu me orgulho muito de ter conseguido esta vaga inédita para o Brasil. Eu aprendi muito nestes anos de experiência internacional e posso dizer que não foi fácil. Tive que ser a mecânica, psicóloga, treinadora, atleta, tudo ao mesmo tempo. Todo início é assim e hoje consigo me virar com mais facilidade.
Webventure – Você se sente realizada profissionalmente?
Jaqueline – Eu lutei muito para alcançar os resultados que obtive e acho que me sinto realizada por poder favorecer o crescimento deste esporte no Brasil. Estou realizada pessoalmente e profissionalmente. Lutar por objetivos e conquistá-los mesmo que pareçam no início muito difíceis de serem alcançados e receber carinho e reconhecimento das pessoas é fantástico. Eu gosto de poder ser uma referência para as meninas que estão começando e é sempre muito gratificante quando uma se aproxima e fala: quero ser igual a você e obrigada por ter aberto as portas para nós. Isso é demais!
Webventure – Deixe um recado para a torcida brasileira:
Jaqueline – Acredite nos seus sonhos e lute por eles, com humildade para aprender, com paciência, perseverança e honestidade, sempre!
Este texto foi escrito por: Camila Christianini