João Roberto Gaiotto fala sobre o mundo das expedições

Com tudo pronto pé na estrada. (foto: João roberto Gaiotto)

É interessante que nosso universo off-road batiza qualquer viagem mais longa de expedição. Mas na verdade é a pura vontade que temos de se afastar de nosso dia-a-dia e mergulhar em uma viagem para lugares remotos e distantes de qualquer coisa que lembre uma cidade, ruas asfaltadas e o stress do cotidiano. Se a gente consegue isso, então estamos fazendo uma expedição.

Entretanto, tomo a liberdade de dividir as viagens de aventuras com 4×4 em três categorias. Primeiro as viagens curtas, realizadas em finais de semana, feriados ou com tempo de até 5 dias. Sempre feitas em lugares de até 200 Km de distância da residência do grupo. Em segundo temos as viagens longas, com duração entre 6 e 10 dias, para lugares até 2.500 Km distantes da residência. E finalmente as expedições, realizadas a partir de 11 dias, distantes o quanto o grupo puder e precisar se afastar da cidade natal. Em regiões onde há pouca ou nenhuma estrutura de apoio, com equipamentos e suporte para qualquer tipo de situação, quer seja mecânica ou médica. Vamos nos fixar nesta última categoria.

Uma verdadeira expedição – Uma expedição de verdade precisa de um objetivo claro, quer seja apenas turístico, esportivo ou científico. Em uma expedição turística o grupo vai conhecer novos lugares e explorar os desafios que a região oferece. Em uma empreitada esportiva, o grupo busca a prática de algum esporte outdoor na região, e para isso usa invariavelmente o deslocamento com veículos 4×4. E em uma expedição científica, os pesquisadores partem para a pesquisa em campo, em busca de assuntos que não caberiam neste espaço de texto. Todos precisam de algo fundamental para que o projeto seja um sucesso: estudo prévio do que se pretende, meios para fazê-lo e logística.

Para que tudo saia como desejado e que a viagem termine com êxito, o grupo deve ter grande entrosamento, pois pessoas incompatíveis não ficam juntas por muito tempo. Escolha seus parceiros e procure conhecê-los antes da partida. Em situações de stress, cada um vai se mostrar como realmente é, e aquela pessoa simpática pode ficar tensa e difícil de conviver quando as situações corriqueiras de uma expedição de verdade começam a aparecer. O cansaço, a saudade de casa, a falta de banho, conforto, boa comida, vai minando aos poucos aqueles mais inexperientes.

Necessidades – Outro aspecto a ser levado em conta é como tudo será feito e com o quê. Ter apenas um ou dois veículos 4×4 não é o suficiente. É preciso que eles estejam em ordem, com manutenção em dia. Peças com final de vida útil vão quebrar exatamente onde você menos espera, e em momento mais inoportuno possível. Solicite uma revisão completa antes de por o pé, perdão, os pneus, na estrada. Peças de reposição devem ser escolhidas de acordo com o que manda o manual do veículo, e melhor que isso, seguindo dicas de quem já viajou com um veículo semelhante ao seu.

Pesquise o que pode dar mais problema e leve peças sobressalentes. É interessante que alguém do grupo tenha noção de mecânica, o que pode ser imprescindível se algo der errado com um dos veículos no meio do Pantanal do Mato Grosso ou nas areias do Saara. Aprenda um pouco de mecânica para se virar quando a coisa ficar preta!

Estude também o tipo de terreno que vai enfrentar e escolha pneus e acessórios adequados. Muita gente coloca vistosos pneus para uso em lama, que de nada servem se a viagem for para regiões onde predomina a areia, como nosso imenso litoral ou desertos de areia. Compre somente o que pode precisar, o espaço no veículo é escasso e você vai necessitar de cada milímetro quadrado para guardar alguma coisa.

Preparo – Calcule a distância a ser percorrida longe de postos de abastecimento e preveja galões de reserva. No Jalapão nosso ainda badalado deserto brasileiro, postos de combustíveis ficam distantes e é aconselhável levar combustível reserva.

Também é prudente conhecer bem a região a ser visitada, porque não há nada mais frustrante que passar reto por uma atração imperdível, e ficar sabendo dela quando estiver mostrando fotos e vídeo aos amigos em casa. Estude a região, compre mapas e domine um pouco do idioma do país que pretende visitar. Contrate guias quando tiver insegurança sobre alguma região mais crítica. Evite áreas de conflitos ou com epidemias. E falando em saúde, é sempre bom lembrar que um estojo de primeiros socorros é fundamental. Não se esquecendo também de levar seus medicamentos pessoais. Não se encontram farmácias com facilidade longe de cidades.

Comunicação – A comunicação precisa ser levada em conta, pois semanas longe de casa e em regiões distantes dificultam o contato. Estude a possibilidade de levar equipamentos de rádio-comunicação, quer sejam para radioamador, faixa do cidadão ou via satélite. Assim em caso de alguma emergência, existe um meio para pedir auxilio, ou avisar que vai atrasar a volta em alguns dias.

João Roberto Gaiotto, consultor off-road do Webventure, técnico em Telecom e off-roader. Autor do livro “TÉCNICA 4X4 Guia de Condução Fora de Estrada”. Ministra cursos de condução 4×4 para a rede Dpaschoal/Goodyear e na PUC-PR. Site