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JuanJo e Diego aguardam a chance de destaque mundial

JuanJo fala da frustração por ganhar a Copa do Mundo…

… e conta por que ‘gostou’ de perder ontem

Diego fala das dificuldades de ser escalador na Argentina

Eles roubaram a cena em pleno Rio, dando show de escalada na final da Copa Sul-americana, evento que encerrou ontem o Rope Show. Rivais há pelo menos cinco anos, o chileno Juan Jose Fernandez e o argentino Diego Marsellas não se gabam: garantem que o nível é muito parelho entre brasileiros e alguns expoentes estrangeiros. E revelam que também sofrem para seguir no esporte, principalmente para alcançar o grande objetivo: arrebatar títulos mundiais.

“Eu tinha uma meta: ser campeão nacional. Depois, ser campeão pan-americano”, conta Juan, que já arrebatou o título do Pan quatro vezes. “Agora quero ser campeão mundial, mas não tenho dinheiro para treinar só para isso e competir mais lá fora. Isso me deixa um pouco frustrado.” O desabafo em bom ‘portunhol’ surpreende quem conhece só a face de melhor escalador da América do Sul, creditada ao chileno há alguns anos. JuanJo tem uma série de patrocinadores, mas recebe apenas equipamento. “Eu recebia uma quantia em dinheiro de uma universidade, mas agora isso acabou.”

Como quase todo atleta, ele trabalha para garantir o sustento. Possui em Santiago, capital do Chile, a ‘Climbing Planet’, maior academia de escalada da América Latina ao lado da brasileira Casa de Pedra. Ensinando outros escaladores, diz ter aprendido a curtir um outro lado
competição nesse intervalo entre a consagração em seu continente e o desejo de ser um astro internacional. “Já não gosto tanto de competir. Antes tinha essa motivação de ganhar, mas agora desfruto de outras coisas, como o ambiente e ver tanta gente nova com vontade.”

“Gosto de perder” – Já que ganhar um Sul-americano não atrai mais como antigamente, Juan tenta convencer de que encontra graça também em perder. “Eu gosto de perder, isso aumenta a motivação”, afirma. “De mais a mais a escalada é um esporte em que hoje você fica em décimo e amanhã pode acabar em segundo. O Diego, que ganhou hoje (ontem), não ficava entre os três melhores alguns anos atrás”, conta.

As inúmeras vezes em que se cruzam em campeonatos pelo mundo fez crescer a amizade entre JuanJo e Diego, paralelamente ao duelo no muro. “Mas eu não o considero o meu principal rival. Todos o são”, diz o argentino.”

Diego também reclama da falta de apoio, revelando que em seu país a modalidade não é tão bem aceita por empresários e o próprio governo. “Agora a Secretaria de Esportes está reconhecendo a federação de montanhismo como entidade esportiva, mas está claro que não há possibilidade de patrocínio. Há cinco anos a gente paga nossas passagens para viajar e competir,” conta. “O que eu acho positivo é que esteja havendo mais comunicação entre os países para realizar campeonatos com atletas de diversas nacionalidades. Se não crescermos juntos nunca vamos chegar a ficar entre os melhores do mundo.”

Se ontem o Brasil apresentou poucos atletas que chegaram aos movimentos finais da via decisiva, como conseguiram Juan e Diego, foi apenas uma fatalidade. Para a dupla, o nível entre eles e os brasileiros é semelhante. “Vocês têm a vantagem de ter muito mais potencial pelo tamanho do país”, destaca JuanJo. “E pela regularidade na qualidade dos atletas”, acrescenta Diego, que não quer nem ouvir falar na rivalidade Brasil x Argentina se estender do futebol para a escalada. “Graças a Deus, não bato bola desde os cinco anos de idade.”

Este texto foi escrito por: Luciana de Oliveira