Bakel (Senegal) Juca Bala está contando os minutos e os quilômetros e não vê a hora de ser anunciado o fim do Rally Paris-Dakar neste ano. O piloto, como a maioria dos “sobreviventes” que ainda continuam na competição, está esgotado, estressado e com o corpo todo dolorido.
Mas até aí, tudo faz parte do show. O que interessa mesmo ao brasileiro é manter a liderança na classificação geral da categoria motos até 400 cilindradas, conseguir terminar a prova inteiro e conquistar o lugar mais alto no pódio, façanha que vem tentando nos últimos dois anos.
“Todo dia quando acordo, olho para o calendário no relógio e fico feliz em saber que falta menos um dia para terminar o rali”, conta Juca Bala. “Quando estou correndo, também conto os quilômetros. Se a especial tem 500, comemoro quando termino os primeiros 50. Sei que já percorri 10%. Depois, 20%… E assim vou até o final do trecho”.
A melhor parte do dia para Juca Bala é quando ele chega ao acampamento e vê o mecânico Luiz Azevedo, que viaja no caminhão de assistência da equipe BR Lubrax. “Dá uma alegria imensa encontrar o Luizão no final da tarde e ter com quem conversar. Afinal, passo até 12 horas em cima da moto, sozinho, pilotando e navegando, o que exige tremenda concentração”.
A rotina de Juca Bala está sendo de um super-herói. O Rally Paris-Dakar desgasta e exige muito dos pilotos, principalmente dos de moto. Na etapa desta quinta-feira, por exemplo, Juca largou do acampamento às 4h30 (2h30 da madrugada horário de Brasília) e rodou 202 quilômetros, no escuro e na poeira, até o início da especial. Depois, mais 370 cronometrados e outros 232 de deslocamento até chegar a Bakel, num total de 804 quilômetros num só dia. Ele levou mais de 11 horas para percorrer todo o trajeto.
“Estou no limite. A gente dorme pouco e mal, todas as noites. Durante a madrugada, o barulho não pára no acampamento. Os pilotos dos aviões ligam as turbinas várias vezes e os mecânicos ficam testando carros e motos. É ensurdecedor. Sem contar que dormimos em barraca e, às vezes, ao relento apenas com o saco de dormir, como na etapa de ontem”, conta Juca Bala.
Mas os pilotos têm outras tarefas além de enfrentar poeira, pedras e buracos nas trilhas africanas. Para dificultar ainda mais a vida dos concorrentes, e tornar a edição de 2001 uma das mais difíceis da história, a organização do rali restringiu o trabalho de mecânicos. Na etapa de ontem, no acampamento de Bamako, no Mali, foi proibida a presença da assistência. Resumindo: os próprios competidores tiveram que fazer a manutenção nos veículos. “Ainda bem que não tenho que passar por esse sacrifício. Minha moto Honda Falcon Rally está se comportando bem e estou livre deste trabalho”.
Este texto foi escrito por: Ricardo Ribeiro